Saturday, May 29, 2010

Reflexao

É sempre assim, das um pouco da tua essencia quando paras para, honestamente, olhares paraa pessoa que te sorri do outro lado . Do espelho, da perspectiva de simplesmente exsitir. É sempre assim, quando encontras preocupaçao no fundo do teu poço de sombras, arrancaste um pedaço de coraçao e entregaste-o numa caixa. E é sempre assim, este conceito alternativo de intimidade.
E o amor tambem é isto. Esta facilidade de coexistencia de egos, esta confissao silenciosa de receio e medo. Amor é ter sempre receio do conceito de fim precedido por um dramatico optimismo sensorial. Ah, sim amor tambem é optimismo. Faz-te feliz, torna-te leve e suave como o pássaro mais livre de qualquer ceu. Tudo se torna mais bonito quando te imaginas a voar.
Por isso é que é sempre assim. Se não deste um pouco da tua essencia quando paraste para sorrir à pessoa que se mantinha em frente a ti, do outro lado do espelho. Não amaste. E se ela não te deu nada seu para guardares na memória sensivel onde se guarda todos os factos pateticos que fazem sorrir nas entrelinhas de um pensamento. Tambem te nao amava.
E é sempre assim. Confude-se amor com uma ideia romantica de que há um Deus anonimo a amenizar o Universo agreste. E é sempre assim, pessoas pouco resistentes como tu atrasam a verdadeira evoluçao. Amor não é um estado de não-solidao.

Wednesday, May 26, 2010

Dureza

Continua a ser confusamente curiosa a forma como o teu Universo se inverteu e continuaste exactamente no mesmo lugar. Já não és tu e, no entanto, não poderia ser mais teu esse teu eu.
Não deixa de ser esquisita a rotina de uma época tornar-se numa memória distante da qual te lembras tenuamente. Foi a tua vida , foste tu, um eu bem definido e delimitado que depois morreu e que tu enterraste num canto da praia.
Apareceste de negro cru no teu funeral e foste o único que não gastou lágrimas prateadas. Foste o único que soube exactamente o que estava a acontecer e qual a drástica consequencia de um gesto tao inocente e tao simples. Por isso, foste o único no teu funeral cujo rosto foi firme e duro, insensivel como uma pedra. Não ias sentir a falta do teu eu.
Continua a ser estranho. Porque andaste a percorrer um circulo mas caminhaste sempre numa linha recta. Fim e Inicio. Tao simples , tao conciso, tao exacto. E, no entanto, perdeste-te nas voltas que deste.
És tu, continuas a ser tu. Mas quebraste a rotina de um eu que agora já nem sabes quem era. Tu, num mundo paralelo queimado. Não sentes qualquer saudade do teu morto eu.

Sunday, May 23, 2010

Inevitabilidades

Quanto a ele, sabe exactamente como chegou ate aqui. Vê a logica da repetição do padrao do qual não poderia fugir. Vê claramente a cor agreste do padrao simétrico e distante que nunca poderias ter evitado.
Não tens direito a esse desespero. Porque a fracção de possibilidade que ele teve foi tirada docemente por ti. Ah, que importa que não tenhas culpa? No final, tudo o que sabe, é que foste tu que arruinaste aquela existencia aurea e pacifica. Que importa que tenha sido uma fatalidade triste e melancolica ao som de um Sol que não tem força para aquecer? Que importa que tivesse sido um belo e romantico falhanço porque o amavas demais e ele amava-te e não podia nem devia? Agora está exactamente onde pertence.
Nada é perfeito. E ele vai-se sempre embora amanha, a pergunta é se sente a tua falta o suficiente para voltar sem nunca deixar de ter partido? Sim, a pergunta é essa. Consegues ficar com um pedaço dele ?
Não. Claro que não. E sempre souberam isso. Por isso é que ele sabe exactamente como chegou aqui, a esta realidade agradavel onde tu não existes.

