Tuesday, February 14, 2012

Inovação

Não quero pensar – vou fazer. Há um encanto em viver assim, com a responsabilidade de praticar a liberdade. E eu pensei e a intensidade do meu peito aumentou com a possibilidade e fiz. E fiz-me me Homem assim, ao saborear a vida em cada onda do mar que cheirava ao mundo.
E podes calar-te ou podes insistir em criar ruído – sou feliz no meu melódico silêncio. Amo a música porque é toda a essência que me conheço. E tudo o que desejo é uma morte que me não envergonhe. Só quero saber viver.
Penso quando penso e penso abstractamente quando não penso, penso sem pensar. Penso com toda a sensibilidade artística para o mundo que consigo encontrar em mim.
Por isso mantém-te no silêncio ou persiste no ruído, simplesmente, me não importa. Existo. Bebo a vida e à vida. Sou feliz. A tristeza do mundo é só necessária para ofereceres à arte um encanto humano de tão profundamente sobre-humano. E para aproveitares numa intensidade desenfreada consciente os dias cheios de um Sol que te limpam o espirito de cicatrizes que já não fazem sentido.
Não quero pensar sobre o se , o se é uma porta para um conceito de nada alheio – já fiz. E sou rei de mim proprio.

Tuesday, February 07, 2012

Envelhecer (Parte III)

Ele amava-a, como nao amar? Eram correctamente complementares. A essência do ego era semelhante, a forma de o colocar activamente no quotidiano era contrastante. E ela amava-o, admirava-lhe as cicatrizes, a arte de sobreviveer crua e firme. Inspirava-se nele. E ele via nela uma beleza suave mas forte. Nao havia qualquer fragilidade, ela nao era volátil na sua efemeridade. Podia nao ser uma fonte de inspiração, mas era, sem duvida alguma, um instante reluzente que o fazia sentir-se ele , sem as cicatrizes profundas da sua essência.

Mas nunca lhe reconheceu a elegância do pensamento ou a arte de saber viver modesta e aristocratamente. Nunca lhe reconheceu a astúcia humilde e sensivel que protegiam o ego. E, um dia, o Inverno foi rigoroso, de neve suave, frio desumano. Ela vestiu o seu casaco quente e correu para a neve. Ele entristeceu-se e queixou-se do frio. Ela tentou explicar-lhe o que de tão encantador havia na neve, no frio. Ele disse-lhe que nao queria saber. Disse-lhe que todos temos que crescer um dia, envelhecer. Ela já era demasiado adulta para brincar na neve, devia ganhar consciência de que o frio congela o corpo, de que o Inverno deprime porque é triste.

Mas ela via arte na neve. Deixou de ver foi arte nele. E, por isso, nunca mais o viu

Monday, February 06, 2012

Saber Viver (Parte II)

Ela era algo de novo. Nao que trouxesse consigo uma inteira nova ideia. Nao. A novidade que trazia era a forma como se mostrava firme no amor que dedicava ao seu ego. Mantinha um bom egocentrismo, um bom individualismo que olhava ao colectivo. Ela era algo de novo na forma como articulava o porquê. Trazia consigo o mesmo vento alheio mas dava-lhe um nome diferente. E já nao era um vento comum – era o vento dela.

E sabia apenas só o que sabia, procurava saber mais em todas as esquinas de todos os instantes. Era esguia e aristrocata no pensamento que defendia, jamais dizia tudo o que sabia, jamais a venciam em qualquer duelo facilmente. Dedicava-se sempre a conhecer bem o seu oponente. Ela era melhor porque acrediatava firmemente e sem hesitações que o era. Mas mantinha-se em movimento, em constante renovação, no dia que parasse, deixava de ser autoridade de si própria.

Um dia, o Inverno foi rigoroso, trouxe consigo neve e um frio desumano. Ela vestiu o seu casaco quente e abriu expectante a porta. A neve era suave e amigavel na sua mao. Deixou-se encantar, o pensamento perdeu-se no manto branco. Imaginou. Porque a sua peculiaridade era olhar para o que todos veem e responder a um diferente porquê.

E sorriu. E foi feliz intensamente naquele instante. Em que sentiu a neve na sua pele, na palma da mão . O frio só a incomodou depois. Foi algo de extraordinário. Ela era algo de novo. Mantinha o espirito jovem. Jamais se contentava com um qualquer consolo. Ela desejava ser ela. E via arte em todos os recantos. Viu arte na neve. E foi intensamente feliz naquele instante intemporal.

Falta de Coragem (Parte I)

Ele tinha qualquer coisa de único, o sorriso dele trazia algo de novo aquele sitio cru. Ele era algo de velho, algo que sempre existiu. Mas ele era ele, apenas ele, contra o mundo, porque era uma firme existência. Ele incorporava a velha resistência da inovação perante o conservadorismo.
Nao que soubesse muito de filosofia ou que tivesse um entendimento peculiar com a arte. Era comum, sabia apenas o que sabia e julgava saber tudo o que sabia. Mas a agressividade carismática como se defendia da ignorância que nao reconhecia concedia-lhe um genuíno sorriso de quem procura viver o melhor que sabe. E tinha este encanto, de quem se esforça por sobreviver dignamente, magnificientemente, sem que espere que o esforço, por si só, seja recompensado.
Mas, um dia, o Inverno foi rigoroso, trouxe neve e trouxe um frio desumano. E ele nao sabia filosofia nem tinha um entendimento peculiar com a arte, sentiu-se igualmente triste como se sentiram todos os outros que nao tinham nada de único. Nao foi capaz de ver algo diferente na ideia alheia. Sentiu-se melancólico e só, procurou o conforto onde tinha uma certeza firme de que o encontrava. Porque ele tinha um pensamento genuíno e próprio mas nunca pensava sobre o que nao sabia e nunca se consolou na arte. Procurava ser rei, rei daquele contexto, nunca quis ser rei de si próprio por ter uma essência cicatrizada que nunca sarou inteiramente.
Ele teve qualquer coisa de único. Mas ter é pouco perante ser. E o ser é um longo caminho de escolhas, normalmente, oblíquas e existencialistas. E requer dignidade no seu mais alto ponto e um esguio mas conciso conceito de liberdade que se perpetua na propria existência.
Ele foi algo de único. Até ao dia em que trocou isso por um consolo comum só para ser moderadamente feliz por um instante. E permaneceu nesse momento.
Ele foi algo de único. Já morreu como morre tudo. Morreu infeliz e insatisfeito numa patética procura de se sentir feliz com aquilo que nao desejava. Ele teve algo de único.