Monday, September 25, 2017

Decadência

Amei-te é certo, mas queria ser o Inferno e regogizava-me
Com o meu ser enquanto uma personificação do diabo:
Um assertivo um que tentasse o bem do mundo
Apenas por uma outra forma.
E isso não se espelhava no teu olhar,
Cheio de esperança e de tranquilidade e de um doce ingénuo entusisasmo
Próprio de quem começa a amar e é demasiado jovem
Para ver que a crueldade do mundo muitas vezes
É apenas a infelicidade de um dia de chuva
Que alguem não soube conter dentro do peito
E ao culpar o universo, quebrou-o.

Amei-te é certo mas tinha uma guerra para ir e para voltar,
Triunfante e vitorioso;
Tinha reconhecimento para receber e poder para usar e mudar
O pequeno mundo onde vivia;
Tinha uma vida demasiado grande para caber num sonho perfeito,
Um sonho teu inocente,
de quem julga que um fósforo faz frente a um Inverno rigoroso.
Amei-te tanto que nunca mais voltei porque
Esperei eu também que um fosforo fosse suficiente.
Mas como nunca fui inocente,
Quando o fogo se extinguiu,
Apagou o rastro de luz que me roubava as trevas.

Amei-te é certo; tanto que te amei
E quando regressei porque um sonho é sempre inocente
O teu ser era um espírito esquelético frenético feito de esperança viva e moribunda,
Morto pelo cansaço de um sonho que não se cumpre
Porque o pôs nas maos erradas

Mas tao inocente que eras,  nem rancor guardaste.

Sunday, April 30, 2017

Velha glória

Aquiles luta só, contra o destino,
Numa mão a felicidade  e noutra a glória,
A decisão férrea na vitória:
A humanidade moldada pelo fado,
De um só homem.

Aquiles luta só, com o destino,
O medo, o sangue, a dor da carne,
A vida assim cumprida, deleneando
O limite último do sonho humano.

Aquiles luta só, rodeado pelo destino,
A vontade, o nome e
O renome; a eficácia de um gesto mudo…

A humanidade herdeira de um simples movimento,
Aquiles, herói, e o pormenor obsceno,
O ferimento simles, a seta oblíqua,
Aquiles herói, alcança o renome,
Enquanto o nome se perde no destino.
A humanidade moldada pela
Ambígua Glória eterna de

Um só homem.

Monday, February 20, 2017

Ode a Ricardo Reis


A minha história é simples,
Comum talvez, mas não banal,
Vim da guerra honrado general,
Furtivo, altivo, sagaz, senhor,

Senhor de mim mesmo,
Rei de mim próprio –
E da beleza verde dos olhos dela,
Longe da guerra e longe da miséria,
Como no poema à beira-rio,
Enlaçámos as mãos mas nunca entrelaçámos
As mãos.

A minha história é simples,
Mas não banal.
Fui épico desertor depois
De honrado general,
Orfeu falhado e
Estoico contra-vontade.
(A traição maior).

A minha história é simples –
Esventraram-me a carne,
Despedaçaram-me o espírito,
Puniram o crime,
E os olhos dela sentados à beira-rio
No regresso que nunca existiu,´
E os olhos dela, mágoa minha,
O meu regresso que jamais se cumpriu.
(A traição maior)


A minha história é simples:
Arruinadas inutilmente  as honras de guerras épicas,
A ode que ficou cantou esse mito
Da dor de Orfeu
(da memória das mãos de Eurídice enlaçadas mas não entrelaçadas,

No reflexo que é o meu…)