Monday, October 29, 2012

Contestação


Nasceu com uma fixa ideia presa ao peito, demorou incontáveis minutos a conseguir formalizá-la e outros tantos a compreende-la. E pegou no mundo enquanto o percorria pelos dedos e perguntou : de onde vem o homem decente, o homem iluminado, o homem com olhar focado nessa coisa estranha que é a  noção de existência?  Em tanto sitio que deixou esta pergunta gravada nas calçadas e a resposta foi sempre igual. Ninguem se importava de onde vinha o Génio. Uns disseram-lhe que era biológico, hereditário, outros que era contextual, social, vinha conforme a interacção com o mundo; havia ainda aqueles que diziam que não existe isso de Génio, toda a sociedade era uma construção, todos eram génios. Mas ele continuava a perguntar : de onde vem o Homem, o que tem  a concepção dos outros, o que tem uma diferente e importante perspectiva? De onde vem aquele que faz a diferença? Mas ninguem se importava com a pergunta dele, havia uma pesada quantidade de teorias que justificavam tudo menos essa pergunta, de onde vem, não de onde veem as caracteristicas que o distinguem.
Com o passar do tempo, olhou o mundo circundante e deparou-se com esse homem bom, decente, tao humano quanto a humana mortalidade que o torna tão débil , viu-se ao espelho. Perguntou-se de onde vinha. Respondeu a si próprio : de lado nenhum porque podia ter vindo de qualquer lado. Por isso é que era tão raro.

Friday, July 27, 2012

Crescer sem nunca ser adulto


Quando o espirito começa a ter consciência de que é jovem, a sombra que marca a tua presença na rua é limpida, escorre pela calçada. Porque em tantas opções terás de escolher uma, nem que experimentes esse obliquo trilho de escolher opção nenhuma, escolheste uma das opções.
Mas, mas às tantas divides as oportunidades que tens e ficas com aquelas que mais te agradam, vives umas, sonhas com a vivência de outras e gastas assim os teus dias debaixo do Sol de um final de tarde de Verão demasiado quente. E relembras, relembras minuciosamente aquele olhar, aquele olhar naquele rosto que costumavas amar, a ausência de emoção na tua direcção, a observação pormenorizada de cada um dos teus gestos. Erraste a opção e sentaste-te feliz a vive-la, mas estava errada, relembras aquele olhar naquele rosto que amaste e que deixaste de amar, seca uma parte do teu coração, encontraste o limite do proprio Amor.
Quando o espirito começa a ter consciência de que tem de ser credivel para o ego poder existir na sua maxima plenitude, os teus pensamentos prendem-se nos imensos predios que te rodeiam, guardam-te memórias. Pedras, cimento, betão e, mesmo assim, velam por ti as memórias que te pertencem. E repensas, repensas, quantas opções erradas fizeste, amplamente intencionais em todo o teu ser, quiseste faze-las Foste esse ego, não ha nenhum erro, houve consequências desagradaveis. É tudo. Tornam-se os prédios apenas prédios, largaste as tuas memórias no vento para teres novos erros. Porque o espirito teve a mais nitida consciência de si proprio de que era possivel.

Thursday, July 26, 2012

"Adeus"


