Wednesday, December 12, 2007

Pegadas

Nós somos pegadas deixadas na areia, que esperam, numa condenação silenciosa, um dia serem apagadas. O tempo escorrega pelas nossas vidas, por isso é que a praia é eterna. Dura sempre. Ela assiste à nossa passagem, mas tombamos antes da chegada do seu Inverno rigoroso.
E não, não somos os grãos de areia. Nem isso. Ou, então, bem mais do que isso. Somos o que deles advém. Sejamos, então, o castelo de areia torto e reluzente que a criança que já fomos construiu. Sejamos esse castelo, porque a criança já se misturou com o mar quando elaborou demasiado o seu boneco de areia.
E eis que a onda apaga as pegadas e arruina os castelos. Nada fica. Nada somos. A não ser a marca da marca. A prova de que o passado existiu.
Somos o silêncio doloroso das grutas calcárias durante uma noite de Verão. Ou de Inverno. Tanto faz porque o Sol é o mesmo. E também não são relevantes as pegadas porque a mente destingue a areia das diferentes praias do mundo. E todas as areias já foram parte de uma pegada.
O que realmente importa é a procura dos corais que ainda cantam , numa melodia tão concreta e profunda como o silêncio, o amor que sentem pelo mar. Todos somos pegadas, mas poucos de nós estão em paz.
WinGs

Wednesday, November 28, 2007

A Morte do Anjo

Há entre nós, um paradoxo temporal. Caíste no abismo quando eu nasci. É difícil conceber a morte de um anjo humano.
Porquê? Esta pergunta completamente inútil e ligeiramente romântica mantém-se iluminada no meu pensamento.
O teu jeito angelical e triste dava-te uma beleza mais extraordinária, mais bela ainda. Demasiado efémera.
Odiaste-te e por isso, anjo triste, caíste como tudo cai. Não sabias quem eras , não te reconhecias no espelho. A tua vida eram lagos de água suja que distorciam a tua imagem ; que te enganavam: diminuiam-te. Nenhum te disse que os teus olhos eram azuis profundos. Mentiram-te porque não gostavas de ti. É fácil mentir sobre a cor do céu a um cego.
E eras, a par disso, um solitário. Estavas só. Eras completamente corroído pela tristeza do vazio. Foste completamente aniquilado pela vida , pelos outros, pelo mundo... sobretudo, por ti. Arruinaste-te .
Ha! A tua fragilidade comove-me. Porquê? A pergunta volta a incomodar-me. Incomoda-me sempre. Queria, é verdade, ter-te dado a mão para tu agarrares a minha com força. Para eu não me perder no quarto dos espelhos mentirosos. Mas estavas tão longe, sempre... a tua mão caiu, morta, pálida e nunca chegou a conhecer a minha, ou outra qualquer que reflectisse bem a beleza da tua essência.
O anjo morreu.

Tuesday, November 27, 2007

Acordar

Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações.
Não sei o que hei de ser comigo sozinho.
Quero que ela me diga qualquer cousa para eu acordar de novo


Alberto Caeiro

Saturday, November 17, 2007

A Moeda

A moeda foi atirada ao ar. Desta vez, a face que ficou voltada para cima foi a mais sombria, a mais temida. A que caminha sempre a nosso lado, erguendo , por vezes, os braços no gesto de nos amparar quando escorregamos
Um grande erro é acreditar-se que a moeda está estavelmente voltada para cima e que, no instante último e biológico, ela roda trezentos e sessenta graus. A qualquer altura pode mexer-se, é semi-autónoma.
E, desta vez, foi o que aconteceu: na moeda apareceu Hades, ou então, o mais temível, não apareceu nada. O lugar vazio para onde nem o nada se dirige. O desconhecido mais radical, mais solitário. Confuso. O golpe mais duro na existência humana, na conquista humana. Nunca se é nada durante a vida e nunca, se é alguma coisa de concreto, quando a Natureza termina o nosso trabalho no mundo.
Sim, desta vez a face era assustadora. Tão terrível na sua grandeza, no seu poder , tão redutora do Homem emocional que é através dela que surgem todos os nossos maiores medos. E é, no entanto, a única certeza absoluta neste Universo Colectivo que se divide em vários eus; das únicas verdades Universais comuns à vida, seja ela qual for.
O Homem , verdadeiramente, não gosta de verdades irrefutáveis. E moedas são sempre, só, moedas. Fora isso, o Grande Juiz - imaginário ou não- já foi enfrentado...

