Wednesday, October 28, 2009

Suficiente

Porque esperaste desesperadamente que te afagassem a cabeça, que te limpassem o sangue das feridas cruas da alma.
E estás só. Porque amaste-a e ocasionalmente sentiste-te profundamente amado. Mas estás só, sentes a falta dela, sentes a tua falta. De quem eras quando a amavas, de quem ela era quando te amava. Irracionalmente. E ves ambos sentados, cumplices de um qualquer crime inocente . Juntos. E afinal tu estás só.
Porque descobriste que ela te amou e que nunca a amaste o suficiente. Se nao terias perdido a consciencia do sangue que escorre das feridas. Nao foi o suficiente para tornar o amor maior que o esquecimento, nao foi o suficiente para se tornar numa das tuas estrelas, que te iluminam e protegem carinhosamente.
Amaste-a.Mas nao o suficiente e recusas saber se ela te amou demasiado , se te tornaste nessa estrela que a pode aquecer e afagar em noites tristes e frias.Recusas. Porque a amas ainda o suficiente para saberes que a já não amas.

Saturday, October 24, 2009

Amor

Sim, claro, é amor porque sobrevive aos dias de sol e de chuva e os olhos têm a cor e a imensidão do mar. Retratam todos os dias de infancia passados na praia, o riso alto e o contentamento de quem não sabe que vai morrer. E que nada é.
Claro, é amor, se dançam alegremente no espirito a esperança , levemente filosofica, a exaltação da vida e o extase de existir. E os olhos têm a textura de amoras silvestres numa noite agradável de Verão; são o som da Orion e do vento fresco que fala de historias magnificas e desconhecidas.
É amor. Nem que seja um pouco se quando olhas nos olhos ves a alma e ela já viu e sentiu a desgraça, já conheceu a dor. É ríspida e dura apesar da leveza e da jovialidade. É amor se vês isso tudo e lamentas profundamente, se quase choras por solideraiedade aberta e franca.
Sim, claro, é amor. Nem que seja um pouco, nem que seja inconsciente. Se olhas e te identificas com a imensidao do ser que contemplas. Amor não deixa de ser isso, uma forma típica e emocionalmente forte de identificação.

Friday, October 23, 2009

Excepção

O barulho é de uma violencia estrondosa. Quebra-te a réstia de esperança que tens . Antigamente, depois da desgraça , adormecias tranquilo à espera de um melhor dia no duro conceito de amanha.
Agora procuras ansiosamente a excepção, a pecularidade que te fez permanecer aqui. Olhas em busca do cabelo desalinhado e escuro, o corpo esguio mas forte, todas as vincadas caracteristicas de uma excepção. Procuras em vão, sabes que a não vais encontrar porque está desincronizada de ti. Mas continuas a procurar e o barulho continua fundo e violento. Se existissem lágrimas talvez fossem desperdiçadas neste momento. Que ultrapassa o sufoco da claustrofobia do ruído ensurcedor.
Bebes o café, antes que fique demasiado frio. A excepção já não existe. Talvez te tenha abandonado. Bebes o café, o gesto mecânico que traduz o inevitável passar do tempo. Porque a excepção eras tu e tu já não acreditas.
Afundas-te no barulho , deixas que essa violação surda ocorra no teu ser. Porque a excepção eras tu e tu já não existes.

Friday, October 16, 2009

Conforto estéril

Tu não querias mudar o mundo. Não, nada disso. Querias ser correcto e querias viver segundo a tua ética filosofica definida e torna-lo num sitio levemente melhor porque serias tu. Um ser não cruel, que cura em vez de ferir. Não farias mudança nenhuma, a realidade seria igual a si propria depois da tua morte, depois da tua vida mas tu morrerias de maos limpas. E não sujarias nada, o mundo não pioraria com a tua existencia.
Agora já o não sabes. Porque te estriparam e te violentaram todos os dias por essa opçao tua e tiveste de te ter de volta. Tiveste de reaver o teu amor-proprio e o teu auto-conceito para seguires a tua filosofia. E tiveste de saber preencher o ego para conseguires o milagre de te enfrentares ao espelho. Mas perdeste-te algures.
Pioras ligeiramente o mundo quando te tornas ligeiramente vulgar. Viciaste-te no conforto da àgua gélida que suaviza a dor da cicatriz. Só que ela já não doi e tu insistes em algo que se tornou num puro luxo, num simples capricho.
E não haveria problema se não conseguisses ver o quanto custa, em sentimento e em suor, a quem procura a agua, a quem a passa pela tua pele, a quem te sustenta e a quem te mima. Tu ves quanto custa e continuas. Pioras o mundo inocentemente porque , algures, arruinaram-te. Não tens assim tanta culpa, a realidade é demasiado fria. Cruel.

