Tuesday, March 31, 2009

Quebra

Foi o primeiro momento em que foste indiferente, em que a tua ausência não provocou o ardor doloroso de uma memória doce assassinada.
És uma escultura bela, branca, cheia de pequenos nadas. Nadas para mim, todo o teu ideal é intrinsecamente estranho ao meu, estivemos sempre condenados. Mas foi, de certa, forma, amor; e foi verdadeiro, ou não teria havido sacríficios negros. Todo o branco inspirador , toda a transparencia cristalina que me deixaste reflectir-se-à eternamente na minha vida. Contínua e Indefinidamente.
Lamento, lamento até hoje, que te tenhas tornado só isso - restos do resto da memória. Não mostraste o movimento ondular que me permitiria ver-te como uma escultura cheia de outros nadas ( nadas meus...).
De certa forma, desculpa-me esta exigencia sofrida .

Saturday, March 28, 2009

Mas

É o mesmo sítio e as paredes guardam os nossos segredos, todos os gestos inférteis durante tanto tempo. Sim, quase tornaste tudo inútil pela tua fraqueza. Ou pela tua luxúria, também, que importa? Não te distinguiste da multidão o suficiente e não te basta a minha fé de que és um outro tipo de barco sem rumo. Lamento.
É o mesmo chão, tantas vezes pisado; oiço-te e oiço-me, oiço o que nunca dissemos; oiço o tempo que já não temos. Ecos de uma fé romântica, mas a janela tem aprisionada a minha saudade e agora está trancada. É o mesmo sítio , até os mesmos pregos e os mesmos buracos. Mas nos já não somos os mesmos, o som mais alto é o lugar vazio deixado por ti.
E tudo o resto e silencio duro e profundo. Porque é o mesmo sítio mas os teus olhos são só os teus olhos , apesar de toda a minha saudade , aparentemente banhada por uma indiferença dourada.


Friday, March 27, 2009

Clarificar

Não é que te queira magoar. E não é que seja crueldade da minha parte. Simplesmente, já não és importante e não existe tempo para esta hesitação ridícula. Tens o lugar vazio que deixaste , que te pertence, que nasceu para ser teu. E tens a chave do quarto negro cuidadosamente trancado. Só morres porque queres. Pelo menos , durante estes dias de Primavera inspiradora.
Já não te consigo proteger, nem de mim. E não é que tenha o coração duro como a pedra. Mas não me podes pedir para ignorar o que os olhos viram, oque os sentidos percepcionaram. O teu falhanço. Comigo, contigo, E a minha suave decepção. Porque foste apenas mais um na forma e no acto de errar.
E isso afastou-me de ti. Existe no teu ser todo um fracassar típico do ideal que despreza o azul da minha filosofia.

Thursday, March 26, 2009

Recusa

No fundo, é porque não tens romantismo, não és idealista,dominas talvez a arte da ilusão mas não a de encantar. Sim, no fundo, é por isso que confiei em ti, sabia que me não deixarias arrastar numa tristeza melancólica, alimentada meigamente pela tua memória.
O meu romantismo ingénuo teve-te como um deus mortal e humano porque não te via diferente, mas via-te especial e foi por isso que foi a ti que confiei a minha ultima lágrima – e a mais nenhum outro. És realista, logo tens facilidade no assassínio da dor.
Fomos cúmplices nas diferenças. Foste tudo o que precisei. Mas nunca disseste quem vias quando me olhavas e agora que partiste já não existe razão para me lembrar de ti.
No fundo, é porque nunca foste romântico e eu confiei-te o assassínio da minha expectativa benevolente, de uma ligeira ingenuidade. Devo-te, apenas, o adeus que recusas ouvir.

Wednesday, March 25, 2009

Moonlight

Ainda te devo algo. Nos teus erros humanos, por caprichos magnânimos e vazios ou tristes e angustiados, fizeste-me recordar Beethoven, obrigaste-me a pisar , débil e ridiculamente os seus passos, parte do seu sentimento, ou mesmo a sua dor.
Porque também eu te dei a música. Também tu a ignoraste, como ela, a mulher surda que trocou o som do piano por outro qualquer conforto. A pergunta é: soubeste, alguma vez, que a música era tua, para ti ? Sentiste a minha dádiva mais profunda? Ou foste surdo, caprichoso, barato e comum, como a mulher?
É uma pequena curiosidade, uma duvida que sempre me acompanhou .Mas que fazer, a música nasceu de mim para ti, mesmo que a não mereças, ela continua a ser tua.
E isso é que é verdadeiramente triste. Mas, aproxima –me de Beethoven. Ao menos, ao revelares-te sujo , barato e banal, aproximas-me de um génio.

Mas é uma alegria sofrida , o resto de uma felicidade que ruiu. O único consolo de um vitorioso que conquistou uma derrota . Porque a música pertence-te.