Friday, November 09, 2007

"Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo."

Fernando Pessoa

Sunday, November 04, 2007

Hoje não farei mais queixas

Hoje, não farei mais queixas
Nem condicionarei os meus eus à tristeza.
Não.

Regarei ,
Cuidadosamente,
O meu jardim de rosas azuis
Que de vez em quando,
Ignoro.
Sentar- me- ei na relva
E acariciarei o botão de rosa azul
Que estiver a nascer.
Abençoá-la-ei
Como se fosse a ultima rosa do jardim.

O resto , já não interessa.
Já não é decisivo.
Ainda tenho o meu jardim.
Isso é tudo. Isso sou eu.


WinGs

Saturday, October 13, 2007

Pessoas grandes

" As pessoas grandes nunca percebem anda sozinhas e uma criança acaba por se cansar de ter que estar sempre a explicar-lhes tudo"

O Principezinho, Saint- Exupéry

Wednesday, October 10, 2007

Consciência

Orgulhas-te de ti. Sim, tens orgulho. Dizes chamar-te Aquiles, dizes sê-lo. E tens toda a razão. Não consegues reparar que o teu calcanhar está desprotegido e que vais sucumbir, que vais cair dolorosamente. Ha! se ao menos protegesses o calcanhar! Mas nem te esforças, o teu amor próprio excessivo não te deixa ser sensato. Riste-te, troças dos outros... Se ao menos soubesses que cairás por um mísero calcanhar... !Rio-me eu, sem sorrir, a tua queda é o teu castigo. E o teu castigo é o teu ensinamento. Tudo por um calcanhar... Terá valido a pena?
Perdi a vontade de rir. Pergunto-me se protegi bem o meu calcanhar.
Serei o teu espelho?
Não. Eu tenho consciência da minha fragilidade.

WinGs

Wednesday, October 03, 2007

Não canto

Não canto a noite porque no meu canto
O sol que canto acabara em noite.
Não ignoro o que esqueço.
Canto por esquecê-lo.

Pudesse eu suspender, inda que em sonho,
O Apolíneo curso, e conhecer-me,
Inda que louco, gêmeo
De uma hora imperecível!

Ricardo Reis

Wednesday, September 26, 2007

Não fazer nada

Não me apetece escrever. Na verdade, não me apetece fazer nada, nem não fazer nada. Por isso escrevo porque nada ,objectivamente, não posso fazer. E tanto que gostava não fazer absolutamente nada! Sonho o impossível... e concentro as minhas forças em realizar algo que me seja útil: escrevo. E numa preguiça boa e positiva, não me sai a raiva nem a ira que às vezes sinto em relação à maneira como as pessoas governam a minha vida.
Sim, governam a minha vida. Não que interesse – nunca interessou. Mas a sociedade decide muitas- demasiadas - vezes por mim. E não posso dizer que gosto ou que aprecio. Mas qual é a outra opção? Fujo o mais que posso e sou a ovelha que desertou do rebanho, o numero de vezes que me permito. Porque há limites para tudo, menos para a ignorância consentida.
Em dias destes em que o raio de sol entra realmente na minha alma, a única coisa que realmente quero é não fazer absolutamente nada.
O resto das ovelhas que se entenda com o pastor porque eu já tenho outro deus.

