Saturday, January 31, 2009

Lua Cheia

A dureza calcada na existência abrupta cola-se na tua pele e já não despega. A tua consciência fica eternamente activa na tua efemeridade e só descansas no êxtase.
E sabes que nem sempre é uma questão de amor, o mundo tem leis e nem tu as consegues quebrar. Porque, mesmo em negação honesta, pertences a este universo, apenas nunca te misturas.
Mas quando o sorriso é audível e puro a dureza estala fazendo com que os teus sentidos se deixem acariciar pela vida. Ignoras o mundo que te rodeia, esqueces que nunca, mas nunca és miscível com os outros; perdes a consciência que te tortura, alcoolizado por ilimitadas oportunidades que alguém conquistou para ti.
É toda a felicidade a que tens direito, uma simples noite de libertação do lobo que existe em ti numa singular noite de lua cheia. Depois regressas a prisão da tua consciência

Tuesday, January 27, 2009

Singularidade Perspicaz

Mesmo quando és um pequeno barco, com cores e alegria, olham-te e vem a tua diferença. As cores são rasgas e gastas. A sua vivacidade reside na experiência que te faz insistir na vida com a esperança de um melhor dia. E o barco é pequeno e feliz, mas lá dentro reina o caos; as cores, sem luar, são negras e obscuras.
Não importa quão agradável è o teu caderno de viagens, não importa o quanto lhes sorris. Eles sentem a obscuridade que te domina e tu não tentas mentir. Omites e deixam-te partir.
O teu destino nada tem que ver com o caderno de viagens quente que trazes no bolso. Um dia, chegaras ao pais do frio para nunca mais regressares.
Na verdade, nunca és um pequeno barco. É só uma manobra de perspectiva.

Sunday, January 25, 2009

Derrame de Sangue

Ele sabe que não lhe permitem mais que a ilusão. No fundo, compreende, entrega a sua felicidade ,construída por minúsculos caprichos luxuosos, para te manter em segurança. Por isso fechou os olhos, hesitou. E quando virou a cara salvou – te.
Ele sabe que é inútil, o espelho é inquebrável. Cortou os braços e as mãos nas suas tentativas de fazer um simples furo. Criou um rio de sangue e perdeu pedaços de pele só por um mísero buraco mas tu és eternamente inacessível. Tentou o impossível; viu-te partir e chegar tantas vezes que as feridas fecharam. Deixou de tentar quebrar o inegável, tornar falso um facto passado. O espelho existe, é transparente, mas separa-vos. Não vale a pena. É inútil.
Ele sabe que só a ilusão lhe é permitida. No fundo, manchou o espelho com o seu sangue para poupar o teu. Compreende, entrega a sua felicidade alta e momentânea ao sacrifício na esperança de que tu nunca gastes nem uma pequena e modesta gota de sangue.

Thursday, January 15, 2009

Imperdoável

É porque não percebo. És um eu distinto e distante de mim. Mas és um eu, mais sofrido e mais honesto; explicitas o amor á arte , daí as mutilações.
Não me fascina a diferença. Finjo que sou um reflexo diferente do do espelho que não deixa de ser doloroso encontrar-te, de tempos a tempos. Lembrar-me, entre glorias e luxúrias , que também sou imperdoável. Voltar a ter consciência que nenhum sitio me quer, que não foi pensado um lugar para mim. Reavivar a raiva triste que me manteve aqui, a solidão de um dia com pôr-do-sol efémero,as lágrimas que congelaram e tornaram a terra mais estéril . Porque o mundo exige o nosso sacrifício.
É porque talvez perceba o teu eu distante de mim. Dá-me uma sensação de lar triste, acabado e desfeito, relembram-me que sou imperdoável em todos os movimentos que , verdadeiramente, não faço (por isso é que finjo). E que não posso fugir de mim, do meu destino. Porque não existe qualquer destino.

