Tuesday, February 07, 2012

Envelhecer (Parte III)

Ele amava-a, como nao amar? Eram correctamente complementares. A essência do ego era semelhante, a forma de o colocar activamente no quotidiano era contrastante. E ela amava-o, admirava-lhe as cicatrizes, a arte de sobreviveer crua e firme. Inspirava-se nele. E ele via nela uma beleza suave mas forte. Nao havia qualquer fragilidade, ela nao era volátil na sua efemeridade. Podia nao ser uma fonte de inspiração, mas era, sem duvida alguma, um instante reluzente que o fazia sentir-se ele , sem as cicatrizes profundas da sua essência.

Mas nunca lhe reconheceu a elegância do pensamento ou a arte de saber viver modesta e aristocratamente. Nunca lhe reconheceu a astúcia humilde e sensivel que protegiam o ego. E, um dia, o Inverno foi rigoroso, de neve suave, frio desumano. Ela vestiu o seu casaco quente e correu para a neve. Ele entristeceu-se e queixou-se do frio. Ela tentou explicar-lhe o que de tão encantador havia na neve, no frio. Ele disse-lhe que nao queria saber. Disse-lhe que todos temos que crescer um dia, envelhecer. Ela já era demasiado adulta para brincar na neve, devia ganhar consciência de que o frio congela o corpo, de que o Inverno deprime porque é triste.

Mas ela via arte na neve. Deixou de ver foi arte nele. E, por isso, nunca mais o viu

1 comment:

Alice in Wonderland said...

Uma pequena história extraordinária!
ADOREI