Monday, January 31, 2011

Ciclo

O Amor obriga-o a ser o que ele gostava de ser e ele gosta de ser só ele. O Amor obriga-o a cumprir esse papel até que esse papel que ele cumpre se torne real e ele seja isso. O Amor fá-lo alcançar esse ponto em que a ilusão se torna válida.
Mas ele gosta de ser só ele. Em alguns dias, gosta de ser apenas ele. E o Amor que tem pelo seu proprio ego fá-lo ser ele.Inteiramente e apenas ele. Esse mesmo ele, que harmoniza o Amor no teu peito. E cumpres esse papel até que se torne real, até que ele creia nesse eu que representas todos os dias. Até que essa imagem, essa permanente actuação se torne real. E tu sejas quem julgas que és. E tu te tornes em quem queres ser.

A Crença II

Sempre o silêncio como sombra claustrofobica de palavras mortas que alcançaram o futuro. E a crença de que um amanha melhor chegará num destes dias. Mas o teu Mestre está morto.
Entregas-te a pequenos prazeres, a tua fé já foi esventrada. Trocaste a esperança por um ego de aço. Trocaram-te a fé pela procura da credibilidade do ideal que te move. Porque o teu mestre está morto.
O teu rosto guarda as cicatrizes de todas as vezes que venceste. Não estarias aqui se não tivesses, habilidosamente, sobrevivido. Tornaste-te melhor porque venceste o teu próprio medo. Mas o teu mestre morreu, o medo , mesmo na sua cristalina utilidade, não desgraça tanto como a dor.
E assassinaste Deus antes de Ele existir, toda a plenitude de existencia que tens , pertence-te. Mas o teu mestre morreu. Em ti. E, agora, todas as palavras estão mortas porque perdeste a crença.

Friday, January 28, 2011

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite"

Escreverei os versos mais tristes esta noite. Meu amor, o mundo é triste e a felicidade não deixa de ser uma disciplinada forma de viver. O ínicio guarda o mistério de não conseguires adivinhar o fim. Esgotámo-nos. Esgotámos as expectativas de um novo mundo que nunca chegou.
Escreverei os versos mais tristes esta noite. Meu amor, as estrelas não se comovem com a dor humana porque, quando a veem, outra diferente desgraça já se instalou. E outra aquecer-se-à nos meus braços assim como tu te aqueceràs nos braços de outro. Meu amor, esgotámo-nos. É inutil. Amei-te e, em momentos de cristalina existencia, amaste-me. E , agora, tudo é irrelevante porque se esgotou o Amor. Amaste-me e, em dourados segundos, amei-te. Amei-te até quando te não amei. Amo-te aínda, enquanto me esqueço. Amo-te ainda, enquanto o fim se instala e o passado se torna numa pequena e longíqua memória.
Escrevi os versos mais tristes esta noite. Meu amor, a ilusão tem a sua metade de verdade. Mas o Amor esgotou-se. E a estrela so te pode indicar o Norte se te quiseres perder. Porque o que foi passado tem a sua metade de inutil. Meu amor, recordo quem és mas já não reconheço a tua essência. Escrevi os versos mais tristes esta noite, o esquecimento nunca tem a sua metade de quente. Esgotámo-nos. Esgotei-me em todos os versos que escrevi. Esgotámo-nos.

