Não tem perdão aqueles que, por um medo envolvido num manto
de ideias bonitas e extraordinariamente ilusórias, quebram a sua liberdade. E não
têm perdão porque eles são livres de desejarem não o ser, mas ao fazerem isso,
infelizmente, esses cobardes minam a minha liberdade. Porque não lhes posso
dizer: cobardes, gozam de um certo tipo de liberdade para poderem abdicar dela.
Mas não lhes posso dizer que é preciso ser livre para poder desejar não ser porque
chamar-lhes cobardes os ofende. E eu não sou livre de os ofender.
Ainda que, todos os dias, essa atitude medíocre, medrosa,
cobarde, digna da menos digna piedade, me retire liberdade. Não posso dizer:seus cobardes da porcaria.
Não me fica nada bem ofender e insultar, assim, os meus semelhantes. Portanto, não
sou (completamente) livre de o fazer.
Não lhes posso dizer: pior que vos fecharem numa jaula como
animais, seus idiotas, é vocês enfiarem-se nela e trancarem-se, para ficarem
seguros. Não posso dizer isto. Não me fica nada bem.
Pois bem.
Hoje posso – e vou – fazer uso da liberdade que gozo e dizer
a essas pessoas que são cobardes. E mais: são periogosas. Minam a liberdade de
todos nós ao desejarem estarem seguros em vez de serem livres como se tal
oposição fosse digna de existir. É um cliché, hoje, dizer-se que a minha
liberdade termina quando começa a do outro. E pior: é unilateral. Na verdade,
os cobardes que a proferem tem em mente algo deste tipo: eles são livres de
escolherem uma cobardia vergonhosa e de a expressarem livremente e a minha
liberdade termina quando os ofendo ou insulto ao chamar-lhes cobardes. Mas eles
são livres de me ofenderem com a sua cobardia sem que lhes possa dizer,
cobardes, todos os dias.
E, em nome da minha liberdade, digo, hoje: seus cobardes da
porcaria, se vocês escolhem não ser livres, então a minha liberdade não termina
quando a vossa começa, era preciso que fossem, de facto, livres, para se poder falar, de todo.
No comments:
Post a Comment