Wednesday, September 05, 2007

Reminiscência

Prossegue o pesadelo.
Feliz o tempo, que não tem memória!
É só dos homens esta outra vida
Da recordação.
E tão inúteis certas agonias
Que o passado distila no presente!
Tão inúteis os dias
Que o espírito refaz e o corpo já não sente!

Continua a lembrança dolorosa
Nas cicatrizes.
Troncos cortados que não brotam mais
E permanecem verdes, vegetais,
No silêncio profundo das raízes

Miguel Torga, Penas do Purgatório

Wednesday, August 08, 2007

Momento Harry Potter

"But though Death searched for the third brother for many years, he was never able to find him. It was only when he had attained a great age that the youngest brother finally took of the Cloak of Invisibility and gave it to his son. And then he greeted Death as an old friend , and went with him gladly, and, equals, they departed this life"

Harry Potter and the Deathly Hallows

Tuesday, July 31, 2007

Silêncio

Trabalho a música. Cada música, corresponde a um texto, cada nota a uma palavra. A música errada conduz ao bloqueamento das ideias. Tenho de ouvir o som certo, no momento certo.
Ás vezes, o som é o silêncio. Curiosamente, é o mais difícil de ouvir. Quase ninguém está em paz.
WinGs, Jullho

Saturday, July 28, 2007

Pessoa

Eu tenho idéias e razões,
Conheço a cor dos argumentos

E nunca chego aos corações

Fernando Pessoa, 1932

Tuesday, July 10, 2007

Digo-te para reparares no arco-iris de tons mais azuis; o arco-iris que é a vida, que é a tua única existência. Mas não queres saber, só te preocupas com o mito do pote de ouro. Que gasto de tempo inutil!Porque escolheste ser tão pouco? Podias ter o mundo na tua mão. Sim! Podias ser dono de ti mesmo, ser livre. O pote de ouro é a prisão. Optaste por te vender. Dizes-me que és feliz assim. Como, se a ambição brilha de modo febril nos teus olhos e se a simplicidade está ausente nos teus gestos?
Escolheste o pote de ouro. Agora nunca encontrarás o arco-íris azul. E sem arco-íris não há pote de ouro. Inverteste tudo, baralhaste tudo!
Perdeste tudo.
WinGs.
Julho, 2007

Wednesday, July 04, 2007

Desistência

Gostava que , pelo menos uma vez, não me tentassem estrangular os sonhos. Ou a mim.
Mas é inútil. Tentam-no. Vezes e vezes sem conta. E, se dantes, me perguntava “Porquê eu?” agora, a pergunta restante, é a até quando resiste a minha força. O Universo fecha-se claustrofobicamente.
Estou enfraquecida. As coisas, o mundo, começam-me a ser indiferentes.Torna-se tudo igual; tudo irritantemente parecido. Só se mantém diferente o azul que resume e abarca toda a minha vida. Toda a minha existência. O azul é o que me resta.
Enfim, talvez gostasse de ter sido outra pessoa. Talvez quisesse ter tido outra vida. Agora é irrelevante. Sempre foi. O “se” o pensamento dos cobardes. E uma perda de tempo.
Podia esconder-me por detrás do destino e dizer que fui condenada. Mas não, não acredito. A vida é um deserto aberto sem ventos decisivos. Eu escolhi o vento que me parecia mais bonito.
Condenei-me.

