Thursday, April 30, 2009

Tristeza

A minha tristeza é existencial.
Sempre percepcionei o teu erro mas guardo ainda sonhos diurnos e clarividentes. Tu poderias ter sido um, teria sido tão fácil.
E foi tão difícil. Não existiu decepção, como uma ferida profunda que não dói ao cortar violentamente. A dor incolor é ainda mais triste. Eleva-se no silencio com o som da sentença, o timbre da consequência do dom negro e vazio.
A minha tristeza é indefinidamente triste. Porque tu foste a hipótese patética de fugir à minha maldição.E apenas a revelaste mais nitidamente chacinando todas as pequenas esperanças que eu criava cuidadosa e carinhosamente.
A minha tristeza é dura e pesada. Um dia serás odiado e rejeitado. Porque a minha tristeza é a saudade que me deixaste de mim.

Wednesday, April 29, 2009

Claustrofobia

O mundo sufoca-te. Este mundo, que nada diz sobre ti, que encobre e esconde esse amor oculto.
E por isso é que te dói ainda mais, a claustrofobia exalta a sua componente sentimental. Maltrataram-te, deixaste que te maltratassem e nem sequer existe amor cheio profundo. Só não é completamente inútil porque a sociedade vazia assim o impõe e compras um pouco de paz vendendo um pouco do teu coração.
Sufocam-te, prendem-te, apertam todos os músculos, o teu próprio coração explode num truque de ilusão refinado.
Abres os olhos. A realidade inócua continua a envolver-te . E não sabes ate quando esse amor oculto proibido aguenta a tua existência. O teu sacrifício para que te não arrastem numa morte lenta e gradual.

Sunday, April 26, 2009

Filosofia

Ele ama, de uma maneira diferente da tua, mas não lhe duvides o coração .É o melhor que tem, a cor azul em todo o seu universo caótico escuro.
Tu fizeste-o ver um mundo diferente, sem filosofia, sem ideal, sem crítica e sem passado – que às vezes é mais inútil que um trapo. Não havia uma tentação mais subtil e cheia, tão correcta, lógica e legitima. Mas, sem filosofia, ele não sabe existir, apesar da filosofia falar da caótica e problemática existência humana. Apesar da filosofia o arrastar para um poço em que ele cai indefinidamente.
Ele amou, mas não foi esse o destino escolhido para ele. Talvez tenha sido ele próprio a delinear esse triste trilho ( ele recusa descobrir). Ele não foi talhado para um vida estável, tem um trabalho no mundo e tu não estas incluído.
Desculpa-o, ele preferiu-te enquanto pode.
E a decisão errada foi tua.
Não dele.

Saturday, April 25, 2009

Paralelismos

O mundo repete-se, apenas tu te ausentas com o teu caminho branco. Sinto a tua falta, como se tivesses existido há demasiado tempo, como se tivéssemos morrido e renascido em realidades separadas. Sinto a tua falta, os olhos fecham porque sentem o peso da tua ausência, mas desconheço-te. Não fazes sentido. Marcas-te com um ângulo diferente de lágrimas vazias ( e eu já nem essas tenho).
O mundo repete-se, os dias sobrepõem-se em pausas contínuas de uma dor grave e baixa. E alguém ocupa o teu lugar. Eu já não te reconheço, já não és inteiramente tu na tua grandiosidade humilde.
O mundo até se pode copiar, podem todos os segundos ser uma repetição anterior de um segundo primitivo. Mas eu escolhi uma realidade paralela , onde tu foste brutalmente assassinado.

