Saturday, January 27, 2007

Patinho Feio

Instintivamente, o vento da infância nunca me abandona. Durante o dia lembrei-me da história do patinho feio. Quando era pequena, não gostava. Alguém me disse que o final era feliz. E eu, numa posição irreversível, defendia que o patinho feio, com a triste vivência que tinha tido, jamais poderia ter um fim feliz. Podia era, ter um fim menos infeliz. Há feridas que nunca saram. Provavelmente, o meu raciocínio foi um exagero. Gosto de pensar que foi. É consolador pensar que o triste e pequeno pato se regenerou; sobreviveu à discriminação crua de que foi alvo.
Porém, pergunto-me, quantos patinhos feios é que passaram por mim. Que fim terão tido?O menos infeliz?...
No momento, só me ocorre pensar que o patinho feio é bem mais que um conto para crianças. Isto é, se se quiser considerar que é um conto para crianças...

Sunday, January 21, 2007

Desprezo

Há momentos como este, em que me sinto completamente só. Em que gosto (ainda mais) da minha solidão. Em que prefiro o silêncio total e solitário à confusão produzida pelo resto das pessoas ; em que prefiro o escuro da noite ao sol de um novo dia , sem qualquer atitude depressiva ou dramática. Simplesmente provoca-me enjoos a hipocrisia, o cinismo e e a futilidade que vejo todos os dias, patentes em quase tdos os rostos. Então, numa atitude de cansaço, afasto-me o mais que posso desse mundo que às vezes é tão cruel; que discrimina tanto. E aproveito a minha solidão: ouço música. Assim , o prazer da alma cheia supera o desprezo que às vezes me dói tanto sentir.

Friday, January 19, 2007

Solidão

Não me pequem no braço!
Não gosto que me peguem no braço
Quero ser sozinho
Já disse que sou sozinho!
Ah ,que maçada quererem
Que eu seja de companhia.

Álvaro de Campos

Tuesday, January 16, 2007

Imaginação

Mudança. Respiro mudança quando abro a janela. Qualquer coisa mudou. Observo com atenção mas está tudo igual. Tudo na mesma. Como ontem. Contudo, existe um vento diferente. A paisagem citadina e banal parece mais bela, mais única , como se nunca tivesse chegado a ser a paisagem feia que desprezo todos os dias. A verdade é que sou parte da paisagem. Olho-a todos os dias. Nos dias em que é feia sou eu que não consigo reparar num pormenor mais bonito. Por vezes o erro é nosso e nem sequer nos apercebemos. E sofremos com isso.
A paisagem é sempre a mesma, o que muda realmente é o nosso estado de espirito, o nosso grau de boa disposição. Varia com a nossa interpretação. E desilude-nos a paisagem que não corresponde à nossa expectativa. Esperávamos um dia olhar pela janela pequena e ver o mundo com que sonhamos. Mas a janela è demasiado pequena, nós somos demasiado pequenos, e o que vemos é aquilo a que chamamos real, ao nosso dia-a-dia monótono estampado em cada pedra do passeio.
Felizmente, hoje não é um desses dias. A interpretação hoje é optimista: a rua suja e feia, hoje, somente hoje- talvez nunca mais volte a sê-lo -é bela!E única.
É esta a maravilha de se viver. E só se consegue viver através da imaginação.
No quotidiano só sobrevive realmente o que sabe sonhar no próprio domínio do quotidiano. É o único que se propõe a mudar de perspectiva todos os dias – imagina, e ao imaginar, altera. Ele próprio. A paisagem. Até, quem sabe, o próprio sentido da vida.


Monday, January 15, 2007

Music is everything

O fim-de-semana foi passado numa aldeia nos arredores de Sintra. É um sítio pequeno; fechado. Um lugar onde todos os habitantes se conhecem; um lugar onde a velocidade da luz é menor que a velocidade com que se espalha um rumor. Mas apesar de tudo, não desgosto da aldeia: é sossegada. Pessoas mais simples exigem problemas mais simples.Ás vezes a simplicidade perturba-nos. Outras, porém, agrada-nos.
Estranho?Não. Conseguimos ignorar o mundo que nos rodeia, as pessoas que estão à nossa volta. Basta sabermos retirar-lhes o essencial, o conteúdo. E abstraírmo-nos do resto.
Com a ajuda preciosa de Jamie Cullum e Kurt Cobain caminhei numa cidade fantasma onde só existia eu e o meu discman. A coscuvilhice alheia passou-me despercebida. E tudo graças ao poder da mais maravilhosa invenção humana: A música. Sem ela, o que nos resta?

“Music is your only friend,until the end” , Jim Morrison

Sunday, January 14, 2007

Mar


"Quando morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"

Sophia de Mello Breyner, Mar