Friday, June 08, 2012

Terra


Ah sim, lembro-me, lembro-me deste som, a melodia da irascível liberdade travada num quotidiano rotineiro, travada ilusoriamente, instala-se à noite, no profundo eloquente silêncio da noite.
Lembro-me deste cheiro, sem duvida, é o teu sem nunca o ter sido, sem nunca chegar a sê-lo, é uma união abstracta racional vinda da evolução humana. Uma mera associação, descobri-o contigo, existia em ti ou julguei vê-lo em ti, mas é o aroma da terra nova mistica, da terra que é minha e que é alheia, da terra que não existe porqque está onde a quiseres encontrar. Ah, lembro-me!
E da visão que os meus olhos insistiam em ver, tambem a recordo, vejo-a agora na câmara lenta do passado que foi suplantado pelo futuro actual. Lembro-me, lembro-me, foi já há tanto tempo, mal recordo, e é tao recente que parece que existira amanhã porque nunca pereceu.
Recordo esta melodia, a calma tranquila de quem se esforça por cumprir o dever que é seu e que o faz levemente, há uma fracção de puro amor que quebra qualquer dor que se instale. Mas perdeste esse cheiro, esse som, essa visão da liberdade e é tudo o que é válido para começar a ser Homem.  E eu encontro-a em mim, a terra alheia que não existe , deixei foi de a conseguir encontrar em ti. Precisamos todos de uma terra para morrer em paz, a minha, simplesmente, não é a mesma que a tua, sou livre, não quero prender-me a um cemitério comum que guarda o meu nome desde o inicio do mundo.
Ah, lembro-me, este instante único em que se ouve a doce harmonia de viver. Sou livre. Continuo livre.

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