Sunday, July 12, 2015

O vento do Sul

Desejo uma réstia de esperança no final de noite. E quando abro a janela à noite, encontro aquilo que curaria tantos vultos deambulantes: o vento fresco nocturno vindo do Sul refresca as velhas memórias para que não se percam nas areias do tempo.
E aqui, quando abro a janela, não há moralismos falaciosos. Nem tão-pouco o sentimento de que cumpri exigências alheias - para merecer a recompensa de ter sido bem comportado. Quando sinto a noite de Verão de textura absolutamente perfeita, o único dever que cumpri foi o meu e o mundo que se afogue nas suas pequenas regras, com a sua mesquinhez de quem lhe basta cumprir leizinhas para ser feliz e, depois, talvez viver (se for possível).
Quando abro a janela, toda a História cavalga no vento. A lua ilumina velhas lendas que nem lembro já o nome. Lá ao longe, sei que o mar espera nas entrelinhas da visão. A noite será tranquila na antevisão do dia de Praia, nesse jogo divino entre o amarelo e o azul.
E não há moralismos falaciosos num dia de Praia. Não há regras alheias para serem cumpridas. Há apenas uma imensa preguiça de quem é feliz numa noite fresca de Verão antes de um dia de praia. Não há moralismos falaciosos – há vida para viver, entre o azul do mar e o amarelo da areia, ou entre o céu e o sol. Há uma vida cheia de cor aqui, mesmo o Inverno, por vezes, chega a ter cores primaveris.

E uma réstia de esperança chega, cavalgando no vento vindo do Sul.

Friday, July 10, 2015

Conselhos em dias de Sol

Suspender o tempo em horas histéricas, eis um sonho comum. Controlar as batidas nervosas dos ponteiros de relógios alheios que sentimos no peito, sorrir como se sorri normalmente, como se fosse comum caminhar e sorrir. Como se fosse normal estar sempre bem disposto e não ter dias menos bons. Conquistar a normalidade, garantido uma anormalidade. Suspender o tempo porque a vida acha-se suspensa, embora os segundos se tornem minutos e um dia se perca, nas suas infinitas horas inúteis que vimos, lentamente, passar.
Eis um erro comum.
E para nada interessam receitas de vida alheia que te aconselham a fazer isto ou, então, antes aquilo. Dizem-te para seguires o teu coração, sempre, que é aí que se esconde a verdade última, tapada por interesses racionais. Mas não conhecem o teu coração, nem tão-pouco os seus infindáveis desejos e, indubitavelmente, fica-me a pergunta se continuará a ser uma escolha corajosa optar pelo medo, que tanto faz o coração bater mais depressa. Lugares comuns, como vês, revestidos de algo que brilha como ouro, mas que está muito longe de o ser. Oferecer essa hipótese, como sendo segura, o caminho do coração, é garantir a existência de um manual alheio, que no fim permite-te pensar que podes ser inocente na escolha que foi tua. Só seguiste o teu coração – como te disseram – nada de mal pode vir dai. E, assim, assumes que o teu coração é só mais um, igual a tantos outros. Talvez não devesses seguir o teu coração.
Eis uma ideia antagónica.

Não deverás seguir, talvez, coisa nenhuma. Deverás respirar de alívio, de consagração, de mérito, de desastre, de desgraça, de humilhação, de frustração, de degradação. Mas, para que o suspiro seja teu, não deverás seguir manuais alheios. Talvez fazer uma antologia com ideias perdidas, colando os retalhos com a tua própria interpretação, num abraço, tão perfeito quando possível, da objectividade com a subjectividade. Deverás saber que, muito provavelmente, estarás completamente só nesses dias, nessas épocas, em que a vida está suspensa e à espreita, mas as horas continuam a passar. E que muito além de ser bom ou mau, é, meramente, inevitável. Mas que terás os teus para celebrar a derrota ou a vitória porque, no final, importa acima de tudo que a vida não possa ser desprezada enquanto houver mais sentido para procurar do que meramente cumprir ordens baratas e alheias. A tua vida não deverá ser o cumprimento de um manual alheio que leste na diagonal.