Thursday, December 17, 2009

Amanhecer

Amanhece demasiado cedo. A única vantagem é a consciencia bruta de que somos ainda muito novos. Para morrer. O dia amanheceu, nasceu agora, existe mais do que tempo para se existir tranquilamente; para reagir bem e de forma eficaz ao recente universo agreste.
Amanhece demasiado cedo. E é so nessa hesitação trémula linear, nesse instante tenso em que já é manhã mas o céu aínda é negro que sinto a tua falta. Talvez por termos existo nesse momento em que o tempo é indefinido. Ou talvez porque é uma fracção temporal sem destino, sem expectativas. É apenas transitório. No segundo a seguir é dia e no anterior foi noite profunda. O segundo intermedio que nunca existiu não possui qualquer ligaçao ao real.
Mas amanhece demasiado cedo. E apesar de sermos demasiado novos para morrer. Envelhecemos tanto que já não somos os mesmos.

Monday, December 07, 2009

Reflexão

Como é que falhámos tanto? Como é que nos tornámos nestes dois desconhecidos que se reconhecem em silêncios mudos , marcas de batalhas patéticas vencidas?
E como é que ainda não te apercebeste que sempre fui essa fraude? Sempre fiz a viagem ao sítio que não tinha qualquer interesse em conhecer, sempre tive um sucesso relativo naquilo que nutro um profundo e legítimo desprezo. Compreende, comigo tornas-te naquilo que gostavas de não ser: o eterno deslocado poético, duro estratego e afável.
Mas a minha componente de falha não é surpreendente, a falha sou eu. A minha existencia e a forma como vivo é um erro, a minha filosofia é um erro. Mas tu? Sempre foste a flor mais bela de um jardim pequeno que quando morre as pessoas só choram por uma fracção de segundos. A tua unicidade e especialidade sempre foram relativas.À primeira e superficial vista, todas as outras flores têm o teu perfume .
Como é que falhaste tanto? E propões-te a continuar a errar dessa forma poeticamente afável. Talvez até suavemente inócua.
Como é que falhámos tanto? O mundo. O eterno caos. E o nosso inocente pecado.