Monday, March 24, 2014

Ne me quitte pas

Procuro uma despedida sem fim para que não me despeça nunca. Mas um dia haverá, um dia haverá, que não poderei despedir-me. Nunca mais.
Procuro despedir-me todos os dias para ter a certeza que me despedi, que te disse quão pesada será a tua ausência para mim. Procuro orientar o meu afecto enquanto ainda tem um correlato no mundo.Procuro despedir-me a cada momento porque o coração é frágil, sempre frágil, sempre fraco.  Nunca cresce para uma compreensão exacta profunda.
Procuro despedir-me para me perdoares das minhas culpas. So soube ser eu ( só sei ser eu). Sentir-te-ei a falta, culpo-me de todos os instantes em que tinha algo de mais importante para fazer. De todas as minhas zangas, de todas as tuas.  Sentir-te-ei tanto a falta que, qualquer instante de dissonância, é um instante de morte. Por isso despeço-me, para que me perdoes e fiques. Mais um pouco e mais pouco...
Mas já me despedi e tudo o que tinha para dizer já disse. Já confessei o meu mais fundo afecto numa só palavra. Que é a única que pode ser dita, a única com verdadeiro sentido. A única que sintetiza o tudo e o harmoniza.

Tudo o resto, é porque não quero despedir-me, despedindo-me todos os dias. Culpo-me sem nenhum acréscimo de culpa, só quero que continues mais um pouco, mais um pouco, mais um pouco...

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