Wednesday, March 26, 2014

Daemon

Sempre senti uma tentação de entregar minha alma nas mãos no Diabo por isso, talvez, escreva. Recorda-me de que a mantenho comigo.
E penso e penso e penso e escrevo, não sobre o que pensei, mas sobre essa tentação, de viver os suplícios do prazer de não ter uma alma para cuidar. Conheço-me há tanto tempo quanto conheço o mundo e, no entanto, momentos há em que ele me fascina. É o esgar de um sorriso que ficou para sorrir, não ceder à tentação, a essa tentação.  Mas o mundo perdia o seu fascínio porque eu perdia a minha alma (e para quê?)

E penso e penso e penso… mas sem pensar que a escrita é uma metáfora musical.

Monday, March 24, 2014

Ne me quitte pas

Procuro uma despedida sem fim para que não me despeça nunca. Mas um dia haverá, um dia haverá, que não poderei despedir-me. Nunca mais.
Procuro despedir-me todos os dias para ter a certeza que me despedi, que te disse quão pesada será a tua ausência para mim. Procuro orientar o meu afecto enquanto ainda tem um correlato no mundo.Procuro despedir-me a cada momento porque o coração é frágil, sempre frágil, sempre fraco.  Nunca cresce para uma compreensão exacta profunda.
Procuro despedir-me para me perdoares das minhas culpas. So soube ser eu ( só sei ser eu). Sentir-te-ei a falta, culpo-me de todos os instantes em que tinha algo de mais importante para fazer. De todas as minhas zangas, de todas as tuas.  Sentir-te-ei tanto a falta que, qualquer instante de dissonância, é um instante de morte. Por isso despeço-me, para que me perdoes e fiques. Mais um pouco e mais pouco...
Mas já me despedi e tudo o que tinha para dizer já disse. Já confessei o meu mais fundo afecto numa só palavra. Que é a única que pode ser dita, a única com verdadeiro sentido. A única que sintetiza o tudo e o harmoniza.

Tudo o resto, é porque não quero despedir-me, despedindo-me todos os dias. Culpo-me sem nenhum acréscimo de culpa, só quero que continues mais um pouco, mais um pouco, mais um pouco...