Tuesday, August 27, 2013

Silêncio

É um estranho mundo, meu amigo, demasiado estranho para essa tua existência, fundamentada por uma ideia diferente, procuras os teus, os que partilham a tua ideia enquanto eles procuram diferenciar-se de tudo o que os rodeia até serem únicos e especiais. E sós, indefinidamente sós, são tão únicos e são tão especiais que por mais que falem, ninguém os compreende.
Tu não estás só, tens os teus, tens consciência (e eles não), às tantas o teu coração é esvaziado de significado e o deles não, porque não têm consciência. E esperam de ti o impossível, tens contigo o batimento cardíaco, pegam-te na mão como se fosses um messias por despertar, como se pudesses salva-los da desgraça que são, porque é de ti que vem o pulsar da vida. Mas não os consegues segurar, instantes há em que simplesmente, simplesmente, tens de descansar e fechar os olhos, tens também uma vida para esventrar o propósito.

E olham-te, depois, quase com rancor, como se fosses egoísta. Porque, de tempos a tempos, evidencias numa luz clara a tua escolha : tu. Aquilo que eles não têm.  Não podes permitir-te essa surdez e deixar de ouvir o som de uma folha quando cai num secreto lago, no silêncio pacífico do teu ser. 

Thursday, August 01, 2013

Cose as tuas asas

Cose as tuas asas, pequeno anjo, que pior que cair, é não tentar sentir o intenso azul do céu ou quão quente é o Sol. De que vale uma vida sem desejos e sem sonhos?
Cose as tuas asas, é possível, ver-te trespassares o abismo, é o meu sonho, sou um jovem velho Dédalo, pequeno anjo, não posso dar-te umas novas asas, sonhar é eternamente ser-se frágil, porque somos  efémeros, mas cose tuas asas que ainda és pequeno, ainda te vela o tempo por vir. Esta é a minha função, tentar que voes e que não tenhas medo do medo, pequeno anjo, voar é  viver a vida que te pertence.
Cose as tuas asas, pequeno anjo, que tens contigo a esperança de muitos homens. A tua falha não os preocupa, a tua desistência é mais corrosiva, porque se abandonares o sonho, quem é que voa por ti? Por isso, cose  as tuas asas, pequenino anjo, que trazes contigo o sonho e tenta voar. A esperança que depositam em ti ampara-te a queda, pequeno anjo, porque é preciso que voes, para mostrares o caminho até ao Sol. Se não voares nós ficamos sós, com o sonho quebrado a escorrer, inutilmente, por entre as mãos.
Por isso, cose as tuas asas, meu pequeno anjo, que eu sou Dédalo mas não sou Ícaro, não anseio voar, anseio que proves que sonhar torna a vida possível.