Friday, January 28, 2011

Orfeu Envelheceu

Orfeu envelheceu. Entregou-se a um outro tipo de morte e a tristeza calcificou-lhe a essência. Orfeu envelheceu e nos fundos traços de uma existencia quase imortal lêm-se as entrelinhas de um amor que lhe arruinou a crença. Que o deixou vivo depois da morte ter ido ao seu encontro.
Orfeu envelheceu. Guarda aínda no peito o inconfundível perfume de Eurídice. Da sua Eurídice, ama-a quando a relembra. Ama-a só quando a ama, a não pode amar quando não a ama. Orfeu envelheceu, esqueceu o que era o amor , guardou apenas a memória do que era aquela vida. Orfeu envelheceu mas o mundo continua jovem.
Talvez não fosse Eurídice, talvez Orfeu tenha entregue a melodia única da sua lira à Eurídice que não era Eurídice. Mas está envelhecido, Orfeu. Ama-a ainda quando a relembra. A não pode amar quando a não ama porque o fogo congelou-lhe o coraçao. Orfeu envelheceu.
Sempre foi a Eurídice errada. E Orfeu está velho. A morte abraçou-o e deixou-o vivo para contemplar a o fim da sua harmoniosa essência todos os dias.
Orfeu envelheceu, era a Eurídice errada. Mas, de alguma forma, foi a sua Eurídice. Ele sempre foi Orfeu. Era a Eurídice errada mas era a sua Eurídice.

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