A arte sempre foi dele, esvazia o conteúdo das palavras na sua escrita persuasiva, oferece ao piano a melodia ternurenta de um pequeno conto inspirador, de uma pequena história para crianças que só faz sentido se os adultos a compreenderem. A arte sempre foi dele, toda aquela doce loucura que ampara e protege, dá abrigo na sua credibilidade.
Mas ele perguntava-te, perguntava-te, entre o alcool e o cigarro, depois disto tudo, o que é vem? Seguravas-lhe a mao, depois vinha o amor. Mas esgotaste esse gesto à força de não compreenderes a pergunta existencialista dele.  Esperou sempre por ti, mesmo sabendo que nasceste atrasada, esperou por ti sempre, firmemente, sem um traço de hesitação na postura, sem um esgar de irascibilidade como se conseguisse o feito de te amar pelos teus defeitos sem, verdadeiramente, os ver. Mas depois perguntava-te, perguntava-te, depois disto o que é vem? E tu respondias que vinha o amor e apontavas para o relógio , dizias-lhe que o tempo ainda é jovem, os minutos seriam segundos até ao fim. Mas esgostaste todas as ruas nesse afecto à força de queres não compreender o que ele te estava a perguntar, algures, tornaste tudo inutil, até o tempo era oblíquo no horizonte.
A arte sempre foi dele, amava-lo pela sublime forma como toda a essência, todo o amor, todo o sentimento lhe douravam na pele que ele transpunha obedientemente para uma folha de papel ou para as teclas do piano. E sentavas-te a ler ou a ouvir e amava-lo por veres nas suas obras toda a beleza dele. Mas ele perguntava-te, perguntava-te, depois disto o que é que vem? Um dia, esta pergunta cortou-te o coração, invalidou-o, já la estava o teu amor, sentiste o frio  a congelar-te o corpo : onde estava o dele? Mas ele perguntou-te novamente, depois disto o que é que vem? Vem a eternidade, a eternidade até a morte, a tentativa de felicidade todos os dias. Mas ele perguntou-te de novo, não entendeste a pergunta, zangaste-te. Ele não percebia a resposta.
E, depois, um dia ele comprou um bilhete, um pequeno papel que lhe dava a ida sem regresso algum. Pensou em ti, pensou como esgotaste a tua mao a força de a apertares contra a dele,  esgotaste as ruas numa espera que perdeu significado, gastaste o proprio tempo. Gastaste o amor dele. Olhou para o bilhete, sorriu e pensou : e depois disto, o que é vem? E despediu-se de ti, o amor é inutil no passado, a sensação é válida enquanto dourar na pele. Guardou o bilhete no bolso e disse-te adeus.



Inspirado em Adeus, de Eugénio de Andrade

Monday, July 23, 2012

A chegada do Mestre entre a multidão - Parte II


Sempre tive uma vontade inata de um dia fugir com os pássaros que alongavam as frageis asas pelos vidros das janelas da minha casa. Mas havia uma invisivel força que prendia o corpo a esta terra alheia e eu ficava a ver os pássaros pousarem os seus habeis corpos perto da minha janela e depois partirem, uma parte de mim, sempre partiu com eles, vivi sempre em duas realidades sem nenhuma região intermédia.
E olhava a volta, a miséria da desgraça latente alcançava-me sempre e gritava, gritava mas era um mudo som, ninguem ouvia. So queria ser eu, ser livre, so queria não ser a desgraça que, de uma ou de outra forma, me alcançava sempre. Só queria ir com os pássaros, so queria abrir a janela e fugir.
Um dia, um dia gritei mais do que é costume, gastei os pulmões, um pequeno trilho de sangue surgiu ao pe de mim mas continuei a gritar. Queria gritar, queria que ouvissem, não endoideci, não desisti, quero e serei livre. Por isso continuei a gritar, gastei a força e fiquei de joelhos mas, mas mesmo assim gritei, o sangue tornou-se num reflexo que via quando olhava com atenção para a poça vermelha estendida no chao, mas continuei a gritar. Ninguem parou para olhar, era simplesmente alguem firme e em pé que numa melodia cortante dizia que o mundo, este mundo, está algures errado, que não tem de haver resignação, a felicidade é algo mais do que ir vivendo a vida devagarinho. E era mentira, estava de joelhos a gastar a voz que já não tinha num grito mudo que ninguem ouvia, ninguem ouvia mas via nos seus olhos que me encontravam arrogante mas, mas eu so queria ser eu, ser livre, ir com os pássaros. Depois perdi a força , perdi até a voz que não tinha e já não me conseguia levantar. Ninguem reparou.
Mas, depois, senti um puxão, alguem me levantou pelo braço e disse que tinha ouvido o meu grito de Liberdade. Deixou-me sugar toda a vida do seu braço para me conseguir levantar.
E, e depois, fui com os pássaros e ele ficou, quem me tirou da multidão enquanto me desfazia em sangue. Ele, ele foi toda a diferença – ouviu-me.