Tuesday, March 24, 2009

Diferenças

Talvez nem nunca tenhas sido frágil. Mas eu vi a tua quebra interior, não me posso deixar corromper pela raiva surda e angustiada. O objectivo é a harmonia interior, estar em paz com a perseguição da sombra, não te posso odiar. Talvez não sejas suficientemente valioso para um ódio ou talvez seja uma questão de amor.
A diferença é nenhuma. Porque eu fui frágil .E quebrei. A raiva desmedida simplesmente não faz sentido, quero compreender-te, quero limpar o meu espírito; quer tenha sangue ou não, precisa de ser restaurado. Porque o objectivo é a existência simples e alegremente triste (não tristemente alegre).
Talvez esta seja realmente a ultima despedida, o momento em que sei se quebraste ou não, a fracção de segundo que me diz se afundaste a minha crença em ti com desprezo ou se não sabes que a tenho. Mas depois disto, a tua memória é apenas mais uma e tu sabe-lo. Estás por tua conta.
Eu já me libertei de toda e qualquer culpa que, gentilmente, possa ter.

Saturday, March 21, 2009

Lutas

As estrelas no dia em
Que morreres
Fundem. E choram
De mansinho.

Dependem de ti, esforça-te
O vento é manobrável.

Olha o céu. As estrelas
Não estão la.
Acorda.
E reage. Não
Morras assim.
Não renegues
O coração.

Range os dentes e luta
Pelo teu direito de seres triste
E seres as estrelas
Do céu nocturno
Ou elas morrem.
Fá-lo agora ou será tarde de mais

Morrerás de dentro
Para o céu.

Friday, March 20, 2009

Alívio Triste

Finalmente acabou. Prolonga uma dúvida que retire o sono de noite na linha que separa o coração do cérebro e vais ver que o fim, mesmo o fim duro e cruel, é um alivio. Um alivio triste, porque acabou. Mas a linha alcançou o fim e explodiu, a inércia foi quebrada. Bom ou mau, o caminho foi-te dado.
A razão, a génese é importante claro. Está em causa a honra de uma existência, uma certa veracidade da memoria. Não levarás esse julgamento de animo leve, porque gostavas e apesar de tudo, quando se gosta é-se honesto e imparcial em certos momentos. É por isso que ainda tens uma oportunidade de singrares entre o sangue sacrificado e a lua negra, porque te esforças por compreender. O teu eu e o outro.
Finalmente acabou e sabes que perdeste quase um dia da tua vida, e perderás mais no cumprir do luto. Mas não importa se o luto que cumpres pela dor que sofres é merecido: tu tem-na, ela sim, existe. A crise já chegou, mas enquanto viveres terás a hipótese de te restabeleceres. Por ti.

Thursday, March 19, 2009

A Confissão

Sempre esteve cá, esta tristeza, aquecida e aconchegada. Desculpa, os meus demónios são os amigos mais íntimos de uma existência nómada e errada. Sedentarizar é perde-los e perde-los é a consciência de que o amor que tenho a esta liberdade melancólica e negra já não é suficiente. É admitir que existe algo mais amado que a própria liberdade.
Sempre fui incapaz, sempre me senti incapaz. Mas tu eras um jardim verde cheio de rosas azuis, rosas da eternidade e do pacifismo interior. Não havia nada tão azul, tão puro, tão profundamente ligado a um amor fundo como o jardim de rosas azuis. E agora foi tudo queimado.
Pedoa estas tristezas, estas palavras duras , estes gestos quase indiferentes a uma vida reluzente. São todo o coração que tenho , tudo o que sobrou depois da tua partida.

Monday, March 16, 2009

Vazio

Tudo será esquecido. Com velocidades e proporções diferentes, más memórias perdem a sua intensidade angustiante e as boas lembranças são gaivotas marítimas balançando numa onda de mar ao pôr-do-sol. Não deixa de fazer pensar, a facilidade com que a gravação sensitiva desaparece da nossa pele quando deixa de haver continuidade no tempo. Todas as guerras, todas as pazes conquistadas servem para isto: para conseguires esquecer e ultrapassar, continuar a tua existência apesar do resto, apesar de do tudo e apesar do nada.
É esta a conquista verdadeiramente vazia, a que nasce por uma razão legítima e boa mas que conduz ao caos, à desordem, à conquista sangrenta, à sobrevivência e à glória de uma existência. É uma filha ilegítima, abandonada e rejeitada, desprezada. A sua presença no calcário que escorre da vida simboliza todas as feridas inúteis.
Mas tudo será esquecido. Até te esquecerás de te lembrares do que sentes falta. É tudo em vão. Todo o sofrimento.

Friday, March 06, 2009

Sonho

É como se não pertencesses a este mundo, como se fosses um sonho bonito e azul tido durante varias noites quentes e adocicadas. E é como se me tivessem acordado de mansinho, um bocadinho cada dia; como se ainda me estivessem a acordar agora. E o sonho vai-se dispersando no calcar duro de cada dia, nos problemas que constituem a realidade. Porque realidade é isso, consciência absoluta de um problema e imaginação para o resolver.
A tua memória é tudo o que tenho guardado de bom, é o melhor que sou. Começa a desaparecer, como um sonho é esquecido durante as horas de clarividência diurnas. Acrescenta um certo tipo de desespero humano à dor da tua ausência profunda. Porque um dia, simplesmente, não farás mais falta.
Em certos reflexos, a morte é quase uma bênção.