Thursday, July 31, 2008

A Crença

Agora que a chacina terminou talvez descanse nos teus braços melancólicos e marítimos. Talvez lhes sinta o sal e a tristeza da lágrima crucificada. Talvez te mostre a vida que ainda há nos meus - sangue jovem, carne fresca, pele rasgada – e te relembre como o céu é a continuação infinita do reflexo do oceano.
O cansaço apodera-se do universo, o céu torna-se roxo em vez de ser decorado com pontos brilhantes dourados e estamos sós, partilhamos a solidão apenas, a existência abrupta, errada e nómada. Não somos mais do que nómadas que, de vez quando, procuram tornar a caverna fria e primitiva numa casa. É daí que vem a chacina, é daí que germina a nossa tortura, do ridículo que somos quando nos tentamos civilizar, sedentarizar. O mundo, verdadeiramente, não tem lugar para nos.
Porém, há alturas em que o filósofo ressoa no teu ser e uma esperança sombria nasce do teu sorriso aberto e raro e convence-me que somos uma parte ínfima das peças mais importantes do jogo de xadrez.

1 comment:

Alice in Wonderland said...

Um nómada nunca será sedentário. Mas cresce-lhe no coração uma vontade ocasional de ter uma gruta mais quente.
Mas quando a gruta fica quente, o sangue pede-lhe o vento e a liberdade da viagem.

Está tão preso o nómada. Preso a esse destino que lhe nasceu nas veias. O destino de ser a peça do xadrez que decide o jogo, com a sua morte.