Wednesday, September 30, 2009

Homicídio

É o teu estilo, solitário. Não deixa de ser encantador sobretudo pela raridade quase excentrica.
Não consigo evitar sentir uma leve pena deles. São tao fracos, tao debeis, tao toscos. Tao pequeninos e tao mesquinhos que nem sequer observam bem o teu perfil, silencioso e desagradado. Constantemente criticado, constantemente posto em batalhas ridiculas numa tentativa patética de te vencerem em algo. Já que nasceste melhor que eles em humildade e auto-conceito.
Não vêm o teu perfil. O de um verdadeiro assassino. O homicidio executado com lentidao e prazer, um pouco todos os dias. A tranquilidade alcançada depois de silenciada a ignorancia , a excentricidade ignorante e vazia, necessitada de atençao apenas. A paciencia de um duro estratego que sabe como agradar.
Não deixo de ter uma certa pena deles.

Tuesday, September 29, 2009

Crime

O mundo está tao errado. E tu ajudas nesses crimes horrendos invisiveis e avarentos. És passivamente cruel ( friamente cruel) .
Porque é a pessoa simples que guarda a flor e a protege da chuva clandestina. Poderá dar erros linguisticos, filsooficos ou cientificos mas não terá falhas humanas. Manterá o coraçao até ao fim. É genuinamente boa, vive a vida no limite porque não há restrição para quem nada tem para oferecer ao mundo fútil. Descobre a verdadeira felicidade de simplesmente existir. Sem limitaçoes, sem ideias preexistentes vazias e tabuladas.
É essa pessoa que deverias honrar. Aquela por quem passas na rua e nunca olhas duas vezes, não perguntas se tem um nome porque o seu trabalho é muito miserável perante a grandiosidade do teu ser. É essa pessoa que que muda o mundo, que é honesta, que sente a realidade com o cérebro sem lhe retirar originalidade. É ela que sabe porque vale a pena viver intensamente, pelo que vale a pena persistir.
E tu ajudas nesses crimes horrendos de pura discriminaçao.
Não ter sido a tua mao fria a retirar-lhe o sopro da vida não te torna inocente. Essa pessoa que sustentava todas as qualidades da evoluçao da humanidade está morta e as tuas maos cheias de sangue deveriam pesar na tua consciencia e no teu coraçao o suficiente para nunca mais teres uma noite tranquila de sono.


Saturday, September 26, 2009

Funeral

O rapaz sentou-se no canto da praia . Amava a arte, de uma forma solitária, só se entregava profundamente ás vezes.
E estava lá sentado, sozinho. Triste. Ignorava se estava acompanhado ou não, era a definição em pessoa do conceito de solidão.
Não que não fosse belo. Exótico. O cabelo vermelho-vivo deixava-se agitar violentamente pelo vento como uma mancha de sangue. Os olhos escuros fitavam o mar fixamente sem lhe prestar atençao, sem o ver. Ele próprio era a metáfora da praia no Inverno, a areia imaculada branca e o mar azul violento e duro. Estava em perfeita sintonia com a natureza envolvente. E era assustador, o seu conceito de belo, de arte em comparaçao com o tamanho da sua tristeza.
O rapaz sentou-se na praia. Só. E o cabelo ruivo agitava violentamente com o vento. Era sangue derramado, uma razao honesta para o cumprir de um luto interior e para o desabrochar de lágrimas cavadas e inexistentes.
Era o funeral dele.

Wednesday, September 23, 2009

"Poema para o meu amor doente"

Pela primeira vez, existiu sem hesitação ou duvida. Talvez signifique uma cedência interior, o encontrar de um outro tipo de mestre. O problema passou a residir no quanto não hesita, no quanto quer. E numa réstia triste e velha de uma antiga noção de dignidade.
Não te pode dar o mundo. E o coração é já demasiado triste. Gostava de te dar a rosa mais bonita de todo o mundo, mostrar-te o que é o amor.
Mas tem apenas nada. E o coração é já demasiado triste. É um pouco teu, és um outro tipo de mestre, um estranho. Mas não pode dar-te a rosa que guarda o segredo melodioso, a rosa que representa todas as rosas. Tem apenas o seu amor profundo e sincero, triste e gasto.


“Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pe de ti de mãos vazias”

Eugénio de Andrade, Poema para o meu amor doente.