O Nascimento do Mestre - Parte I


Não é o secalhar posso fazer a diferença, eu sou a diferença, sou a excepção. Posso te dar a mão se quiseres encontrar a força que já perdeste, não sou nenhum meio, sou apenas um começo, caso a força original – a de querer sobreviver à crua sobrevivência- exista em ti, tao naturalmente quanto o acto de respirares.
Mas não faço diferença nenhuma, sou uma. Sou-o porque quero ser, não porque posso, ninguem pode, é teres ou não essa vontade. Mas não faço diferença alguma, não nasci a ser uma, alguem me tornou a excepção, eu vi e vi já demasiado tarde a desgraça, vi já demasiado tarde para qualquer diferença que eu pudesse fazer. Para me fazer sentir melhor porque a diferença jamais viria de mim, a desgraça não chegou a minha pele, alcançou foi a consciência. Por isso, sou uma diferença à força de ver a desgraça acontecer e sentar-me a ser impotente. So não sou integralmente inutil se for a diferença.

Wednesday, July 18, 2012

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite"


Procuraste-o incasavelmente e um dia encontraste-o. Ah, a beleza dele era algo de extraordinario, a mistura homegenea entre o ser e o saber ser, o controlo e a genuinidade, a perspicácia entrelaçada com uma fé inabalavel. Ele era extraordinariamente belo na forma como o rosto era o reflexo do mundo, dele proprio, do passado que existiu e aquele que devia ter existido mas que foi cortado pelo futuro que ele insistia em ser. Ah procuraste-o e um dia encontraste-o, sentaste-te com ele, compreendeste Neruda e procuraste mais poemas e ele olhava-te e  sorria-te na cumplicidade. Ele, um deus discreto humano, exótico e mordaz, ambivalente em todas as esquinas de todas as decisões. Tornava a vida real porque era livre, livre até da probabilidade, do que era esperado.
Nas tuas mãos repousa o livro de Neruda, lês o poema mas não o compreendes ou compreende-lo demasiado bem, é quase o mesmo. Lês sem ler porque não te ajuda, não te ajuda a conseguires existir mais pacificamente. E, bem no fundo, não lhe dedicas ódio nenhum, apenas querias que ele ficasse. Mas ele era imprevisivel, uma potência de vida calma sempre em movimento contínuo que, quando se aborrecia, esvaziava os afectos dos bolsos e, simplesmente, ia-se embora. Como se não importasse porque, bem no fundo, nunca lhe importou.
Procuraste-o incasavelmente e quando o encontraste e ele deixou que o amor se instalasse, tu foste esse ser. Livre, extraordinariamente atraente na forma como existias e sabias existir, o amor é o mais alto narcisismo. Não é que o odeies, simplesmente, ele roubou-te esse reflexo que tinhas no espelho. Podes escrever os versos mais tristes mas não consegues, não queres, esta não é a ultima dor que te causa, roubou-te a tua propria beleza quando se foi embora. E seguras o livro de Neruda e, subitamente, apercebes-te que o amas , que o amarás sempre, ele era um quente deus humano. Vai-te sempre causar essa dor, o reflexo dos olhos dele que nunca mais vais te, a visão da mais alta potência de vida.
Simplesmente, amaste-o.

Tuesday, July 17, 2012

Ser-se ateu


Somos diferentes , não é exactamente a mesma ideia porque quando , no auge da tua dor, procuraste Deus e ele não estava lá assumiste que ele não podia existir. Proibiste-o de existir porque te deu a dor, obrigou-te a senti-la em cada poro da tua pele e deixou-te a sos com ela. Deus , esse deus, não podia existir e tudo o que sobrava eras tu. Ganhaste-te a ti, entao, ateu de coluna estreita e firme. Elegeste-te como teu deus, a tua fé era a fé que tinhas em ti, deus roubou-te mas continuavas vivo.
Mas eu, alturas houve em que procurei Deus em todas as esquinas de todas as ruas sem nunca o encontrar, não senti a Sua presença, o Seu amor ou o Seu perdão. Tudo era vago de uma forma vazia. Mas insisti em procura-lo, queria que ele tornasse a minha dor mais leve só pelo facto de existir. Procurei-o em todos os sitios e, um dia, encontrei-o. Estava sentado com roupa suja e um olhar triste a segurar um copo de uisque num bar alheio.
Porque é um mundo de homens, é apenas um mundo feito e vivido por homens onde Deus não tem espaço para existir. E isto é verdade absoluta, para mim, no meu mundo, Deus apenas está  a mais. Não me faz sentido que me tenha roubado alguma coisa, isso podia ser devolvido.  É apenas um mundo de homens. A tua não crença é uma forma esquisita de crer – porque em algum instante esse deus que garantes que não existe fez-te quem és.