Saturday, June 16, 2007

Mundos Paralelos

"Subitamente encontrou-a . Avançou e recuou um pouco, observando o rebordo. Tal como tinha descoberto na noite anterior, em Oxford, a janela só era visivel de um lado ; quando se dava a volta para o lado de tras, ficava invisível. E o Sol a bater na relva do outro lado da janela era exactamente como o Sol a bater na relva daquele lado, embora inexplicavelmente diferente."
in Torre dos Anjos, Philip Pullman

Friday, June 15, 2007

Cansaço Emocional

Cansaço. É tudo o que sinto. Os musculos quase nao respondem , o cerebro quase nao pensa.
E farto-me desta vida, deste mundo tão efémero, tão fragil . Os exageros e superficialidades da maioria das pessoas exasperam-me. Agridem-me ligeiramente.
So quero que isto acabe, que chegue ao fim. Desejo, ansiosamente, o consolo azul do mar.
Que saudades do tempo em que os jardins estavam cheios de rosas floridas e brilhantes. Abro essa mesma porta e so observo espinhos. A janela que dava para o mar está trancada. Só me resta um leve cheiro à brisa marinha.
Cansaço. Só me resta o cheiro do mar. É tudo o que sinto.

Thursday, June 14, 2007

Metáforas

"Não tenho mais metáforas
para ti
Já experimentei o silêncio;
a trizteza dos meus olhos.

Onde estás?Onde vives?
Pensava que estavas aqui.
Dantes tinhas medo que eu
fosse embora
Hoje és tu quem está longe.

Não tenho mais metáforas
Vou ter de usar as palaras
exactas.
Dantes existias para me
poupar a isso"

Poema de Lúcia Barão

Tuesday, June 12, 2007

Matemática e poesia

"Andamos em voltas rectas
Na mesma esfera,
Onde ao menos nos vemos
Porque o fumo passou."

Excerto de Laços, Toranja

( homenagem a Alice)

Friday, June 08, 2007

Optimismo

"Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós , e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado"

Goethe

Wednesday, June 06, 2007

O Fim

O rapaz sentou-se na mesa da rapariga. Não se cumprimentaram.
Quando o empregado chegou, ele pediu um café com chocolate e natas. Ela riu-se, trocista. Disse que ele era estranho, que fazia questão de ser diferente. Homem exibicionista, tinha de começar a considerar ser como o resto das pessoas, enveredar pelo caminho certo. Ele suspirou, enquanto a jovem- mulher continuava a sua crítica aparentemente instrutiva.
Após deixar a rapariga acabar o discurso, o jovem recorrendo à réstia de amor que –lhe tinha, falou. E sentiu, com um arrepio frio, que era a última vez que lhe falava, quando referiu que existiam caminhos melhores que outros, mas não existiam caminhos certos. Que se ela reparasse mais nas pessoas perceberia que ninguém è igual a ninguem.”Somos todos diferentes. Alteramo-nos nos nossos pormenores.”- tentou o rapaz.
Mas a rapariga, inflexível nas suas ideias e atitudes, riu-se com um olhar ainda mais trocista. O rapaz suspirou e saiu do café com um ar indiferente – tinha esgotado a última réstia de amor. Saiu como entrou: só. Não disse Adeus a ninguém. Não era preciso. As únicas coisas que partilhavam eram o conhecimento de que o fim da relação deles seria duro , quase como uma anestesia, e a não necessidade de dizer Adeus – já tinham feito isso muito antes de ele entrar no café . Há detalhes nas pessoas que o amor pode não suportar.
Na verdade, limitou-se a caminhar calmamente para a saída. O amor chegara ao fim.
WinGs

Tuesday, June 05, 2007

Mentiras

A vida é, por vezes injustiça. Geralmente, apenas por um curto espaço de tempo.
Sim, há momentos em que nos sentimos injustiçados, em que o nosso valor e aldrabado e manipulado. O valor, o valor... Que é uma coisa objectiva, matemática até: ou é ou não é, isto é, não há meio termo.
Mas, há, as vezes , em certos casos. O valor é manipulado, aldrabado. Oh se é!
Mas o nosso valor - o que nos somos, mais concretamente - é inegável e não pode ser ignorado ou modificado. Uma ilusão é sempre uma ilusão. Somos sempre nós, temos sempre o nosso valor, que aumenta e diminui conforme as nosas acções. Não conforme as vontades e as simpatias dos outros.
Como a ignorância é eterna!... E "Uma mentira, mesmo que a digam milhares de bocas, não deixa de ser uma mentira"

