Friday, July 27, 2012

Crescer sem nunca ser adulto


Quando o espirito começa a ter consciência de que é jovem, a sombra que marca a tua presença na rua é limpida, escorre pela calçada. Porque em tantas opções terás de escolher uma, nem que experimentes esse obliquo trilho de escolher opção nenhuma, escolheste uma das opções.
Mas, mas às tantas divides as oportunidades que tens e ficas com aquelas que mais te agradam, vives umas, sonhas com a vivência de outras e gastas assim os teus dias debaixo do Sol de um final de tarde de Verão demasiado quente. E relembras, relembras minuciosamente aquele olhar, aquele olhar naquele rosto que costumavas amar, a ausência de emoção na tua direcção, a observação pormenorizada de cada um dos teus gestos. Erraste a opção e sentaste-te feliz a vive-la, mas estava errada, relembras aquele olhar naquele rosto que amaste e que deixaste de amar, seca uma parte do teu coração, encontraste o limite do proprio Amor.
Quando o espirito começa a ter consciência de que tem de ser credivel para o ego poder existir na sua maxima plenitude, os teus pensamentos prendem-se nos imensos predios que te rodeiam, guardam-te memórias. Pedras, cimento, betão e, mesmo assim, velam por ti as memórias que te pertencem. E repensas, repensas, quantas opções erradas fizeste, amplamente intencionais em todo o teu ser, quiseste faze-las Foste esse ego, não ha nenhum erro, houve consequências desagradaveis. É tudo. Tornam-se os prédios apenas prédios, largaste as tuas memórias no vento para teres novos erros. Porque o espirito teve a mais nitida consciência de si proprio de que era possivel.

Thursday, July 26, 2012

"Adeus"


A arte sempre foi dele, esvazia o conteúdo das palavras na sua escrita persuasiva, oferece ao piano a melodia ternurenta de um pequeno conto inspirador, de uma pequena história para crianças que só faz sentido se os adultos a compreenderem. A arte sempre foi dele, toda aquela doce loucura que ampara e protege, dá abrigo na sua credibilidade.
Mas ele perguntava-te, perguntava-te, entre o alcool e o cigarro, depois disto tudo, o que é vem? Seguravas-lhe a mao, depois vinha o amor. Mas esgotaste esse gesto à força de não compreenderes a pergunta existencialista dele.  Esperou sempre por ti, mesmo sabendo que nasceste atrasada, esperou por ti sempre, firmemente, sem um traço de hesitação na postura, sem um esgar de irascibilidade como se conseguisse o feito de te amar pelos teus defeitos sem, verdadeiramente, os ver. Mas depois perguntava-te, perguntava-te, depois disto o que é vem? E tu respondias que vinha o amor e apontavas para o relógio , dizias-lhe que o tempo ainda é jovem, os minutos seriam segundos até ao fim. Mas esgostaste todas as ruas nesse afecto à força de queres não compreender o que ele te estava a perguntar, algures, tornaste tudo inutil, até o tempo era oblíquo no horizonte.
A arte sempre foi dele, amava-lo pela sublime forma como toda a essência, todo o amor, todo o sentimento lhe douravam na pele que ele transpunha obedientemente para uma folha de papel ou para as teclas do piano. E sentavas-te a ler ou a ouvir e amava-lo por veres nas suas obras toda a beleza dele. Mas ele perguntava-te, perguntava-te, depois disto o que é que vem? Um dia, esta pergunta cortou-te o coração, invalidou-o, já la estava o teu amor, sentiste o frio  a congelar-te o corpo : onde estava o dele? Mas ele perguntou-te novamente, depois disto o que é que vem? Vem a eternidade, a eternidade até a morte, a tentativa de felicidade todos os dias. Mas ele perguntou-te de novo, não entendeste a pergunta, zangaste-te. Ele não percebia a resposta.
E, depois, um dia ele comprou um bilhete, um pequeno papel que lhe dava a ida sem regresso algum. Pensou em ti, pensou como esgotaste a tua mao a força de a apertares contra a dele,  esgotaste as ruas numa espera que perdeu significado, gastaste o proprio tempo. Gastaste o amor dele. Olhou para o bilhete, sorriu e pensou : e depois disto, o que é vem? E despediu-se de ti, o amor é inutil no passado, a sensação é válida enquanto dourar na pele. Guardou o bilhete no bolso e disse-te adeus.



Inspirado em Adeus, de Eugénio de Andrade

Monday, July 23, 2012

A chegada do Mestre entre a multidão - Parte II


Sempre tive uma vontade inata de um dia fugir com os pássaros que alongavam as frageis asas pelos vidros das janelas da minha casa. Mas havia uma invisivel força que prendia o corpo a esta terra alheia e eu ficava a ver os pássaros pousarem os seus habeis corpos perto da minha janela e depois partirem, uma parte de mim, sempre partiu com eles, vivi sempre em duas realidades sem nenhuma região intermédia.
E olhava a volta, a miséria da desgraça latente alcançava-me sempre e gritava, gritava mas era um mudo som, ninguem ouvia. So queria ser eu, ser livre, so queria não ser a desgraça que, de uma ou de outra forma, me alcançava sempre. Só queria ir com os pássaros, so queria abrir a janela e fugir.
Um dia, um dia gritei mais do que é costume, gastei os pulmões, um pequeno trilho de sangue surgiu ao pe de mim mas continuei a gritar. Queria gritar, queria que ouvissem, não endoideci, não desisti, quero e serei livre. Por isso continuei a gritar, gastei a força e fiquei de joelhos mas, mas mesmo assim gritei, o sangue tornou-se num reflexo que via quando olhava com atenção para a poça vermelha estendida no chao, mas continuei a gritar. Ninguem parou para olhar, era simplesmente alguem firme e em pé que numa melodia cortante dizia que o mundo, este mundo, está algures errado, que não tem de haver resignação, a felicidade é algo mais do que ir vivendo a vida devagarinho. E era mentira, estava de joelhos a gastar a voz que já não tinha num grito mudo que ninguem ouvia, ninguem ouvia mas via nos seus olhos que me encontravam arrogante mas, mas eu so queria ser eu, ser livre, ir com os pássaros. Depois perdi a força , perdi até a voz que não tinha e já não me conseguia levantar. Ninguem reparou.
Mas, depois, senti um puxão, alguem me levantou pelo braço e disse que tinha ouvido o meu grito de Liberdade. Deixou-me sugar toda a vida do seu braço para me conseguir levantar.
E, e depois, fui com os pássaros e ele ficou, quem me tirou da multidão enquanto me desfazia em sangue. Ele, ele foi toda a diferença – ouviu-me.