Tuesday, June 19, 2012

"Ter saudades do passado é correr atrás do vento"


Há uma vida que se gastou entre as oblíquas melodias do tempo, ouço-a na voz do vento da noite e revejo-me na vida que já não é minha e tenho esta leveza de espírito de quem relembra sem sentir o peso da saudade. Mesmo que a tivesse, seria inutil.
E tenho o lugar e as memórias e as esquinas daquela vida guardados na génese deste ego que me pertence agora, vejo-me sem me ver, um rosto sem rosto, um rosto futurista, o presente já foi um futuro incerto e intermitente e o passado é apenas o que restou dessa sensação e o que dela surgiu – o esquivo futuro que é o meu presente.
Porque há algo de amorfo e hermético na persistência da melodia do passado, há algo que tem a cor de um sotão velho e abandonado, de um caminho solitário e banal já há tanto tempo que vive no esquecimento de quem o caminha todos os dias. Porque há sempre algo de desconfortavel na vida que foi minha e que já não é, foi minha a decisao, deixei no lugar que nunca mais vi o meu ser a viver essa vida paralela.
Mas o meu futuro sempre foi incerto e a sua instabilidade sempre foi a fonte de toda a vida que movia os músculos. Relembro-a, relembro-a, ah! suaves dias eternizados na sua efemeridade. Recordo-a,ter saudade, seria simplesmente. Hipócrita. 

Friday, June 08, 2012

Terra


Ah sim, lembro-me, lembro-me deste som, a melodia da irascível liberdade travada num quotidiano rotineiro, travada ilusoriamente, instala-se à noite, no profundo eloquente silêncio da noite.
Lembro-me deste cheiro, sem duvida, é o teu sem nunca o ter sido, sem nunca chegar a sê-lo, é uma união abstracta racional vinda da evolução humana. Uma mera associação, descobri-o contigo, existia em ti ou julguei vê-lo em ti, mas é o aroma da terra nova mistica, da terra que é minha e que é alheia, da terra que não existe porqque está onde a quiseres encontrar. Ah, lembro-me!
E da visão que os meus olhos insistiam em ver, tambem a recordo, vejo-a agora na câmara lenta do passado que foi suplantado pelo futuro actual. Lembro-me, lembro-me, foi já há tanto tempo, mal recordo, e é tao recente que parece que existira amanhã porque nunca pereceu.
Recordo esta melodia, a calma tranquila de quem se esforça por cumprir o dever que é seu e que o faz levemente, há uma fracção de puro amor que quebra qualquer dor que se instale. Mas perdeste esse cheiro, esse som, essa visão da liberdade e é tudo o que é válido para começar a ser Homem.  E eu encontro-a em mim, a terra alheia que não existe , deixei foi de a conseguir encontrar em ti. Precisamos todos de uma terra para morrer em paz, a minha, simplesmente, não é a mesma que a tua, sou livre, não quero prender-me a um cemitério comum que guarda o meu nome desde o inicio do mundo.
Ah, lembro-me, este instante único em que se ouve a doce harmonia de viver. Sou livre. Continuo livre.

Saturday, May 12, 2012

Simplicidade

Simplicidade. Queremos todos ser felizes de uma forma que nos faça sentido, que articule correctamente a auto-estima. Caso contrário, é uma terna miséria envolvente que custa a sair, uma prisão dourada decrépita psicológica.
E queremos todos ser importantes. Para alguem, para algo, em algum sentido. Tememos todos a morte, de uma maneira ou de outra, alguns conseguiram ultrapassa-la, epicuristas refinados na sua tese oculta de viver, conscientes ou não. Aprenderam a guardar carinhosamente os pequenos prazeres da vida, sejam eles o que forem. Temos todos de ser um projecto para nos e para os outros, é preciso que alguem aposte em nós naqueles instantes em que  sentimos uma densa empatia pelo cavalo de corrida coxo que está só. Somos esse cavalo. Precisamos que alguem tenha o orgulho a depender da nossa postura.De ser uma inspiração para alguem, meia razão de uma salvação .Bem, pelo menos, algum de nos.
Simplicidade. O básico da essência humana é simples. Procura, encontra, rejubila-se, irrita-se, entristece-se. Ocasionalmente chora, esforça-se por rir o mais frequentemente possivel. Mas nada disto é simples, se procurares o porquê profundo, submerso, terás uma melhor e mais nítida imagem de ti – que é o que verdadeiramente procuras- e pouco mais que isso. Não julgues que é pouco. Já viste tudo o que se torna permitido fazer quando te conheces a ti? Podes rir mais alto, fazer com que a lágrima acalme a tua dor, conhecer o teu semelhante, saber onde erra o mundo, ah! tanta coisa.Simplicidade profunda complexa. É o que falta ao mundo. Acendo o cigarro, ouço música, deixo-me envelhecer numa florida juventude, activo numa aparente passividade sem moralismos, apenas ponderadas ideias que me ficaram da experiência. Pensar.
Simplicidade.