Orfeu Envelheceu

Orfeu envelheceu. Entregou-se a um outro tipo de morte e a tristeza calcificou-lhe a essência. Orfeu envelheceu e nos fundos traços de uma existencia quase imortal lêm-se as entrelinhas de um amor que lhe arruinou a crença. Que o deixou vivo depois da morte ter ido ao seu encontro.
Orfeu envelheceu. Guarda aínda no peito o inconfundível perfume de Eurídice. Da sua Eurídice, ama-a quando a relembra. Ama-a só quando a ama, a não pode amar quando não a ama. Orfeu envelheceu, esqueceu o que era o amor , guardou apenas a memória do que era aquela vida. Orfeu envelheceu mas o mundo continua jovem.
Talvez não fosse Eurídice, talvez Orfeu tenha entregue a melodia única da sua lira à Eurídice que não era Eurídice. Mas está envelhecido, Orfeu. Ama-a ainda quando a relembra. A não pode amar quando a não ama porque o fogo congelou-lhe o coraçao. Orfeu envelheceu.
Sempre foi a Eurídice errada. E Orfeu está velho. A morte abraçou-o e deixou-o vivo para contemplar a o fim da sua harmoniosa essência todos os dias.
Orfeu envelheceu, era a Eurídice errada. Mas, de alguma forma, foi a sua Eurídice. Ele sempre foi Orfeu. Era a Eurídice errada mas era a sua Eurídice.

Wednesday, January 19, 2011

Incomodo

É um incomodo que lhe não sai da pele. Porque, quando o caos se apodera , a tua imagem reconforta-o. E ele sente-te a falta e deseja o teu abraço.
Mas tu és um eu morto. E ele é um eu morto, o eu dele que te amou. Morreu.
Quando uma qualquer desilusão se abate sobre o ego dele, sente-te a falta. Foste o único ser que nunca o compreendeu. Amaste-o sem o compreender.
É um incomodo que lhe não sai da pele. Só tu o conheces o suficiente para reconheceres as suaves extravagancias dele ou o momento em que o coraçao dele se despedaçou. E, tu. Tu nunca o compreendeste.
É um incomodo que lhe não sai do espirito. “Roubou todas as rosas dos jardins e chegou ao pe de ti de maos vazias”. E esse romance que não conseguiu singrar reflecte demasiado bem o que ele é.
É um incomodo corrosivo que lhe não sai da pele. Este amor que ainda te tem sem te dedicar amor algum.

Tuesday, January 18, 2011

Carta de Homícidio

Sinceramente, é uma parte brilhante do meu ego da qual há muito deixei de me orgulhar. A minha perspicácia tornou-se numa meia hipocrisia incisiva. E sempre preferi viver o suficiente para ver a ideologia que desprezo perder-se no tempo por ser demasiado medíocre. Sem pre tive essa mordaz cobardia em nome de uma calma e tranquila vingança crua que nunca era executada pela minha mão.
E, às vezes, é preciso sujar as mãos com sangue alheio para se ganhar o direito de viver com calma. A violência gera um ciclo de violência que uma paz utópica nunca atenua. E, não, não me consigo vanglorizar por ter unido a minha relutante sombria honestidade com um ideal que não singra aqui.
Porque o meu erro é culpa inteira vossa. É um clima de competição que a vossa mediocridade gera. O meu sangue está guardado porque sempre foi limpo, o que me misturei com voces foi uma fria estrategia . A minha triste ironia é tao concisa que a tomam como elogio. E o meu cru divertimento vive na forma como são tao facilmente enganados.
Não, não tenho um especial orgulho na minha brilhante estrategia de existir, conhecer-vos e manipular-vos. Mas , às tantas, nasce uma vontade calculista de derramar sangue e eu perdoo-me do meu proprio pecado. O erro sempre foi vosso. A minha brilhante forma de vos manipular faz com que a responsabilidade da vossa torturosa morte seja inteiramente vossa.