Monday, June 04, 2007

Quero ser Cobarde

Quero fugir, quero ser cobarde. Desde que sai daqui, deste sítio que conheço de cor, que viu o melhor de mim e o pior de mim... Quero partir, quero sair. Mas não, não quero mudar.é so mesmo vontade de ceder á cobardia de voltar as costas.
É uma lástima que te tenha de enfrentar mais cedo ou mais tarde, porque senão, acredita , fugirira. De qualqer forma, o que é cobardia, vontade de assumir que se quer fugir ou fugir efectivamente?
Quero ser cobarde... mas não consigo...é uma lástima...seria a minha unica acção corajosa.

Thursday, May 31, 2007

Aula

A aula? Um tédio.
Bocejo. Aceno. Olho para o livro. Controlo o relógio.
Penso no fim da aula, no fim da tarde. No fim disto, deste tempo. A alma esboça um sorriso sarcástico: sabe que o fim está muitissimo longe. E hoje, inevitavelmente, não está um dia de sol.
Respiro fundo. Bocejo mentalmente. Passaram dez minutos (só?!?). Escrevi um texto. Tanto que aínda falta!...
Chegará ao fim, a aula, eu sei. Mas até lá, espera-me o infinito.
Enfim, passaram mais cinco minutos.

Tuesday, May 29, 2007

Pensamentos

Espero. E o tempo que espero provoca-me rugas profundas no rosto, no espírito.
Gostava de não ter de estar aqui, à espera. O correcto prende-me inevitavelmente à cadeira da secretária. Tanto que daria para ser livre, para estar noutro sítio mais apetecível . Os meus olhos vão-se cansado, sem que se fechem. Não estão autorizados. Tanto que daria para estar longe..
Mas contínuo à espera. O sono e o cansaço vão- me anulando, aos poucos. Mas nunca tanto como esta espera rídicula. Esta espera impotente, que será derradeiramente inútil. Eu sei.
No entanto, permaneço aqui. Agarrada à hípotese minuscula de poder resultar. De a espera poder ser útil.
Como sempre, como todos nós. Agarramo-nos sempre a hipotese positiva. "A esperança é um empréstimo que pedimos à felicidade"
E continuo à espera.
De quê?

Sunday, May 13, 2007

O grande Oscar Wilde

"Os parentes não passam de uma tediosa matilha de pessoas que não têm a mínima noção de como viver , nem a mais remota percepção de quando oportunamente morrer"

Oscar Wilde

Friday, May 11, 2007

Confusão

Hoje não me apetece escrever. Mas, simultaneamente, quero: sinto o sol em mim. Estou dinâmica. Queria dizer tudo, falar sobre o universo infinito!Mas a vida é tão simples e tão bela assim. Escreveria sobre o quê?O Mar, sempre belo e periogoso, no seu azul imenso?Ou talvez sobre o amor, sentimento grandioso que nos muda a nós e transforma a nossa vida. Sobre a vida efémera?
Não. Nao sei sobre o que escrever. E la esta, Fernando Pessoa outra vez: escrevi sobre a minha incapacidade de escrever.
E tanto qe eu tinha para dizer...

Thursday, May 10, 2007

Nós

'All we are is dust in the wind'
E é isto que às vezes - sò às vezes! - somos : algo muito efémero e fragil. Algo tao facil de destruir e ignorar... Enfim, dust... demasiado pequenos para um universo tao grande, demasiado ignorantes para um mundo tao complexo ...