Wednesday, April 04, 2012

Fumar

Porque não preciso dessa densa irresponsabilidade para carregar , docemente, esta loucura. A loucura está em mim não numa qualquer rua perdida entrelaçada numa qualquer noite que, se fores a observar minuciosamente, foi igual a tantas outras.

Tenho todos os vicios que guardo afecto debaixo da pele e os teus vicios eram apenas semelhantes aos meus, não estavam assim tão proximos. Porque os concretizas para calar uma qualquer dor que encontras em ti e tens essa dificuldade cobarde em enfrentá-los no reflexo e eu não. São também a minha vida, parte de minha carne, se não tivesse vicios , viver me não saberia tao bem, é exactamente o momento em que os concretizo e que perco o paraiso espiritual que abraço a paz existencial. Faço-me Homem porque dão-me extraordinárias capacidades, os pequenos vicios. Sinto-me igual aos poetas e aos músicos e aos herois e a todo e qualqer homem comum, somos todos comuns, contrariar isto não é gastar a vida numa boémia linha de pensamento que tende a ser oca. Como tu fazes.

Porque só sou irresponsavel porque sou Homem, está-me no musculo mais inato que existe em meu corpo. Mas porque sou responsavel pelas consequencias que advem, não sou igual a ti. Tenho os meus vicios que são os teus vicios, mas não me orgulho deles, apenas tenho prazer em pratica-los e guardo esse bem-estar na incosciente memória. Tornam-me homem porque sinto a vida.

Tenho o maior vicio de todos, a causa de todos os vicios- tenho o vicio de viver, o mais humana e sabiamente possivel. E , essa, é toda e qualquer diferença que entre nos se instala. Eu sou absolutamente feliz na minha consentida efemiridade.

Tuesday, February 14, 2012

Inovação

Não quero pensar – vou fazer. Há um encanto em viver assim, com a responsabilidade de praticar a liberdade. E eu pensei e a intensidade do meu peito aumentou com a possibilidade e fiz. E fiz-me me Homem assim, ao saborear a vida em cada onda do mar que cheirava ao mundo.
E podes calar-te ou podes insistir em criar ruído – sou feliz no meu melódico silêncio. Amo a música porque é toda a essência que me conheço. E tudo o que desejo é uma morte que me não envergonhe. Só quero saber viver.
Penso quando penso e penso abstractamente quando não penso, penso sem pensar. Penso com toda a sensibilidade artística para o mundo que consigo encontrar em mim.
Por isso mantém-te no silêncio ou persiste no ruído, simplesmente, me não importa. Existo. Bebo a vida e à vida. Sou feliz. A tristeza do mundo é só necessária para ofereceres à arte um encanto humano de tão profundamente sobre-humano. E para aproveitares numa intensidade desenfreada consciente os dias cheios de um Sol que te limpam o espirito de cicatrizes que já não fazem sentido.
Não quero pensar sobre o se , o se é uma porta para um conceito de nada alheio – já fiz. E sou rei de mim proprio.

Tuesday, February 07, 2012

Envelhecer (Parte III)

Ele amava-a, como nao amar? Eram correctamente complementares. A essência do ego era semelhante, a forma de o colocar activamente no quotidiano era contrastante. E ela amava-o, admirava-lhe as cicatrizes, a arte de sobreviveer crua e firme. Inspirava-se nele. E ele via nela uma beleza suave mas forte. Nao havia qualquer fragilidade, ela nao era volátil na sua efemeridade. Podia nao ser uma fonte de inspiração, mas era, sem duvida alguma, um instante reluzente que o fazia sentir-se ele , sem as cicatrizes profundas da sua essência.

