Friday, February 25, 2011

Arte

Uma certa paz invade-me as vezes. Sinto uma enorme vontade de deixar o Sol entrar pela janela e aquecer a minha essência. Porque quando todos entregaram a Deus os seus sofrimentos eu alonguei o meu coraçao na arte. E a arte tornou-se no meu único Deus, a única forma de não praticar ateismo. Ou obter das entrelinhas da minha existencia um argumento filosofico agnostico.
A arte, sob qualquer sensação, é a minha religião. Desde a arte do heroi que libertou um país pela sua bélica crença na liberdade ( que lhe custou apenas a mortal vida) à forma como , de vez a vez, a tua voz me aconchega os pesadelos e os tornam irreais. Ou aquele quadro onde revejo, egoistamente, uma parte do meu ego que nunca lá esteve sem deixar de, efectivamente, estar lá ou o não veria.
A Arte é o meu único Deus. É o Sol que entra pela minha janela e torna o espirito leve. É a minha única religiao. E sou feliz com ela quando a tristeza , que chega sempre, nada pode contra este Sol quente e radioso. E estou em paz. É tudo o que importa. Tambem eu tenho um paraíso e um inferno, não são iguais aos teus mas não são menos verídicos ou válidos.

Tuesday, February 15, 2011

O Novo Aquiles

Quando sentires o doloroso e alongado chacinar da tua essência, será já tarde. Quando sentires o estalo cru dos teus ossos. Já é tarde.
Ah! Não vês? Ele herdou a força e a magnificiência de Aquiles mas a consciência da fragilidade do calcanhar oferece-lhe um destino diferente. E torna-se ainda melhor e maior ao reconhecer em quem não se quer tornar. Não quer ter qualquer semelhança contigo.
Por isso, nada podes tu contra ele, contra alguem como ele. Nada ganhas ao tentar vencer a suave e fria perspicácia dele. Diverte-te agora, enquantojulgas que podes. Enquanto a consciencia bruta de que és nada e miserável não está definida no teu corroído espirito, julgas que podes tentar humilhar um teu semelhante. A tua aguda e estridente ignoranância transforma-te nesse triste ser que não sabe viver.
A tua patética ignorância te não deixa ver que ele é um Aquiles renovado depois de lhe teres esmagado o calcanhar. Tornou-se ainda mais bélico e mais estratego, quando desejar entrar na guerra vence-a. Facilmente.
Quando ouvires o som dos teus ossos estalarem, quando sentires todos os teus musculos rasgados como papel, será tarde. Não devias ter tentado esmagar-lhe o espirito. Entende, ele é o novo Aquiles, ao proteger o calcanhar tornou-se invencível. Enquanto tu és apenas mais um triste e decadente mortal que se gasta em cobardias porque, quando te olhas ao espelho, tens essa inegavel certeza de que és pouco, de que és miserável. De que nada vales.
Ele é Aquiles, ao proteger o calcanhar tornou-se invencivel. Que podes tu contra alguem como ele? Diverte-te na tua ignorancia enquanto julgas que és Rei. Rei de Nada porque é isso que és.

Sunday, February 06, 2011

Orion

Meu amigo, todos nós somos miseráveis e existem apenas dois tipos de pessoas. As que reconhecem a sua miséria e que acabam por ser melhores e maiores que a desgraça que as define. E existem as outras, que nem sequer consciência da miséria que são têm e vivem nessa arrogante ignorância ilusória de que a existência deles é melhor e mais saudavel do que a dos outros.
Como vês, meu amigo, existem dois tipos de pessoas. As que são pessoas e as que fingem que são pessoas na esperança de serem recompensadas por serem mesquinhas e pequenas. Por serem rídiculas. E patéticas. E burras. E, indefinidamente, cómicas.
Mas, meu amigo, a tua miséria sempre foi um melódico e triste desconcertar interior. E a miséria que sou é o que tu foste, talvez a tenha herdado de ti. Talvez tenha isso como legado teu, essa triste de tão melancolicamente verídica, visao objectiva e abstracta do mundo.
Porém, posso dizer-te onde duramente erraste contigo. Porque, por mais miseravel que fosses, meu amigo, existe sempre Orion que te vela e te afaga o sono. Existe sempre a Orion, a estrela que reflecte a tua grave e melodica tristeza para não seres apenas a miséria que és. Existe sempre a Orion que, ao te nunca deixar só, evoca uma esperança bélica e te torna naquilo que fizeste com a miséria que tens consciencia de ser.
Porque somos todos miseraveis , meu amigo. Alguns , simplesmente, tornam-se em algo melhor do que isso. Entregam a pureza de um ideal de ego à Orion. Porque “estamos todos na lama, mas alguns conseguem ver as estrelas”.

Tuesday, February 01, 2011

Deslize

Eles tinham isso em comum, um amor excêntrico e aberto pela música. E, para eles, a música era o ponto máximo da existência de Deus sem se preocuparem se Ele existe ou não. A música era a beleza máxima de uma vida epicurista, era a Orion numa noite fresca de Verão, era um por-de-sol numa tarde quente. A música era a cor do espirito, o que os mantinha vivos. O que os mantinha juntos. O Amor pela música alongou-se , alcançou a verdadeira essência Humana. E a música é amor, é arte, é a sombra da solidão que os nunca deixava sós.
Mas so tinham isso em comum, o amor excêntrico e desmedido pela música. E, algures, ela trocou a música por algo mais futil sem, nunca no entanto, deixar de exibir esse aberto e azul amor pela música. E ele deixou de a amar, a música era a vida dele. A música era ele. Não tinham nada mais em comum. Eram opostos. O amor que lhe tinha perdeu o fundamento.