Monday, June 28, 2010

Orfeu & Eurídice

Oh por todos os deuses. És um outro rosto da Eurídidice. A que pertence ao Orfeu moribundo , acabado e devastado pela morte da outra Eurídice que tem no peito. A outra Eurídice, a quem salvou a vida ao rejeita-la. A que lhe deixou um buraco profundo por ter sido uma desilusao. Não era a Euridice, a sua Euridice. Ainda está viva e ainda se sente rancorosamente rejeitada. Nem sequer compreendeu que o Orfeu dele a salvou...
E, oh por todos os deuses, já não se consegue importar com a tua morte, o Orfeu que é ele. És diferente, és independente. És livre. Te não pode salvar porque não necessitas de salvamento algum. És livre. És a Eurídice livre do livre Orfeu em que se tornou.
Mas ele continua a ser o Orfeu, o mítico. Continua a ir-te buscar-te ao Inferno. Continua a fazer qualquer coisa por ti. E tu, enquanto Eurídice, vais-te apercebendo que ele te ama, nas entrelinhas do Orfeu que ele é, vais-te apercebendo que és a sua Eurídice, a preferencia inata.
E, oh por todos os deuses, ele ama-te. O Orfeu que tem no peito. E sofre por ti.
Não se consegue importar com a sua morte crua. Desde que percebas que és única. A única. A Eurídice do Orfeu dele.

Sunday, June 27, 2010

Destruição

É o teu ser. É essa tua necessidade de posse. De seres o final estonteante de um filme de suspense. De seres uma brilhante ponte , correctamente construida, entre mundos desfeitos e separados. É essa tua psicotica necessidade de seres importante, de seres o único ser verdadeiramente importante.
Deprime-me. E entristece-me. Não porque não brilho , mas porque me vais roubar qualquer sucesso que tenha. Vais querer partilhar uma gloria que não é tua. E interiorizarás os meus fracassos, como se tivesses culpa nos meus erros. Tens, mas não no sentido que julgas. Sufocas, crias um ambiente de estufa onde tu és a abelha-rainha e todos os outros te servem. Tu reges o mundo.
Mas não sou assim, eu. Mais uma abelha dessa tua triste colmeia. Isso não sou eu, quero ser algo novo sempre quis ser um ser novo. Por isso, não contes comigo para continuar a iludir-te so para não te enfrentares ao espelho. Não vou ficar aqui, não vou partilhar o meu sucesso ou o meu falhanço. Seja o que for, é meu. E a culpa que tens é uma culpa que nem sequer reconheces que existe.
É o teu ser. Obececado em controlar porque não tem a minina auto-disciplina.

Thursday, June 17, 2010

Brilho

A tua ausencia,
Tem o cheiro do mar de Verão
Numa noite fria
E esmigalhada.

Como uma estrela fundida,
Inócua no céu de seda
Sou uma existencia
Triste e heróica
Imóvel no tempo
Taciturno.

O grito é mudo,
O silêncio ofuscou
O mundo.
E respiro, aqui
Estando em lado
Nenhum.

A dor foi beijada
Pelo vazio.
Nada sinto nada sou.
Mas tenho esta arte
Pura e primitiva.

A tua ausencia
Brilha-me na pele.
E o mundo encontra
Uma beleza fina
No meu ser
Invisivel.