Mas nunca lhe reconheceu a elegância do pensamento ou a arte de saber viver modesta e aristocratamente. Nunca lhe reconheceu a astúcia humilde e sensivel que protegiam o ego. E, um dia, o Inverno foi rigoroso, de neve suave, frio desumano. Ela vestiu o seu casaco quente e correu para a neve. Ele entristeceu-se e queixou-se do frio. Ela tentou explicar-lhe o que de tão encantador havia na neve, no frio. Ele disse-lhe que nao queria saber. Disse-lhe que todos temos que crescer um dia, envelhecer. Ela já era demasiado adulta para brincar na neve, devia ganhar consciência de que o frio congela o corpo, de que o Inverno deprime porque é triste.

Mas ela via arte na neve. Deixou de ver foi arte nele. E, por isso, nunca mais o viu

Monday, February 06, 2012

Saber Viver (Parte II)

Ela era algo de novo. Nao que trouxesse consigo uma inteira nova ideia. Nao. A novidade que trazia era a forma como se mostrava firme no amor que dedicava ao seu ego. Mantinha um bom egocentrismo, um bom individualismo que olhava ao colectivo. Ela era algo de novo na forma como articulava o porquê. Trazia consigo o mesmo vento alheio mas dava-lhe um nome diferente. E já nao era um vento comum – era o vento dela.

E sabia apenas só o que sabia, procurava saber mais em todas as esquinas de todos os instantes. Era esguia e aristrocata no pensamento que defendia, jamais dizia tudo o que sabia, jamais a venciam em qualquer duelo facilmente. Dedicava-se sempre a conhecer bem o seu oponente. Ela era melhor porque acrediatava firmemente e sem hesitações que o era. Mas mantinha-se em movimento, em constante renovação, no dia que parasse, deixava de ser autoridade de si própria.

Um dia, o Inverno foi rigoroso, trouxe consigo neve e um frio desumano. Ela vestiu o seu casaco quente e abriu expectante a porta. A neve era suave e amigavel na sua mao. Deixou-se encantar, o pensamento perdeu-se no manto branco. Imaginou. Porque a sua peculiaridade era olhar para o que todos veem e responder a um diferente porquê.

E sorriu. E foi feliz intensamente naquele instante. Em que sentiu a neve na sua pele, na palma da mão . O frio só a incomodou depois. Foi algo de extraordinário. Ela era algo de novo. Mantinha o espirito jovem. Jamais se contentava com um qualquer consolo. Ela desejava ser ela. E via arte em todos os recantos. Viu arte na neve. E foi intensamente feliz naquele instante intemporal.

Falta de Coragem (Parte I)

Ele tinha qualquer coisa de único, o sorriso dele trazia algo de novo aquele sitio cru. Ele era algo de velho, algo que sempre existiu. Mas ele era ele, apenas ele, contra o mundo, porque era uma firme existência. Ele incorporava a velha resistência da inovação perante o conservadorismo.
Nao que soubesse muito de filosofia ou que tivesse um entendimento peculiar com a arte. Era comum, sabia apenas o que sabia e julgava saber tudo o que sabia. Mas a agressividade carismática como se defendia da ignorância que nao reconhecia concedia-lhe um genuíno sorriso de quem procura viver o melhor que sabe. E tinha este encanto, de quem se esforça por sobreviver dignamente, magnificientemente, sem que espere que o esforço, por si só, seja recompensado.
Mas, um dia, o Inverno foi rigoroso, trouxe neve e trouxe um frio desumano. E ele nao sabia filosofia nem tinha um entendimento peculiar com a arte, sentiu-se igualmente triste como se sentiram todos os outros que nao tinham nada de único. Nao foi capaz de ver algo diferente na ideia alheia. Sentiu-se melancólico e só, procurou o conforto onde tinha uma certeza firme de que o encontrava. Porque ele tinha um pensamento genuíno e próprio mas nunca pensava sobre o que nao sabia e nunca se consolou na arte. Procurava ser rei, rei daquele contexto, nunca quis ser rei de si próprio por ter uma essência cicatrizada que nunca sarou inteiramente.
Ele teve qualquer coisa de único. Mas ter é pouco perante ser. E o ser é um longo caminho de escolhas, normalmente, oblíquas e existencialistas. E requer dignidade no seu mais alto ponto e um esguio mas conciso conceito de liberdade que se perpetua na propria existência.
Ele foi algo de único. Até ao dia em que trocou isso por um consolo comum só para ser moderadamente feliz por um instante. E permaneceu nesse momento.
Ele foi algo de único. Já morreu como morre tudo. Morreu infeliz e insatisfeito numa patética procura de se sentir feliz com aquilo que nao desejava. Ele teve algo de único.

