Tuesday, January 16, 2007

Imaginação

Mudança. Respiro mudança quando abro a janela. Qualquer coisa mudou. Observo com atenção mas está tudo igual. Tudo na mesma. Como ontem. Contudo, existe um vento diferente. A paisagem citadina e banal parece mais bela, mais única , como se nunca tivesse chegado a ser a paisagem feia que desprezo todos os dias. A verdade é que sou parte da paisagem. Olho-a todos os dias. Nos dias em que é feia sou eu que não consigo reparar num pormenor mais bonito. Por vezes o erro é nosso e nem sequer nos apercebemos. E sofremos com isso.
A paisagem é sempre a mesma, o que muda realmente é o nosso estado de espirito, o nosso grau de boa disposição. Varia com a nossa interpretação. E desilude-nos a paisagem que não corresponde à nossa expectativa. Esperávamos um dia olhar pela janela pequena e ver o mundo com que sonhamos. Mas a janela è demasiado pequena, nós somos demasiado pequenos, e o que vemos é aquilo a que chamamos real, ao nosso dia-a-dia monótono estampado em cada pedra do passeio.
Felizmente, hoje não é um desses dias. A interpretação hoje é optimista: a rua suja e feia, hoje, somente hoje- talvez nunca mais volte a sê-lo -é bela!E única.
É esta a maravilha de se viver. E só se consegue viver através da imaginação.
No quotidiano só sobrevive realmente o que sabe sonhar no próprio domínio do quotidiano. É o único que se propõe a mudar de perspectiva todos os dias – imagina, e ao imaginar, altera. Ele próprio. A paisagem. Até, quem sabe, o próprio sentido da vida.


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