Thursday, March 19, 2009

A Confissão

Sempre esteve cá, esta tristeza, aquecida e aconchegada. Desculpa, os meus demónios são os amigos mais íntimos de uma existência nómada e errada. Sedentarizar é perde-los e perde-los é a consciência de que o amor que tenho a esta liberdade melancólica e negra já não é suficiente. É admitir que existe algo mais amado que a própria liberdade.
Sempre fui incapaz, sempre me senti incapaz. Mas tu eras um jardim verde cheio de rosas azuis, rosas da eternidade e do pacifismo interior. Não havia nada tão azul, tão puro, tão profundamente ligado a um amor fundo como o jardim de rosas azuis. E agora foi tudo queimado.
Pedoa estas tristezas, estas palavras duras , estes gestos quase indiferentes a uma vida reluzente. São todo o coração que tenho , tudo o que sobrou depois da tua partida.

9 comments:

Alice in Wonderland said...

Mas o jardim de rosas azuis é sedentário. Lindo, mas aborrecidamente fixo.

Queimá-lo ( ou deixá-lo arder) pode ser a solução dolorosa de um nómada que tem a casa no Mundo e a consciência constantemente errada no coração.

Anonymous said...

Ser nómada é uma escolha, uma opção de vida. E assenta em ser simples, ter o coraçao do mundo, nao querer nada porque sabe exactamente o que quer.
Mas há sempre algo que prende o nómada, a beleza de um jardim que o prende a uma possibilidade de uma felicidade menos sofrida.

Quando o jardim é queimado, o nómada sofre mas não chora. Porque é o melhor para ele, foi bom enquanto existiu.

Alice in Wonderland said...

"Mas há sempre algo que prende o nómada, a beleza de um jardim que o prende a uma possibilidade de uma felicidade menos sofrida."

Essa possibilidade de que falas não existe.

O nomada é nomada, porque nenhum jardim fixo é suficiente perfeito.

pantalaimon said...

É a possibilidade que nao existe que o prende. Porque ser nómada é contraria a convenção. E o próprio tempo. E ele gosta de quebrar toda e qualquer monotonia: nenhuma possibilidade é tão tentadora como a que nao existe.

Mas é uma questão de tempo até que o jardim fique queimado e ele tenha de partir, sem lágrimas...

pantalaimon said...

É a possibilidade que nao existe que o prende. Porque ser nómada é contraria a convenção. E o próprio tempo. E ele gosta de quebrar toda e qualquer monotonia: nenhuma possibilidade é tão tentadora como a que nao existe.

Mas é uma questão de tempo até que o jardim fique queimado e ele tenha de partir, sem lágrimas...

Alice in Wonderland said...

Eu diria que a única possibilidade que é tentadora é a que não existe.

Mas durante o tempo em que se ilude, nenhum sedentário é tão apaixonado como o nómada.

E por isso parte sem lágrimas quando o jardim ( que nunca existiu) é queimado vivo.

pantalaimon said...

sim, nenhuma paixão é tapo profunda e verdadeira como a do nómada. Porque ele dispoem-se a abdicar de todos os seus ideais e mdoos de vida. E é uma entrega verdadeira e honesta.

Quando o jardim é queimado vivo, o Nómada parte sem lágrimas. Porque sem a paixão que o move e que o faz sentir-se diferente, ele é apenas ele. E isso, ao menos, faz-lhe sentido.

Alice in Wonderland said...

Agora que releio os coments, ocorre-me pensar na Incerteza de Heisenberg. Nunca poderás saber exactamente o local e a velocidade do electrão.

Tens de escolher. E necessariamente perder alguma coisa.

Anonymous said...

E quando perdes, ganhas.
Só tens de decidir o que preferes estudar do electrao.

Um nomada nunca escolhe estudar a posição.Para ele, é tudo , muito mais, uma questão de velocidade.