Tuesday, January 13, 2009

Mostra-me

Mostra-me, desenhado nas estrelas, quão forte é a desilusão. Preciso de saber que não estou a errar o caminho, outra vez; que não te estou a dar demasiado relevo, outra vez. Mostra-me que não estou a ser o que estás a espera, evidencia o meu falhanço. Se te resta alguma compaixão, dá-me as tuas lágrimas para me libertar. De ti, de mim. De tudo, ando a conquistar uma nova hipótese no mundo, não a perturbes.
Mostra-me a tua raiva, a tua frustração. Junta as estrelas e diz-me quão profunda é a tua impotência de me controlares. Não percebes que já não importa, que perdeste o teu império e que mereço todos os dias a minha liberdade?
Não percebes que não te odeio mas que tenho o direito de ser um fracasso? Deixa-me fracassar, deixa-me sacrificar a vida num momento curto e cheio.
Olha as estrelas e diz-me que compreendes que já não estou aqui e que é inútil a tua tentativa ridícula de acorrentares a minha paixão.

Saturday, January 10, 2009

Afraid to shoot strangers

A felicidade é o dia em que a desgraça não te anula. O pedaço de luta que resiste no teu nervo, o pouco de ti que te deixaram. Ao princípio foi uma questão de raiva, querias romper com a prisão que construíste para te protegeres, quebrar o tempo e impor o teu direito de seres triste. Não o poderias ter feito sem o frio e cruel golpe do assassino que mata por obrigação mas com um prazer obscuro.
Mas não agora. Vives porque descobriste a crença, acreditaste que verias milhares de olhos todos com o mesmo olhar frio e fútil mas encontrarias um olhar diferente. E isso limpou a impossibilidade do facto e retirou-te peso da alma, sorriste mais levemente.
Quando a raiva foi satisfeita com os assassínios cometidos em honra da sobrevivência, limpaste o sangue das mãos e desertaste na guerra. És feliz quando o dia não é estéril ou quando o sol incide sobre a tua pele.Apenas.
Ate alguém te arrastar para a guerra e para os teus pesadelos . Não queres assassinar. Mas não existe outra alternativa. E acabaras por ter prazer em silencia-los na tua obrigação de te manteres vivo.


Afraid to shoot strangers, Iron Maiden

Friday, January 09, 2009

Pétala Azul

É medo de perder a única coisa que lhe resta, a ilusão é segura. E é adaptável à chuva e ao ângulo de Sol. Torna qualquer sofrimento mais fácil porque na realidade nada existe, a realidade em si nunca se concretiza. E ele vive como quer, por conta própria, hermético e individual no seu pensamento.
Mas tu aguças-lhe a curiosidade. Não o tentas enganar, nunca lhe disseste que a realidade era melhor, ou que o real era sempre objectivo. Honestamente, aceita-lo como ele é sem te aperceberes. Salvaste-o do seu orgulho pessoal porque o teu olhar nem viu o sorriso às vezes vazio que lhe doía no peito, nem viu o riso audível e falso; não se demorou sobre as cicatrizes feias que estão escondidas na pele, não procurou vence-lo e não procurou ajudá-lo. Quando o viste olhaste-o e ele voltou a sentir-se humano. Deste-lhe a pétala da flor que nunca morre quando simplesmente foste capaz de olhar para ele sem veres nele ou o monstro ou uma espécie estranha de génio.
Conseguiste provar-lhe que, em certas frequências, a realidade supera a Ilusão. E isso era tudo o que ele procurava.


Sunday, January 04, 2009

Despedida

Não posso deixar de sorrir perante a tua memória . O vento ainda me fala de ti às vezes, apesar de saber perfeitamente que o vento não fala. Sim, ainda me és importante.
Continuo a sentir o sorriso espalhar-se pelas veias, atenuar a raiva que envenenou o sangue há tantos anos atrás. Há momentos que duram um segundo e são, por isso, eternos na sua efemeridade. É-me impossível esquecer-te, a tua influência branca e quase angelical impede-me de desperdiçar a minha vida numa loucura instantânea, já não consigo ser o que era antes de ti. A tua expectativa positiva de mim fez com que parte se concretizasse.
Sendo esta a ultima carta, as ultimas palavras, as ultimas confissões, porque não dizer que organizaste parte do meu caos? E a tua lembrança corre-me nas veias , entre os picos de raiva, poderás fazer toda a diferença no apocalipse interior.