Sunday, September 11, 2011

Dia de trabalho

É a ultima noite de liberdade, vivo neste mundo cresce em mim a necessidade de desorganizar um caos correctamente organizado. É a ultima noite de liberdade, desta leve forma de respirar e o meu corpo pede a mais tranquila das noites. Queria viver , é a ultima noite de uma epoca pacifica, de uma epoca tranquilizante. Queria esgotar a vida, observar o mar no fundo da janela dos meus olhos e inundar-me de uma vida selvagem civilizada por ideais cujos mestres já estão mortos.
É a ultima noite de liberdade, a loucura de não ter praticado loucura alguma. O desabafo da solidão, sentia-me a falta. Queria paz e o aborrecimento de um quotidiano quase apatico. Na ultima noite desta liberdade, na ultima noite antes da azafama de uma cidade pequena para tanta vida que dela escorre, so desejei a paz. Relembrar-me das boas memórias sem pensar nelas. Estou em mais que calma de existência, como que drogado por ter vivido e por ter sido louco, lucidamente louco, descanso agora. Qual o sentido de viver se não perdemos um majestoso tempo arrastado em que pensamos nas loucuras e o nosso espirito parte com as aves porque fomos livres, artistas filosofos abstractos, na forma como a vida se prendia ao estomago?
É a ultima noite de liberdade, vivo neste mundo tambem preciso de exercitar o meu cerebro. Preciso de sentir a ausência desta paz para me saber melhor no seu regresso. É a ultima noite desta leve forma de olhar o mundo, amanhã sou parte do ruído da cidade. Por isso estou em paz. Em tranquilidade existencial. Porque sou livre, não me roubará isso um caótico quotidiano que só os ignorantes apreciam. Sou livre, terei a mais descansada das noites porque sempre fui livre e guardo memorias de ser livre debaixo da pele.

Roma

Choro por ti. Choro por mim, não quero o mesmo destino triste, partilho já uma parte do teu fado. A tua essência, tão humana, foste deus tendo tido sempre uma carne fragil. Queimada, destruiste-te a força de te construires, algures o teu sonho afundou-se em ti e acordaste no dia seguinte com tanto vazio dentro de ti sem te aperceberes sequer.
Choro por ti, pela tua fé quebrada. Tão mortal , tão magnificiente, tão falivel. Uma sucessão de sucessos que conduziu ao pior dos fracassos. E hoje o teu rosto é relembrado pela tua loucura quando perdeste a tua fé e o quando o vazio te guiou. Foste cruel, foste desumana, perdeste-te e continuaste de pé na teimosia de quem não aceitou que morreu. Perdeste a tua dignidade em honra de um tempo que se já tinha petrificado e és relembrada por isso. Quando a tua fé se afundou na concretização errada de um sonho bonito, afogou-se a tua grandiosidade. Afogou-se a tua utopia.
Choro por ti e lamento por mim, procuro-te sempre nas entrelinhas aborrecidas e cansativas do meu quotidiano. Lamento por mim, tenho a astúcia crua do teu pensamento a iluminar-me a sombra. Mas tenho-te saudades, tantas saudades, abro a janela na noite profunda e o teu aroma paira na cidade, ergueste-lhe os alicerces civilazacionais. É um vento discreto, porque perdeste a tua fé devagarinho, deixaste que a única religiao que alguma vez te moveu dissolver-se na poderosa magnificiencia que estava envelhecida. Mas tenho-te tantas saudades e esta é uma noite calma, tranquila, guerra nenhuma vigia o céu, ninguem te precisa, nem eu invoquei a tua estratega perspicácia. Choro por ti, lamento tanto a tua triste história cadenciada numa melodia cheia de lógica. Humana, lógica humana.

Monday, September 05, 2011

Jim Morrison

No teu corpo desfeito entregam-se os teus crentes . Dissolvidos pela tristeza de já não existires, preenchidos pela existência divina inovadora, abstracta magnificiente que tiveste ( que tens ainda).
No teu corpo desfeito deixei eu a minha melhor melodia , deixei eu o meu clandestino cigarro numa cidade que não é a minha. Sou teu crente, deus homem , morto por um tempo que não era o teu. Sigo a tua voz que ainda hoje é signo de futuro. Sigo a tua melodia ímpar e encontro-te vivo na morte que te definiu antes de sequer ter eu aberto os ouvidos para saber de que cor é o mundo.
Ao teu corpo desfeito deixei eu o meu obrigado mais profundo honesto, a mais elegante e sincera arte que em mim escorre. Sigo-te, que seria de mim sem a tua existência para me fazer companhia na solidão gelada de uma noite demasiado quente? Ao teu corpo desfeito deixo eu a prova de que a tua vida não foi inutil. De que não foi vazia, de que não és um corpo oco.Foi crueldade ignorante alheia, a tua morte.

Apolo

Metáfora da clarividência, quebras o silêncio da noite com a melodia do sol que és.Símbolo da luz, trazes contigo a calma e a perseverança que se nunca alongam o suficiente.
Deus jovem, mortal de tão Homem, viram-se para ti as orações mas só as ouves quando tens tempo. É difícil o teu ego, tens uma crueldade momentânea egoísta. Mas tens em ti a arte, nenhuma melodia se assemelha a beleza da tua lira. Tens o dom de iluminar as trevas nocturnas que se instalam nos corações dos homens, tens o dom da cura, atenuas a dor, Deus da medicina, atenuas o sofrimento. E tens mais dons aínda, num combate oblíquo com o mais negro que em ti respira.
És homem de tão sedento de prazeres baratos, tens tudo em plena magnificiência e perdes-te nessa leveza de seres Deus. És dual, ego diagonal, és pai dos Homens.
Metáfora da clarividência, entrego a ti a minha oração, Deus da música curandeiro. Nessa melodia única da tua lira mora o meu antigo coração.