Um obrigado à Nádia por me ter "emprestado' a frase que ela própria criou

Sunday, May 06, 2007

Aos Amigos

Um amigo "é alguém com que se pode pensar em voz alta." Às vezes a nossa ultima instancia;a nossa ultima viagem. Falo de amigos a sério, claro. Amizades áureas e duradoras. Não daquelas que se encontram ao virar da esquina. Refiro-me exactamente à aceitação das diferenças entre um e outro, à partilha da dor e da alegria e à inter-ajuda. Numa amizade reluzente está ímplicito um sentimento bom e puro, muito banal superficialmente (quem não diz palavras bonitas sobre a amizade?) e muito raro quando apreciado profundamente. Amizade implica o uso da moral e da lealdade.
E sim, efectivamente a maioria das pessoas não tem amigos- tem, antes, relações de conveniencia.
À Beatriz
WinGs, Maio 2007

Saturday, May 05, 2007

Raiva Fria

Não vês?Não consegues visualizar o rídiculo que és? Um palhaço triste de alma presunçosa e coração ocioso... só que queria que te visses! Não digo para te pareceres comigo - serias um tipo diferente de palhaço triste. Só peço que pares de tentar mudar-me. É pedir muito? Talvez. Se ao menos visses quem és... Perguntas-me se vejo quem sou. Hesito. Talvez não me veja. Talvez não saiba.
Mas de qualquer forma, não sou como tu. É já um começo...
Wings

Monday, April 30, 2007

G.O.D.

Às vezes quase que ainda te sinto na minha consciência. Nos momentos frágeis , claro. Só nos momentos mais frágeis. És cobarde, até nisso. Fazes-te apenas sentir nos momentos mais vulneráveis.
Mas enfim, nunca te senti verdadeiramente. Porque nunca te vi mesmo. Nunca te ouvi concretamente. A tua voz sempre foi a minha; a tua sabedoria era a minha sensatez. Nunca, na verdade, exististe. Para mim. Nunca acreditei. Foi só fraqueza. Mas as vezes voltas... dos recantos da consciencia, da alma...Para là da solidão e da sombra.Da cobardia e do fracasso. Voltas! Da onde, se não existes?Nunca exististe!
E só fraqueza. Fecho os olhos e vais embora. Até que enfim. Es só um consolo imaginário que eu crio.Enfim fico só. Prefiro a solidão.

Thursday, April 12, 2007

Mar

O mar, o mar... Ouço-o na minha cabeça. Vezes incontáveis. O som das ondas. Sempre dentro de mim. Sempre permanente na minha memória, mas de uma forma reconfortante.
E o cheiro das ondas, da espuma branca como a neve...Sim, também o cheiro. Nada cheira tão bem como o mar. Nada possui um um aroma, uma fragrancia tão agradável e envolvente. Se pudesse fotografar o cheiro, ou guardá-lo num frasco para nunca o perder, para ficar sempre comigo...
Que saudades do mar!Do azul infinito. Da beleza infinita.
Do perigo infito.

Saturday, April 07, 2007

Fantasma da Ópera

Nem sempre a Bela prefere o Monstro. É um facto tão cruel como triste - talvez mais melancolico e triste do que cruel. A maior parte das pessoas é triste: o plano exterior è determinante, o plano interior secundário. Por vezes, torna-se dificil olhar a beleza por detrás da fealdade.

Hoje estreou O Fantasma da Ópera na televisão. Um filme triste. Christine, a protagonista, troca a música do fantasma,a voz bela do fantasma, o amor estranho do fantasma por Raoul, um ser perfeitamente comum. A Bela não conseguiu preferir o Monstro. Instintivamente, cometo o erro de dizer que todos os que se deixavam amedrontar e horrorizar pela metade da cara defeituosa do Fantasma da Opera , tinham a alma mais distorcida que a cara dele. É inevitavel. É um erro permanente. Meu e deles. Eles porque julgam e importam-se demasiado com o exterior, menosprezando o interior; incapazes de ver tanto a genialidade como o homem por detrás do Monstro. E meu porque chamo, incosncientemente , à Bela-Christine , insensivel.

Nem sempre a Bela prefere o Monstro...