Thursday, October 15, 2009

Metáfora

São tristes e patéticos porque tentam superar-te mas toda a tua superioridade é-te dada estritamente por eles. No teu espelho pessoal ves apenas um homem, igual a tantos outros, com pormenores carismáticos que fazem toda a diferença. Como seria de esperar.
O teu cabelo ruivo não é exotico, apenas. Pelo menos não se resume à invulgar tonalidade. Não. É porque o usas como definiçao de ti proprio, como aperto de mao,como forma de conheceres o mundo e de te dares a conhecer. Tem a cor da paixao e do sangue, do fogo e da morte.
São ignorantes e de fraco alcance, intelectual, psicologico, emocional e humano. Limitam-se a ter uma inveja desumana pela beleza exotica excentrica do teu cabelo ruivo e não te veem a ti. O teu rosto muito branco, triste, sofrido, marcado com a cicatriz, mais rugas de dor do que de riso. E os olhos escuros, liquidos e vivos, perspicazes e compreensivos, duros e estrategos.
São tristes, tentam aniquilar-te extinguindo o fogo que se ve metaforizado no cabelo a ondular ao sabor do vento. E tu nem sequer sabes quem eles são. Quando alcanças o final da linha a cor do sangue e do fogo impoem-se e pensas em silencia-los. São demasiado aborrecidos com as suas vozes estridentes.

Wednesday, October 14, 2009

Persistência da Memória

Ele vê o amor espalhado mas está longe de o ter consigo. Já o teve e recorda-se bem do sentimento de felicidade aberta e suave. Nunca foi tao feliz como naquela era de amor profundo e irracional.
Depois acabou. E ele aceitou a sua sentença, viveu todos os dias o sentimento de dor funda, deixou-se enterrar na melancolia da tristeza do fim. Entregou-se, posteriormente, a paixoes fugazes e curiosas, baseadas em pequenos carismas. Nada é superficial. Só que ele gosta, não ama. São apenas paixões quentes e honestamente sentidas.
E depois existes tu com os teus olhos azuis esverdeados que sobrevives a qualquer paixao, qualquer dia monotono, qualquer tempo demasiado chuvoso e triste. Os teus olhos lembram-lhe o antigo ser que era na altura em que amava.
Sim, talvez te ame, sim. Pelo menos um pouco, pelo menos inconscientemente. Mas lembra-se bem da dor patética de quando já não ha amor ou de quando não é suficiente. Continua por isso, em entregas psicologicamernte intelectuais e fugazes para poder resistir ao mar nos teus olhos.
Se o queres bem desculpa-o. Ele magou-se, magoou e deixou-se magoar, precisa de se entregar em pequenas luxurias e grandes paixoes. Porque tudo o que ofereces é um novo conceito de dor.
Se o queres bem, comprende. Ele volta sempre para se limpar no mar dos teus olhos.

Wednesday, October 07, 2009

Veracidade

Dá-me uma razao para me importar. Só uma, uma que seja valida, prometo que haverá justiça e imparcialidade na minha avaliação. Dava tudo para que essa razao existisse e eu entao importava-me.
Mas se há, desconheço-a , logo ela não existe. Não me importo, ninguem se importa comigo na realidade complementar. Tem todos uma certa expectativa , tem todos uma certa filosofia. E no momento, não correspondo a ambas. Se tenho alguma espécie de parte do mundo gravado no pulso ignoro porque a não quero e a minha filosofia é demasiado livre e controversa, em jeito de legado de mitologia grega. Quanto mais for feliz na minha filosofia menos descanso tenho em casa, se tiver descanso em casa é o silencio moribundo de um funeral porque morri durante o decorrer dos dias.
Ninguem quer saber. Ninguem se importa. Guardo as minhas tristezas. Pior. Guardo as alegrias e as vitorias. Porque ou são imperceptiveis ou estao desincronizadas ou são tomadas como decisoes e momentos alucinados e irresponsaveis.
Dá-me uma razao para me importar, uma que seja sólida e credível. Haverá justiçao e imparcialidade em mim.