Thursday, January 26, 2012

Queda de um Ícaro

A maior tristeza é a de não viver e, se já me preencheu o peito, jamais definiu a essência. Sempre tive a tristeza do fim, da dissolução de um ideal que perdeu força, da quebra do quotidiano e a hesitação da nova oportunidade em chegar. Mas nunca fui triste por não viver, talvez tenha tido a tristeza de não saber viver, que é oposta. Ninguem sabe viver, viver é não saber viver. Sentir qualquer coisa debaixo da pele, um vento fresco ou um sucesso alcançado,o amor ou o fim do amor, qualquer coisa. O importante é sentir, viver é experimentar, hão de existir erros. E hão de existir coisas bem feitas. Recordar as duas é a afirmação de que se está vivo.
Mas nunca tive eu essa tristeza, de não viver, de estático observador da vida que é minha. Errei e corrigi, se me feri, não teve outra hipotese a ferida para alem de cicatrizar , continuei vivo no dia seguinte. Porque estou vivo e quero viver, jamais não vivi. Posso ter vivido mal, escolhido o que era errado ( mas o que é o correcto?) mas escolhi. E vivi. Essa tristeza, meu amigo, não é minha. É tua. A tristeza de não viver ao viver a vida no limite, precisar o pormenor que consola o espirito e generalizar e maximar toda uma excentricidade humana numa boémia ideia que julgas que te esconde e protege do mundo. É uma tristeza que é tua.

Monday, January 16, 2012

Celebração da amizade

A vida não é apenas a tristeza existencial da bélica marca da diferença que traz consigo a dignidade e o brio da inovação ( hoje, vivamos apenas como dois seres que desejam a vida).
Bebamos à vida, à arte de saber viver para alem de existir que está tão entranhada na nossa essência. Sabemos viver, esqueçamos hoje a morte porque não está ela entre nós. Aproveitemos o dia esventrando a essência de se ser feliz na simplicidade luminosa de um discreto e tímido raio de Sol que aquece e ilumina. Porque não estamos sós, a tua solidão acompanha a minha e, o consolo que fica é o conforto da honesta amizade, saúde muscular para a mente e para o espirito.
Esqueçamos, hoje, as intermitências oblíquas da vida, bebamos antes ao acto de viver, bebamos ao prazer de beber, bebamos aos simples prazeres da vida. Bebamos ao gosto de viver em boa companhia. Celebremos a amizade, hoje, e esqueçamos tudo o resto sem deixar de o recorda. Bebamos hoje à verdadeira amizade que se aquece entre nós. Bebamos à vida.

Separação

A existência precede a essência. Talvez um dia me desculpes, há um negro denso trilho onde te perco conscientemente. E sou eu triste , sou eu triste mas essa melancolia me não define, é só um pensamento existencial. Não é uma banal tristeza, não é a tua tristeza, às tantas as palavras esgotam-se na minha garganta e é apenas isso .Há uma alegria colectiva que me entristece por isso me não pertence. Tenho apenas uma aparente tristeza, tu tens uma consentida melancolia existencial, meu amigo, e há um oblíquo caminho no qual te perco.
Porque canto a vida, meu amigo, canto a alegria de viver em cada melodia de cada esquina. Quero o dia cinzento para o sol se alongar mais intensamente no dia seguinte e me prencher Quero a oprtunidade em movimento, a dinâmica do ideal viva em cada pedaço de chão. Nada está cumprido até o ideal chegar e a minha morte é apenas uma certeza da persistência de minha essência. Não é uma existência mórbida ou dramática.
Mas tu, meu amigo, que existência é essa que te move numa ironia aguçada cheia de uma sensibilidade estrutural que não moldas ao teu ego? Findas num destes dias nessa brusca separação entre a agressividade que exprimes e a tristeza que julgas que escondes. Findas num desses dias cinzentos em que eu canto a melodia da adrenalina de viver. Há um oblíquo denso caminho no qual te perco. A existência precede a essência.