Monday, January 17, 2011

Last Kiss II

O meu amor morreu. Numa noite tranquila e pacata, cheia de linhas que desenhavam novos horizontes. O meu amor morreu na noite mais estrelada desse Verão.
Agarrei o meu amor até se despedir de mim, até me despedir de mim. Abracei o meu amor até a sua essência se confunfir com a minha pele. E senti o beijo doce de quem sabe que vai morrer. E o meu amor morreu nessa noite, nessa noite em que a lua iluminava tanto como o Sol. Agarrei o meu amor de perto, agarrei o meu amor até o luar desaparecer eternamente da sua essência. Da essência do meu amor.
Agarrei o meu amor até que o inevitável congelasse a minha consciência. O meu amor morreu nessa noite, na noite mais estrelada desse Verão, na noite em que as estrelas desenhavam um horizonte longíquo de uma vida que nunca se concretizou.
O meu amor morreu nessa noite. Na noite em que até a Lua se esgotou e a essência do meu amor entregou-se ao negro e eterno silêncio do vazio.
O meu amor morreu. Morreu nessa noite, nessa fresca , aromática e típica noite de Verão. E, quando vejo, o meu amor moribundo numa qualquer rua. Lembro-me. Lembro-me daquela infindável e suavemente perfeita noite de Verão em que o meu amor morreu.

Monday, January 10, 2011

Pain in the heart

A vida é simples. E às vezes o amor é linear. Tu é que tens os olhos iluminados com outra cor, tu é que nunca viste a simplicidade de uma existência pacífica e essa visão nunca se tornou válida. Foi por isso que a amaste e foi por isso que a não amas já. A simplicidade dela desenhou o inicio e o fim do teu amor. A vida nunca foi simples para ti, o amor teve sempre o peso da filosofia. A essência humana justifica tudo sem explicar nada. A simplicidade dela fazia-te ver uma outra realidade mais suave e mais bonita. Mas ela tornava tudo demasiado fácil. E a tua vida nunca foi fácil. Ou linear. O teu ego era filosofico ninguem se importou alguma vez com a melodia que orientava o teu coraçao. E deixaste de o ter em parte. Tornaste a tua mente equilibrada. Existencialista. Livre.
E não há nada de simplista no conceito de liberdade. Ela sempre foi simples, nunca foi livre. Amaste-a , mas os teus olhos sempre foram de uma outra cor. A da liberdade. E nunca foi uma escolha tua. Nunca foi linear, a tua forma de demonstrares que estas vivo.

Monday, January 03, 2011

Movimento Anti-Regras

Que azáfama com as regras! Vais acabar por premiar quem as souber quebrar com originalidade. Mas quem as não cumpre recebe a tua penalização, nunca tiveste esse espirito criativo que te permitia ser um Ícaro que venceu o Sol porque era espontaneo, as convenções normalmente são nocivas .
E eu vou continuar a ignorar as regras literárias das vírgulas e as palavras sem acentos continuam a ser perceptíveis. É o conteúdo que importa, o resto não deixa de ser ornamentação. Se compreendes o que escrevo, entao o resto é ornamentação.
Que azafama com regras que so ficam para a historia porque serão quebradas! Penaliza-me o que quiseres. Nada tem haver com as incorrecçoes com que escrevo, tem a ver com os mestres que sigo. Todos eles muito maiores que tu, cumpridor cego de regras obtusas.Ao contrário dos meus mestres que inventaram novas regras à força de as quebrarem por serem vazias
.

Sunday, January 02, 2011

O Amor

Disseram-lhe que o amor era isto. Uma forma bonita de coexistir com uma morte permanente.Mas so recorda os traços do teu rosto quando a morte lhe aconchega o sono.
Talvez tenham razao. E o amor seja so uma metáfora que mantem o espirito faminto por uma nova sensação. Mas é irrelevante, a pele dele memorizou a essencia do teu sorriso. E, quando uma qualquer consciencia dolorosa e humanamente avassaladora lhe atravessa o peito, lembra-se que te sente a falta e uma dor pacifica instala-se.
Talvez o amor seja so uma forma diferente de se entregar o coraçao a uma morte que se alonga no tempo. Mas, quando adormece, a tua memoria protege-o de pesadelos reais e ele perde o medo de morrer. Porque, se morrer, é de uma forma melodicamente bonita.