Sunday, May 16, 2010

Inutil

“O passado é inutil como um trapo”. Ele passou pela tua rua e a memória daqueles tempos doces de cheiro a amoras selvagens brilhou-lhe no coraçao durante uma fracção de tempo. Mas depois até essa memória da memória lhe desaparece da mente. E a memória é objectiva, é fria. Não sente nada para alem de uma sensaçao de familiaridade, que é sempre uma sensação suavemente calorosa. Não sente para alem daquele arrepio de Déjá Vu porque já apanhou este autocarro antes, já saiu nesta mesma paragem antes, contigo a salvo no peito.
Mas é inutil. Porque é o mesmo eu dele. É o mesmo autocarro. É a mesma rotina, o mesmo quotidiano. É a mesma cidade, permaneceu imóvel a esse romance falhado.
Um romance falhado serve unicamente para uma especie de aviso de não repetiçao. Uma cicatriz no coraçao. Um romance falhado é uma marca sensorial e so serve para isso, para se dizer que se viveu de alguma forma de alguma maneira. Amor não existe sem um certo conceito de aleatoridade.
Foi tudo inutil, agora nada existe. Até o falhanço foi inutil. Gastaste-o e ele renasceu e já não sabe quem és.Recorda-te como se recorda de uma equaçao brilhante matemática ou de monumento magnificiente que o fascinou. Recorda-te sem se lembrar de quem és.
“O passado é inutil como um trapo”.

Friday, May 14, 2010

Destino

Se pensares bem, ele estava destinado a ser isto. Desdo o inicio. Desde sempre. O falhanço espectacular da tua propria expectativa. Se vires correctamente, como naqueles filmes memoraveis que viste tantas vezes, concluiras que ele nunca pode ser outra qualquer coisa. Para alem disto. Deste ser.
Sei que o tentaste salvar. Mas era inutil. O salvamento era inutil. Ele não queria ser salvo, nunca quis. Houve, de facto, uma altura em que procurou uma outra saida. Mais bonita, mais adequada. Mas não, não teve essa oportunidade. Acabou exactamente como acabam as pessoas como ele.
Etende. Ele quer perder-se em cigarros sombrios, em uisques sucessivos. Ele quer ser esse ser. Ele nasceu para ser esse ser. Podes esforçar-te por evitar mas não podes bloquear aquele nervo sensorial e consciente que o leva exactamente para onde pertence.Para onde lhe guardam um lugar.
O mundo dos loucos. É esse o seu lar. Bem tentou ele, ganhar outro lar contigo. Mas foi inutil. Ele tambem é louco, sempre o foi. Sempre o será. Aquilo a que chamas salvaçao é uma forma de vida.É a forma de vida dele, desde o inicio. Desde sempre.
Ele é feliz assim. Inteiramente louco. Inteiramente ele. Adiaste este destino, mas não o podias bloquear. Ele é ele, nasceu para isto. Foi tempo de vida inutil que gastaram os dois.
“Life is ours and we live it our way.”

Thursday, May 13, 2010

Carta de Despedida

Afogar a mágoa em qualquer coisa , ainda que seja corrosiva, soa melhor do que deixa-la viver a vida que ainda existe em mim. Deixa-la viver a existencia que é a minha.
Lamento.
Se não estás aqui é porque , lá no fundo, nunca quiseste ficar e eu nunca quis que ficasses. É porque, lá no fundo, não existes. Já não existes. Os mortos algum dia acabam por ser esquecidos. Nunca quis eu, verdadeiramente, que ficasses.
Lamento.
Por mim. Porque todos os mortos serão esquecidos, um dia. E sei que algures morri. Haverá um dia em que já não saberei quem sou. Haverá um dia em que me esgotarei em pensamentos inuteis e vazios. Precedentes de actos que nunca executei. Algures, morri.
Lamento.
Que me tenhas ferido na única coisa intocavel na existencia humana – o meu conceito de futuro.

Sunday, May 09, 2010

"Scream of the butterfly"

Que dia é hoje? Que importa? Todos os dias são iguais, uns mais proximos do Inverno e outros mais proximos do Verao. Todos os dias são iguais. Não teimes nisso, em entristecer-me ao som da tua expectativa genial frustrada e violentada. Todos os dias são diferentes, cada dia é divinal , mesmo que nenhum de nos se aperceba disso. Não me arrastes para essa tua tristeza desmedida de uma vida mal vivida. A miséria não procura companhia, procura uma justificação para se entregar a um suicidio aborrecido.
Deixa-me em paz, deixa-me só na minha felicidade de ser sozinho. Te não necessito. Lamento, és mais do que inutil. Crucificas a paciencia. Deixa-me aqui , feliz comigo. Procuras emendar a tua triste e patética vida no meu futuro que ainda se não concretizou. Mas, etende, o futuro é meu e vou dar-lhe o som que melhor me soar. A tua opiniao é so isso, uma opiniao. Tiveste a tua oportunidade de decidir o som que querias ser. Se a perdeste não me culpes, não me responsabilizes. O som que perdeste era o teu, eu tenho o meu . Não é algo que se transmita. Se falhaste a vida é culpa tua.
Que dia é hoje? Não quero saber. É um dia comum em que decidi quem quero ser.
E adeus. Não sou essa pessoa, que fica para te fazer menos infeliz. Devias ter vivido quando podias , se agora é tarde para ti é cedo ainda para mim. Lamento, adeus.
Sei exactamente que dia é hoje. É o dia do grito da borboleta. O dia da Liberdade.

