Saturday, February 10, 2018

Cântico do fim


Não te odeio, não tenho em mim força
Para conseguir odiar-me tão profundamente.
Mas há uma tristeza latente e férrea vinda
Dessa desilusão profunda
Que é olhar-te e ver um rosto sem futuro,
Um caminho que leva a lugar nenhum,
A mais eloquente moderna cidade
Abandonada sem estar terminada.

Não te odeio, talvez te lamente
Como se lamenta um morto
Que ainda está vivo,
A cada segundo cessa essa persistente
E ténue esperança
De que regresses à vida e abraces o que é teu,
(Um futuro real para se vestir)

A cada segundo cumpro o teu velório,
Matando-me e rejuvenescendo,
Num rosto com futuro incerto
E triste.
A cada momento deixo-te a minha ausência
Para te fazer companhia,
Porque é teu desejo aqueceres-te de gelo frívolo
E eu deixei de encontrar em mim
Esse mundo fantástico e impossível
Que te queira dar.