Friday, April 06, 2007

Viagens

Viajar...é deixar a alma fugir. Para depois apanhá-la de novo. E então ela conta-nos o que viu.
Viagens espirituais são agradaveis.Mas não há nada como experimentar os sentidos: ver! Fugir com a alma, partilhar informação com ela... Sensaçao unica, a de quebrar rotina, alargar horizontes.Fisicamente.Mentalmente. Sair do país de origem é como abrir a janela de manhãzinha e deixar o sol entrar.Como olhar o mar. É uma sensação unica. Que nos faz crescer.Mas que nos faz sentir a criança adormecida que continuamos a ser.Que crianças que somos!

Sunday, April 01, 2007

Aula de Guitarra

Tocar guitarra. Ou piano.Qualquer isntrumento.Uma experiencia unica.Maravilhosa.Encantadora.
Sinceramente, não há palavras para descrever. Alias, a beleza, a verdadeira beleza, não é expressável, é sentida, interiorizada; amada. Quando se ouve música, somos preenchidos por dentro, como se tivessemos sido incompletos ate entao.Como se abrissemos a porta para aquele jardim tão inesplicavelmente maravilhoso que nos faz sorrir a alma.
Música é uma sensação unica de felicidade. Um mundo sem música é o meu mais profundo pesadelo. Tudo tem um som, ate o silencio. E so a melodia da musica supera a melancolia do silencio em momentos de tristeza. Se for tocada por nós, é mais pessoal.
Passar a mão pelas cordas da guitarra e sentir o som... O paraíso!

Saturday, March 31, 2007

Nevoeiro

Há dias de nevoeiro em que tudo é indefinido. Nós, o mundo. Enfim, tudo. Simplesmente, não nos apetece escrever, não nos apetece criar nada. Vivemos dos livros escritos pelos outros- histórias magníficas que se fossem nossas, não seriam tão encantadoras. E de músicas- o eterno milagre humano. Mas não são maus de todo estes dias de nevoeiro: são dias como outros quaisquer, se os soubermos aproveitar bem. Porque "Cada dia é uma pequena vida".E que temos nos, para alem de cada simples e solitário dia?

Monday, March 12, 2007

To someone too special..

Starry starry night..
Paint your palet blue and grey
look out on a summer's day
with eyes that know the darkness in my soul

Shadows on the hills
Sketch the trees and the daffodiles
catch the breeze and the winter chills
in colours on the snowy linen land
Now I understandwhat you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would not listen they did not know how
perhaps they'll listen now.
[...]
Starry starry night
For they could not love you
but still your love was true
and when no hope was left inside
on that starry starry night
You took your life as lover's often do
But I could have told you,
Vincent,this world was never ment for one as beautiful as you
[...]
now I think I know
what you tried to say to meand how you suffered for your sanity
and how you tried to set them freethey would now listen
they're not listening still
Perhaps they never will

Vincent, Don Mclean

Sunday, February 18, 2007

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda que a tua


Sophia de Mello Breyner Andresen

Thursday, February 08, 2007

Persistência e Paciência

"Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha."

Confúcio

Saturday, January 27, 2007

Patinho Feio

Instintivamente, o vento da infância nunca me abandona. Durante o dia lembrei-me da história do patinho feio. Quando era pequena, não gostava. Alguém me disse que o final era feliz. E eu, numa posição irreversível, defendia que o patinho feio, com a triste vivência que tinha tido, jamais poderia ter um fim feliz. Podia era, ter um fim menos infeliz. Há feridas que nunca saram. Provavelmente, o meu raciocínio foi um exagero. Gosto de pensar que foi. É consolador pensar que o triste e pequeno pato se regenerou; sobreviveu à discriminação crua de que foi alvo.
Porém, pergunto-me, quantos patinhos feios é que passaram por mim. Que fim terão tido?O menos infeliz?...
No momento, só me ocorre pensar que o patinho feio é bem mais que um conto para crianças. Isto é, se se quiser considerar que é um conto para crianças...

