Tuesday, June 19, 2012

"Ter saudades do passado é correr atrás do vento"


Há uma vida que se gastou entre as oblíquas melodias do tempo, ouço-a na voz do vento da noite e revejo-me na vida que já não é minha e tenho esta leveza de espírito de quem relembra sem sentir o peso da saudade. Mesmo que a tivesse, seria inutil.
E tenho o lugar e as memórias e as esquinas daquela vida guardados na génese deste ego que me pertence agora, vejo-me sem me ver, um rosto sem rosto, um rosto futurista, o presente já foi um futuro incerto e intermitente e o passado é apenas o que restou dessa sensação e o que dela surgiu – o esquivo futuro que é o meu presente.
Porque há algo de amorfo e hermético na persistência da melodia do passado, há algo que tem a cor de um sotão velho e abandonado, de um caminho solitário e banal já há tanto tempo que vive no esquecimento de quem o caminha todos os dias. Porque há sempre algo de desconfortavel na vida que foi minha e que já não é, foi minha a decisao, deixei no lugar que nunca mais vi o meu ser a viver essa vida paralela.
Mas o meu futuro sempre foi incerto e a sua instabilidade sempre foi a fonte de toda a vida que movia os músculos. Relembro-a, relembro-a, ah! suaves dias eternizados na sua efemeridade. Recordo-a,ter saudade, seria simplesmente. Hipócrita. 

1 comment:

Alice in Wonderland said...

Brilhante! E muito bem escrito!