Friday, April 24, 2009

Prenúncio

É um prenúncio de morte. A tua presença modifica-o e ele não sabe como. Sente-se confortável em qualquer sitio porque ele é senhor de si mesmo, vive como quer, por conta própria, resolvendo as equações com preguiça e perspicácia.
Menos contigo, contigo, ele não consegue encontrar a solução. Apenas a sente, sobre a pele como uma pétala suave que lhe activa o tacto. Sente-se diferente contigo, assume que tens um acesso parcial a sua mente que ele não te deu e fica demasiado confortável . Já não há nada a esconder, ele é apenas ele. E é isso que queres, que ele seja ele, para tu poderes ser tu. É essa a solução. E ele sabe, tem medo dela, uma vez que a aceite, o resto do mundo perde qualquer interesse.Porque, contigo, ele é simplesmente ele, não altera o ângulo real conforme lhe é mais conveniente.
Se lhe confirmares a solução da equação, ele vai entender que tem legitimidade em ver o mundo azul porque tu também vês.E vai ver que tu queres o seu apoio, que queres dar o teu apoio. E nunca mais vai ser o mesmo. A Lua cheia está esplendorosamente bela, é um prenuncio de morte.

Tuesday, April 21, 2009

Triste

A vida é isto, um número mísero de tristes expectativas que acabam por morrer porque a realidade é feia e inócua. A arte é sempre assassinada , a estética profunda e inteligível queimada. E ficam a sonolência e a igualdade dos dias.
E por isso é que ele sobreviveu e não sucumbiu à tentação de morrer, de ter os sentidos ,tão já feridos, fechados eternamente para o mundo. Ontem e Amanha foram a mesma coisa, não se apercebeu do passar da noite. Na madrugada ainda estava vivo e a ferida jorrou sangue vermelho-vivo.
A vida é um mísero conjunto de repetições exteriores e decepções interiores. Nem sempre é uma aprendizagem, um fortalecimento; é simplesmente uma perda da capacidade de amar e de acreditar. E hábito. À dor e ao inevitável.

Saturday, April 18, 2009

Lembrança

A consciencia da noite rompe o silencio frio e negro: não está esgotado, há ainda um sorriso que escapa pelos poros da pele quando a tua memória é activada. E só morre quando tu, definitivamente, fizeres valer a tua verdadeira escolha consciente, o trilho que tomarás ,discretamente ,como teu.
Existe, possivelmente, um pedaço de coração guardado para ti, que te pertence. Para sempre. Até ao fim. Se nunca te for entregue, desfazer-se-á em pó, solitário e duro, quando os incontáveis dias atingirem o seu próprio limite. Um pedaço de musculo cheio de sentimentos que só existem para ti. Um bocado de responsabilidade que te não quero dar. O meu trilho é negro e sombrio, luzes são proibidas. Não anseio arrastar-te comigo para a escuridão .
Ainda existes dentro da memória, e no frio alto da noite, a intensidade é libertada. A dor é pequena, a saudade rasga a pele em longos cortes. Mas sobretudo, o sorriso rasgado afoga a angústia no poço do pedaço de coração. Porque ainda existes, num mundo paralelo em que a tua mão quente aquece a minha, indefinidamente fria.

Thursday, April 16, 2009

Desumano

É porque ansiei esquecer, por breves dias sombrios e clarividentes, a paixão que existe em todo o mísero pedaço de pele, em cada músculo rasgado ou distendido, em cada nível da alma ou do espírito. Mas, de cada vez , que a música se eleva no ar e o coração se impõe como portal entre o mundo exterior e a minha mente, é como um transe que invade o sangue e oferece uma sensação única. De loucura profunda. E de lucidez honesta. E amor, sobretudo, amor. A melodia embala como se não fosse deste mundo, desta triste e medíocre realidade.
E, durante aquele breve período de tempo, a musica era a tua voz. O teu timbre encantava os músculos que descontraíam negligentemente. Mas era desprovida de melodia, a tua voz , não tinha profundidade. E a música voltou a elevar-se no ar e o coração tornou o espaço exterior na minha mente, condecorando a audição o sentido rei, empurrando, com desprezo, a visão para o melancólico segundo lugar.
É porque já não sou a mesma pessoa. Oiço o mundo, não o vejo. A realidade não tem importância. Não é audível!