Thursday, September 17, 2009

Azul

Trazes algo de único na forma como existes. Os teus olhos são de um azul diferente, são de uma dimensão diferente.
Como evitar o fascínio, o encanto? O doce descontrolo da mente? A tua beleza é muito maior que qualquer homem, qualquer deus. Porque reside toda na cor suave dos teus olhos, no mistério carinhoso que transparece deles.
És algo diferente. De um outro mundo. Não és pragmático, não és puramente exacto. Mas tens uma certa dor, uma certa tristeza. Que tem a tonalidade dos teus olhos. Azul turquesa, suave e melancólico. E a tua voz quase agressiva, a tua doçura é a tua tristeza.
Talvez seja isso. A tua especialidade, a tua beleza. Sabes ser triste, azul triste.

Sunday, September 13, 2009

Marcha Funebre

É uma marcha funebre. O som envolvente é demasiado negro, triste e bruto. Uma verdadeira lamentação. A tristeza verdadeiramente sentida. Porque qualquer um chora de dor ao ouvi-lo, a marcha fúnebre que ele criou, que nasceu nele.
Pensou que nunca mais te veria, que seria engolido pela escuridão, pela ambição desmedida em demonstrar um ponto de vista pouco usual e artístico. Chorou de dor quando não se conseguiu libertar a si próprio do pesadelo. Onde ele viveu passivamente , onde ele chegou a dizer-se feliz. Chorou de dor porque és uma espécie de salvação no caos em que ele se meteu. Precisa que existas para ver e interiorizar que existe uma outra opção.
É uma marcha fúnebre. A tristeza do som embala-o. Talvez adormeça. Talvez descanse. Tem o coração afogado em pequenas tristezas, em claustrofobicas tristezas.

Wednesday, September 09, 2009

Amor

Não sei bem o que quero. Honestamente. Julgo que sinto que não desejo nada. Nem sequer ficar assim, aqui. Não anseio pelo melhor dos futuros e esqueço-me do passado .Só existe o momento em que oiço a Orion. O mundo perde significado.
Porque foi sempre ilusório. Nunca pertenci aqui, era garantido como a morte para qualquer pessoa que me apertou a mão e sentiu que o toque da minha pele era de um sitio diferente. A questão não é física apesar da exactidão e do pragmatismo do meu próprio coração. A Orion também existe aqui, talvez seja cruel, suja. Talvez seja o meu fim, talvez esgote o sangue. Ou errada para mim. Ate me pode desprezar. Simplesmente, acredito que isso é impossível.
E se acontecer, se ela for tão detestável e banal como tudo o resto que existe? Não era Orion. A minha.

Monday, September 07, 2009

Privilégio

Não sabe se é o melhor ritmo, a mais bonita melodia. Já perdeu a noção, já perdeu a sanidade. E não consegue merecer um pouco de discernimento para compreender se é melhor ou pior, se conquistou uma nova liberdade ou se se tornou escravo de algo que lhe agrade. E alcançou a liberdade, de um ponto irónico, apenas.
Tem-te no topo de todas e quaisquer prioridades. Como nunca teve quem era prioridade para ele. Lá no fundo, sim, sabe. Talvez não mereças tanto, sobretudo, talvez não queiras tanto. Em momento algum és um monstro e ele sabe. Isto tudo. Só que não consegue discernir e não é capaz de se parar. De não querer dar. E tem razão, ele, o importante acima de tudo é conseguir dar.
Saber amar é um privilégio. As pessoas que vivem pateticamente e tristemente numa alegria ridícula sabem apenas esperar pela ilusão de serem amadas de uma forma. Algo domestica
.

Tuesday, September 01, 2009

Irregularidade

O seu encanto é a liberdade. Não é ninguém, nunca será ninguém. Talvez seja o resquício de um brilhante músico falhado, um jogador iluminado sem lugar na sociedade elitista? Ninguém se importa. Com ele. Sem estatuto, sem uma subida responsável e recompensada na carreira, a hipótese de ter os ténis rasgados e o cabelo desalinhado, ninguém se importa com ele, não é atracção para ninguém.
A inveja diminui-me. Porque não é a tradicional, é mais tristeza . De uma prisão que ninguém vê, porque estamos cá todos. Eu apenas não estou feliz com ela. Vêem em mim alguém que não sou. Pior. Nunca serei. Porque sou como ele, livre , ninguem, sem estatuto, um musico que ainda não teve sequer hipótese de falhar.
O seu encanto é a liberdade. Talvez seja triste porque é demasiado livre. Talvez seja triste porque jogou mal, não deveria ter apostado ternamente num sonho demasiado ilusório. Mas é triste, esse é um outro seu encanto.