Sunday, January 21, 2007

Desprezo

Há momentos como este, em que me sinto completamente só. Em que gosto (ainda mais) da minha solidão. Em que prefiro o silêncio total e solitário à confusão produzida pelo resto das pessoas ; em que prefiro o escuro da noite ao sol de um novo dia , sem qualquer atitude depressiva ou dramática. Simplesmente provoca-me enjoos a hipocrisia, o cinismo e e a futilidade que vejo todos os dias, patentes em quase tdos os rostos. Então, numa atitude de cansaço, afasto-me o mais que posso desse mundo que às vezes é tão cruel; que discrimina tanto. E aproveito a minha solidão: ouço música. Assim , o prazer da alma cheia supera o desprezo que às vezes me dói tanto sentir.

Friday, January 19, 2007

Solidão

Não me pequem no braço!
Não gosto que me peguem no braço
Quero ser sozinho
Já disse que sou sozinho!
Ah ,que maçada quererem
Que eu seja de companhia.

Álvaro de Campos

Tuesday, January 16, 2007

Imaginação

Mudança. Respiro mudança quando abro a janela. Qualquer coisa mudou. Observo com atenção mas está tudo igual. Tudo na mesma. Como ontem. Contudo, existe um vento diferente. A paisagem citadina e banal parece mais bela, mais única , como se nunca tivesse chegado a ser a paisagem feia que desprezo todos os dias. A verdade é que sou parte da paisagem. Olho-a todos os dias. Nos dias em que é feia sou eu que não consigo reparar num pormenor mais bonito. Por vezes o erro é nosso e nem sequer nos apercebemos. E sofremos com isso.
A paisagem é sempre a mesma, o que muda realmente é o nosso estado de espirito, o nosso grau de boa disposição. Varia com a nossa interpretação. E desilude-nos a paisagem que não corresponde à nossa expectativa. Esperávamos um dia olhar pela janela pequena e ver o mundo com que sonhamos. Mas a janela è demasiado pequena, nós somos demasiado pequenos, e o que vemos é aquilo a que chamamos real, ao nosso dia-a-dia monótono estampado em cada pedra do passeio.
Felizmente, hoje não é um desses dias. A interpretação hoje é optimista: a rua suja e feia, hoje, somente hoje- talvez nunca mais volte a sê-lo -é bela!E única.
É esta a maravilha de se viver. E só se consegue viver através da imaginação.
No quotidiano só sobrevive realmente o que sabe sonhar no próprio domínio do quotidiano. É o único que se propõe a mudar de perspectiva todos os dias – imagina, e ao imaginar, altera. Ele próprio. A paisagem. Até, quem sabe, o próprio sentido da vida.


Monday, January 15, 2007

Music is everything

O fim-de-semana foi passado numa aldeia nos arredores de Sintra. É um sítio pequeno; fechado. Um lugar onde todos os habitantes se conhecem; um lugar onde a velocidade da luz é menor que a velocidade com que se espalha um rumor. Mas apesar de tudo, não desgosto da aldeia: é sossegada. Pessoas mais simples exigem problemas mais simples.Ás vezes a simplicidade perturba-nos. Outras, porém, agrada-nos.
Estranho?Não. Conseguimos ignorar o mundo que nos rodeia, as pessoas que estão à nossa volta. Basta sabermos retirar-lhes o essencial, o conteúdo. E abstraírmo-nos do resto.
Com a ajuda preciosa de Jamie Cullum e Kurt Cobain caminhei numa cidade fantasma onde só existia eu e o meu discman. A coscuvilhice alheia passou-me despercebida. E tudo graças ao poder da mais maravilhosa invenção humana: A música. Sem ela, o que nos resta?

“Music is your only friend,until the end” , Jim Morrison

Sunday, January 14, 2007

Mar


"Quando morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"

Sophia de Mello Breyner, Mar