Rosa Azul

A melodia do silencio deixa que o calcario escorregue pela tua consciencia. Falhaste. Porque a tua tristeza sempre foi melancólica mas violenta .
Ela esperou por ti.Incansavelmente. Naquela esquina sombria. Ela esperou , esperou que o tempo te trouxesse com ele nas suas esquivas formas de governar o mundo. Mas tu nunca chegaste porque deixaste a tua rosa morrer. E percebeu que se chegasses , chegavas demasiado tarde e , entao, mais valia que tivesses morrido. Mais vale nunca do que demasiado tarde.
Falhaste. E é um desconserto que não consegues apaziguar na tua alma. A figura dela, expectante, crente. A esperança que é o inicio da ruína. E o abraço que nunca lhe deste porque a tua rosa morreu. De que te valeria ofereces-lhe todas as flores de todos os jardins? A tua rosa morreu, as tuas mãos estariam sempre vazias.
Melhor era que ela te desse como morto. Perdeste a tua rosa. Mesmo que que a tivesses encontrado naquela esquina, não serias tu. Porque a tua rosa morreu nas tuas maos à força de a quereres, desesperadamente, salvar.

Saturday, January 01, 2011

Fénix

Um dia calmo, igual a tantos outros. São todos semelhantes, os dias, a diferença és tu que a fazes e, às vezes, a vida é demasiado simples para não seres atingido com essa complexidade existencialista que distorce o raio de luz.
No meio da rua, no meio de uma multidao sem rosto. Anónima. Como são todas as multidões. Respiras fundo e tapas o teu rosto singular com o capuz do casaco, queres ser reconhecido pelo não-reconhecimento. É uma metáfora desfocada e cheia de nevoeiro. Todos estão expostos e são todos demasiado pouco para mostrarem qualquer tipo de espirito.
Respiras fundo. Paras no meio do passeio. É uma loja de brinquedos, é uma loja de crianças. Ah, foi o inicio do teu pesadelo, foi o teu momento de maior felicidade. Foi o inicio dessa tua tortura arranhada e arrastada, procura anular-te melodicamente em vez de te assassinar. Foste uma criança brilhante, brilhante à tua maneira. Foste tu e todos desenharam traços da tua personalidade, da tua vida e tornaste-te grande. Tornaste-te o melhor de todos. Tornaste-te no rosto que se reconhece no meio da multidao vazia porque é impossivel verem quem és. So se ve o que és e isso eles não vem. Foste uma criança feliz, foste uma tarde de Verão com o som da Orion e aroma de amoras e tornaste-te numa fénix. Mas não há fenix nesta realidade e tu és so um homem melancolico que parou para observar uma loja de brinquedos. Porque foste uma infancia feliz e agora estao todos mortos, todos com excepçao de ti porque te tornaram numa fénix. Quase invencivel, quase imortal. Mas te não roubaram a sensibilidade, a humaninade. Te não tiraram o que te fazia ser brilhante: a forma perspicaz e estratega como compreendes humildemente a essencia humana. És uma fenix mas não deixas de ser uma fenix solitária.
Um dia monotono. Não te traz nada de novo porque a ausencia de novidade tambem é uma forma de inovação. E tu dominas tudo isso, tu sempre tiveste esse ego dualista que te mantem vivo sem te manter insensivel. Mas eles morreram todos, a tua infancia foi queimada. E tu estás em frente a uma loja de brinquedos a lembrar-te de uma criança que em tempos foste tu. És um sobrevivente. A tua forma de seres genial é sobreviveres humildemente, demonstrando inteligencia sem demonstrares supremacia. A tua genialidade está na forma como os teus semelhantes te penalizam por seres sempre melhor que eles. Sempre algo diferente.
Tiras o capuz da cabeça. Já o não necessitas. Às vezes torna-se exaustivo penalizarem-te por algo que não tens culpa. És um sobrevivente, um estratego inato. És uma fenix. Mas tantas vezes que preferias ter morrido. Com eles, com todos eles. Com a tua infancia. Misturas-te com a multidao , é indiferente. Estás indefinidamente descontextualizado.