Thursday, May 06, 2010

Obsessão

A consciencia cai sobre ele como o fim temático e lógico de um intimidante filme de terror. Não, não é ele que é louco. Ou boémio. Ou desfasado. O problema és tu e essa tua desmedida maneira petulante de ver o mundo. Talvez um dia descubras que ele é rei de si proprio, tem a ideologia debaixo da pele. Não te necessita, não necessita de qualquer voz autoritária que o faça esgotar a vida num sonho que não é o seu. É o teu.
Ele é livre. Um dia vais ver isso. E que ainda não endoideceu. O mundo não ve a sua insanidade porque ela, na verdade, ainda não existe. Teve o mérito de a tornar util, canalizou-a artisticamente para algo que faça sentido. Por isso é que a arte lhe vive nos poros da pele e do espirito. Resume toda a doença que ainda não lhe conseguiste incutir.
Porque ele não é doido. Tu é que és. Tu e todas as tuas manias. Tu e todas as tuas ideias psicadélicas e distorcidas sobre o Amor. Porque nada disto tem que ver com o amor. Não podes cobrar-lhe uma expectativa falhada. Porque se são as tuas expectativas devias te-las cumprido tu. Construi-lo para cumprir o destino no qual te mostraste incompetente , na tentativa de desenhares o vazio do mundo perante a tua genialidade. É cruel.
E é inutil.
Porque a consciencia cai sobre ele como o fim de um brilhante filme de terror. No final, o assassino frio é ele. Só que é em legitima defesa, a perspicácia absolutamente louca brilha-lhe nos olhos.

Monday, May 03, 2010

Liberdade

Acorda todos os dias e leva a mao ao rosto , levemente preocupado com o que faz com a sua existencia. Suspira. Suspira outra vez. Arrepende-se de qualquer coisa. Talvez.Tem uma sensaçao estranha a passar-lhe pela pele.
Provavelmente acordou demasiado tarde, os olhos custam-lhe a abrir para encarar o sol do mundo. Provavelmente demorou demasiado tempo a adormecer. Tem algo fixo na mente que tende a não despegar do peito. Provavelmente, vive essa ideia até ao limite que consegue imaginar. Sente uma enorme vontade de ser ele proprio. Sente uma enorme vontade de beber a sua bebida alcoolica preferida até gastar toda a sede. Sente uma enorme vontade de esgotar todos os cigarros que ainda não comprou. Sente uma enorme vontade de procurar a rapariga que lhe realça o nervo azul que o mundo desconhece.
Todos os dias quando acorda leva a mão ao rosto. E, quando se questiona sobre o que anda a fazer com a sua vida, está implicita na reflexão uma ausencia de futuro que o extasia. O amanha existe mas tem cores indefinidas. Está presenta na pergunta uma suavidade boémia, retrato do ser que ele é. Do ser que ele quer ser.
Não sabe o que anda a fazer da sua existencia. Nada lhe dá mais prazer. E nada lhe garante que está a escolher algo que não deixa de ser correcto. A preocupação é um acto de consciencia social, ele gosta de ter sentido nenhum.

Sunday, May 02, 2010

Last Kiss

Posso dar-te a mao mas, etende, isso não vai anular a tua morte. Morremos todos. Mas dou-te a mao, agora e sempre. Porém, etende, é indiferente. Não a vou conseguir aquecer eternamente.
Posso fingir, por fracções de momentos, que existe uma hipotese de me tornar exactamente naquilo que gostavas que fosse. Até posso fingir, mas compreende, é a tua desilusão. Provavelmente mais vale veres agora o monstro que acarinhaste e que nunca será principe algum. Não, não negues. Sabes que é verdade, vejo o meu reflexo de monstro nos teus olhos. Sempre vi, era esse o teu encanto. O silencio seco e duro de um facto duro inegável.
Posso dizer-te palavras mais agradaveis e mais bonitas. Mas o fim é sempre o fim. E depois do fim existe sempre nada. Posso dizer-te palavras que aliviem a tua consciencia mas nunca vao atenuar a dor no peito.Já devias saber que o teu coração é muito mais largo e pesado do que alguma vez a tua existencia será. Apesar de serem uma mesma coisa.
Posso dar-te a mao, mas etende, é irrelevante. Eras a minha rosa e agora és uma rosa enjelhada e rasgada. Posso dar-te a mao mas , observa, já morremos os dois.