Saturday, April 11, 2009

Indescutibilidades

É indiscutível a tua utilidade: foste completamente inútil; mais, foste a intensa luz que quebrou o sagrado e seguro caminho escuro. Calaste a revolução, entregaste nas mãos frias e pálidas o poder da compaixão e da atenuação da raiva. Fizeste de um duro soldado de guerra desertor um ser humano condescendente e amável.
O teu perfume, exagerado e extremamente aromático abriu , num jeito simples, as portas para um mundo diferente. Não há batalhas sangrentas, ou invejas desmedidas e belicamente humanas, certo rancor ao passado ou, mesmo, indiferença à vida. O teu mundo não é perfeito, mas guarda num pano de veludo branco e macio, as cores que exaltam uma existência. A minha existência.
Ofereceste o teu acolhimento, o teu abraço e até mesmo o toque da tua pele. Indiscutivelmente, atenuaste a raiva e deixaste bem ciente que o mundo não é, obrigatoriamente negro. Em nada foste inútil. .Sem ti, o mundo seria , talvez, um lugar extremamente belo e sedutor onde não existe a mínima esperança de se ser melhor, de se ser azul.

(Mas eu prefiro que o mundo seja negro como a noite.)

Friday, April 03, 2009

Discreto Pedido de Desculpa

Eu sei que, provavelmente, não sabes. Mas sofro por ti mais do que sofro por outra qualquer razão. E não sei porquê. Reconheço, simplesmente, em momentos de silencio barulhento e ensurdecedor que me és importante assim, sem paixão calorosa ou , sem mesmo, a sensibilidade humana cravada em cada pedaço de pele. Apenas.
E não sei porque é que magoa, porque é que chamo para mim a responsabilidade de não deixar que te aleijem, se a pele é tua e não minha, em momento algum é algo controlável.
Gostava de perceber porque é que encantas toda a minha compreensão e compaixão, há já muito desaparecidas. Gostava de te dar a verdade que queres descobrir furtivamente sei que a tenho, algures, comigo. E gostava que soubesses que nunca te mentiria.
Sei que, provavelmente, desconheces o quão me és importante e o quanto te queria proteger. E sei, igualmente, que não consigo fazer mais do que isto, e isto é praticamente nada, invisível.
Talvez por isso sofra mais por ti do que por qualquer outra pessoa, até mais do que sofro por mim ( tu e eu, somos uma mesma coisa.)

Thursday, April 02, 2009

Escuridão

Porque não me assassinas? Salvar-te-ia desse tormento, dessa leve ansiedade brilhante que dança nos teus olhos, brinca na tua pele. Larga-me , foge de mim. Esquece-me e apaga-me, por favor, abandona-me e abandona todo o meu aroma estranho e suavemente selvagem.
Não vês? Quero salvar-te, de mim, proteger-te. Por isso deixa-te afastar de mansinho, entrega-te a esse murmúrio frágil que te diz para me deixares partir. Por favor, eu nunca te magoaria intencionalmente.
Não te confies, assim, a mim. Não ponhas o teu coração de veludo branco nas minhas mãos. Elas protegê-lo-ão cuidadosa e carinhosamente até o vires buscar. Não faças isso, serás a prioridade.
Por favor. Assassina-me. Sou um caminho errado, tu és a opção errada. Mas sobretudo, eu sou um soldado desertor de uma guerra vazia, por favor, deixa-me estar só e sê feliz. Sem mim.

Wednesday, April 01, 2009

Oposições

Reconheço-o agora, foi um erro inteiro meu. Inteiro, cheio e quente. Mas desculpa-me, não foi consciente, foi verdadeiro todo o esforço, todos os segundos que dedicava á tua maravilhosa e discreta magnificência. Simplesmente, anulou-se o feitiço que me deitaste quando te afastaste. E reconheço agora, queria tanto ter-te por perto, desesperadamente, tanto medo em perder-te , que deixei que a magia atingisse o seu extremo e quebrasse. Agora não sobra nada.
Sempre tive, possivelmente, esta leve consciência de que era um sentimento puro e bonito, de que era uma magia estranha e azul a dominar-me. E sempre soube que terminaria. E que tu morrerias assim. Sendo o teu rosto perfeito apenas mais um.
Reconheço-o, agora, apenas, agora, que nunca te deveria ter dado tanto, foi tudo de coração e intencional. Simplesmente, não existe em mim.
Conviveste e dedicaste o teu precioso e frágil tempo a alguém, que no teu mundo exuberante e cristalino, não existe.