O Nascimento do Mestre - Parte I


Não é o secalhar posso fazer a diferença, eu sou a diferença, sou a excepção. Posso te dar a mão se quiseres encontrar a força que já perdeste, não sou nenhum meio, sou apenas um começo, caso a força original – a de querer sobreviver à crua sobrevivência- exista em ti, tao naturalmente quanto o acto de respirares.
Mas não faço diferença nenhuma, sou uma. Sou-o porque quero ser, não porque posso, ninguem pode, é teres ou não essa vontade. Mas não faço diferença alguma, não nasci a ser uma, alguem me tornou a excepção, eu vi e vi já demasiado tarde a desgraça, vi já demasiado tarde para qualquer diferença que eu pudesse fazer. Para me fazer sentir melhor porque a diferença jamais viria de mim, a desgraça não chegou a minha pele, alcançou foi a consciência. Por isso, sou uma diferença à força de ver a desgraça acontecer e sentar-me a ser impotente. So não sou integralmente inutil se for a diferença.

Wednesday, July 18, 2012

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite"


Procuraste-o incasavelmente e um dia encontraste-o. Ah, a beleza dele era algo de extraordinario, a mistura homegenea entre o ser e o saber ser, o controlo e a genuinidade, a perspicácia entrelaçada com uma fé inabalavel. Ele era extraordinariamente belo na forma como o rosto era o reflexo do mundo, dele proprio, do passado que existiu e aquele que devia ter existido mas que foi cortado pelo futuro que ele insistia em ser. Ah procuraste-o e um dia encontraste-o, sentaste-te com ele, compreendeste Neruda e procuraste mais poemas e ele olhava-te e  sorria-te na cumplicidade. Ele, um deus discreto humano, exótico e mordaz, ambivalente em todas as esquinas de todas as decisões. Tornava a vida real porque era livre, livre até da probabilidade, do que era esperado.
Nas tuas mãos repousa o livro de Neruda, lês o poema mas não o compreendes ou compreende-lo demasiado bem, é quase o mesmo. Lês sem ler porque não te ajuda, não te ajuda a conseguires existir mais pacificamente. E, bem no fundo, não lhe dedicas ódio nenhum, apenas querias que ele ficasse. Mas ele era imprevisivel, uma potência de vida calma sempre em movimento contínuo que, quando se aborrecia, esvaziava os afectos dos bolsos e, simplesmente, ia-se embora. Como se não importasse porque, bem no fundo, nunca lhe importou.
Procuraste-o incasavelmente e quando o encontraste e ele deixou que o amor se instalasse, tu foste esse ser. Livre, extraordinariamente atraente na forma como existias e sabias existir, o amor é o mais alto narcisismo. Não é que o odeies, simplesmente, ele roubou-te esse reflexo que tinhas no espelho. Podes escrever os versos mais tristes mas não consegues, não queres, esta não é a ultima dor que te causa, roubou-te a tua propria beleza quando se foi embora. E seguras o livro de Neruda e, subitamente, apercebes-te que o amas , que o amarás sempre, ele era um quente deus humano. Vai-te sempre causar essa dor, o reflexo dos olhos dele que nunca mais vais te, a visão da mais alta potência de vida.
Simplesmente, amaste-o.

Tuesday, July 17, 2012

Ser-se ateu


Somos diferentes , não é exactamente a mesma ideia porque quando , no auge da tua dor, procuraste Deus e ele não estava lá assumiste que ele não podia existir. Proibiste-o de existir porque te deu a dor, obrigou-te a senti-la em cada poro da tua pele e deixou-te a sos com ela. Deus , esse deus, não podia existir e tudo o que sobrava eras tu. Ganhaste-te a ti, entao, ateu de coluna estreita e firme. Elegeste-te como teu deus, a tua fé era a fé que tinhas em ti, deus roubou-te mas continuavas vivo.
Mas eu, alturas houve em que procurei Deus em todas as esquinas de todas as ruas sem nunca o encontrar, não senti a Sua presença, o Seu amor ou o Seu perdão. Tudo era vago de uma forma vazia. Mas insisti em procura-lo, queria que ele tornasse a minha dor mais leve só pelo facto de existir. Procurei-o em todos os sitios e, um dia, encontrei-o. Estava sentado com roupa suja e um olhar triste a segurar um copo de uisque num bar alheio.
Porque é um mundo de homens, é apenas um mundo feito e vivido por homens onde Deus não tem espaço para existir. E isto é verdade absoluta, para mim, no meu mundo, Deus apenas está  a mais. Não me faz sentido que me tenha roubado alguma coisa, isso podia ser devolvido.  É apenas um mundo de homens. A tua não crença é uma forma esquisita de crer – porque em algum instante esse deus que garantes que não existe fez-te quem és.