Thursday, October 20, 2011

Darwinismo

A suavidade da noite, a memória ténue de uma memória que permaneceu e que é real sem o ser, a mudança contínua constante oblíqua existe sempre quer a vejas quer escolhas ignora-la porque o frio que fica desta consciência é algo que não aguentas. A suavidade da existência, tenho a calma tranquila de quem venceu a guerra porque me assumi uno cheio de dualidades explícitas intimistas nessa batalha que tu , talvez não repares, mas é em nome da evolução.
Porque sempre fui um sobrevivente, fui hábil e flexível estratego em todos os instantes de todas as esquinas das ruas por onde passava e me esquecia o nome. Fui sempre eu e fui eu que permaneceu, firme direito bélico, nessa disputa. Cumpri o destino que escolhi para me oferecerem, sou Homem e não tenho medo nem do proprio medo. Não tenho medo da morte.
E muito menos tenho medo do cinzento macilento da tua essência fraca tísica patética. Sou Homem, tenho duvidas, tenho hesitações, tenho um turbilhão de percepções e sensações e sentimentos dentro de todo o meu ego mas não tenho medo, não desse tipo. Enfrento os meus fantasmas para lhes dar um outro nome e me serem uteis na vida que eu escolho, activamente e conscientemente, viver de forma a que a morte faça sentido e se enquadre naquilo que me define.
A suavidade da noite, venci uma batalha, porque existo e vivo e tenho o mundo na pele, porque vivo. Estou calmo, consciência de ter consciência e consciência de ter sido eu, Homem inteiro divino na sua imperfeição opaca. E tu, que temes tanto para as minhas palavras e a minha certeza de que eu sou eu te enervarem e perturbarem e descontrolarem tanto? (A vida que não sabes viver e a guerra que não tiveste perspicácia na derrota.)

Monday, October 10, 2011

Reminiscências de uma Morte

(La valse a mille temps) porque a vida é preciso vive-la, não deixaste de existir, não ainda. Não morreste em absoluto concreto, guio-me pela tua melodia que permanece aqui (que imagino eu). Não findaste tudo o que eras nem terminaste tudo o que gostavas de te não ter tornado. Não, não, deixaste algo por fazer, tenho eu as tuas memórias.
(La valse a mille temps), é a tua voz no mais profundo calcário do ser que tenho e que tento que se não perca do teu. É o teu conselho, o teu ensinamento, sempre fui discipulo teu. E ouço-te ainda, a recordar-me da minha juventude , a consciencializar-me de todo o prazer epicurista de viver e de querer ter mais do que uma qualquer existência, tão oferecida à minha essência volátil como foi a inevitabilidade da morte.(não, ensinaste-me a preciosidade metafórica concisa livre da vida) A tua advertência para eu aprender a ser eu, ser inteiro no trilho que escolhi como morte , que escolhi como final de tarde no azul salgado de um verão fresco e quente. A voz que se perdeu no tempo, que se misturou com o vento nocturno cheio de um som cheio de luz.
(La valse a mille temps, Pour que tu aies vingt ans et pour que j'aie vingt ans), no meio do ruído cavernoso da multidão de betão, só aqui estamos nós. A felicidade de viver prenche-me o espirito , sinto-me vivo, sinto-me Homem, quero viver, quero saber morrer. Quero ver o mar, sentir a espuma das ondas a salgar-me as ideias, quero que o sol me aqueça e ilumine a dor para ela não se sentir tão só. Quero imaginar que somos ambos jovens e fingir que tu ainda aqui estas e sentar-me a ouvir-te , quero que não importe que não seja real porque não deixa de ser verdadeiro honesto gesto.
(La valse a mille temps), e tu estás aqui e sinto-me feliz na infelicidade de já não existires, de te ver só quando não sei que te não posso ver. Mas estás aqui, importa pouco que não estejas, estás aqui e sinto-me feliz na miséria que é minha, na miséria que me torna mais Homem porque me define sem limitar o que é viver. Mas estás aqui e o mundo peganhento dúbio sujo de tanta mediocridade inócua a propósito de um enorme vazio humano enfadonho treme, treme à minha chegada porque só me vê a mim mas sou mais do que eu, estás aqui , tu, eternamente, ( la valse a mille temps) e nada pode a opaca negra lamentavel oca multidão com um rosto tão definido no nada que são contra nós. Contra ti. Nunca pode. (Une valse à cent ansune valse ça s'entend , a chaque carrefour)

Wednesday, October 05, 2011

Viver

Apetece-me devorar a vida, prende-la à alma que desacredito ter, sentir a liberdade máxima, procurar a única escravatura sublime que quebra o determinismo do destino (o amor). Hoje quero ser uno, quero ser o Universo e sentir-me exterior àquilo que sei ser-me, quero amar-te te não amando, tornar o teu rosto nos traços do retrato da ausência, sempre me pareceu saudavel permitir que a arte oriente e ampare a frustração ou a dor ( talvez porque o seja, facto em abstracto, ou porque aprendi assim a abraçar e a conviver com a dor que é minha em absoluto).
Apetece-me queimar suposições românticas ocas sem um porquê digno de existir, apetece-me um outro tipo de existência, uma mais violenta (a paixão intermitente no desejo de querer ser). Apetece-me existir em plenitude , ver-me só na multidão mas ser feliz em qualquer projecçao, em qualquer perspectiva, ser inteiro integro. Quero ser agradavel louco , quero –me incluir ao excluir ou ser o som dissonante que não pertence mas que torna tudo mais livre excêntrico profundo.
Quero viver violentamente mas de mansinho, apetecem-me os pequenos e discretos prazeres que me tornam mais Homem e menos besta, quero ser mais elegante requintado na forma como percepciono que penso. Apetece-me sentar em sítio nenhum e esperar que chegues, ser leal na minha infidelidade , não quero saber onde estás nem te quero dizer que o azul do mar me faz companhia do interior para o amplo e infinito exterior de mim. Apetece-me devorar a vida, ser irresponsável sem ser inconsequente ou ingénuo. Hoje quero ser imprevisivel, até para o meu mais profundo e denso inconsciente, desejo ser imprevisivel.