Ele tinha qualquer coisa de único, o sorriso dele trazia algo de novo aquele sitio cru. Ele era algo de velho, algo que sempre existiu. Mas ele era ele, apenas ele, contra o mundo, porque era uma firme existência. Ele incorporava a velha resistência da inovação perante o conservadorismo.
Nao que soubesse muito de filosofia ou que tivesse um entendimento peculiar com a arte. Era comum, sabia apenas o que sabia e julgava saber tudo o que sabia. Mas a agressividade carismática como se defendia da ignorância que nao reconhecia concedia-lhe um genuíno sorriso de quem procura viver o melhor que sabe. E tinha este encanto, de quem se esforça por sobreviver dignamente, magnificientemente, sem que espere que o esforço, por si só, seja recompensado.
Mas, um dia, o Inverno foi rigoroso, trouxe neve e trouxe um frio desumano. E ele nao sabia filosofia nem tinha um entendimento peculiar com a arte, sentiu-se igualmente triste como se sentiram todos os outros que nao tinham nada de único. Nao foi capaz de ver algo diferente na ideia alheia. Sentiu-se melancólico e só, procurou o conforto onde tinha uma certeza firme de que o encontrava. Porque ele tinha um pensamento genuíno e próprio mas nunca pensava sobre o que nao sabia e nunca se consolou na arte. Procurava ser rei, rei daquele contexto, nunca quis ser rei de si próprio por ter uma essência cicatrizada que nunca sarou inteiramente.
Ele teve qualquer coisa de único. Mas ter é pouco perante ser. E o ser é um longo caminho de escolhas, normalmente, oblíquas e existencialistas. E requer dignidade no seu mais alto ponto e um esguio mas conciso conceito de liberdade que se perpetua na propria existência.
Ele foi algo de único. Até ao dia em que trocou isso por um consolo comum só para ser moderadamente feliz por um instante. E permaneceu nesse momento.
Ele foi algo de único. Já morreu como morre tudo. Morreu infeliz e insatisfeito numa patética procura de se sentir feliz com aquilo que nao desejava. Ele teve algo de único.
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