Thursday, July 10, 2008

The Unforgiven

Curar é um acto raro. E não é sinónimo de ultrapassar. Ele ultrapassou a crise existencialista – habituou-se á ideia de que nada é, nada será e nada foi. Apenas é, agora, neste segundo lunar. A mente disciplinou-se perante o novo ambiente lagunar e negro mas a alma ficou fragmentada, e limitou-se a sistematizar-se tristemente com a morte dos sonhos excêntricos que movem a vida.
Perdeu o brilho perdeu-se a si próprio. Ultrapassou e encontrou uma metade perdida e responsável. Só se tem a si próprio, é um Narciso ainda mais triste porque o lago é a sua única casa. É um Narciso que só se tem a si para admirar. É um Narciso que deseja, inconscientemente e em noites gélidas, cair ao lago para não enfrentar a beleza do nascer vazio do dia.
Tinha ambições de heróis de banda desenhada e tinha o coração do mundo. Tinha, já não tem e perdeu tudo de forma abrupta. Os olhos eram grande e salgados, secaram, hoje, os rebentos da esperança. Tinha a expectativa de uma vida pela frente que já não lhe pertence porque lhe falta a outra metade – a metade nómada.
Ele fez algo raro: ultrapassou o enfrentar do espelho e gosta de si como se gosta de um velho amigo. Mas não se curou e a alma enruga-se nas margens do tempo com o passar das horas.

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