Procuro uma despedida sem fim para que não me despeça nunca.
Mas um dia haverá, um dia haverá, que não poderei despedir-me. Nunca mais.
Procuro despedir-me todos os dias para ter a certeza que me
despedi, que te disse quão pesada será a tua ausência para mim. Procuro
orientar o meu afecto enquanto ainda tem um correlato no mundo.Procuro
despedir-me a cada momento porque o coração é frágil, sempre frágil, sempre
fraco. Nunca cresce para uma compreensão
exacta profunda.
Procuro despedir-me para me perdoares das minhas culpas. So
soube ser eu ( só sei ser eu). Sentir-te-ei a falta, culpo-me de todos os
instantes em que tinha algo de mais importante para fazer. De todas as minhas
zangas, de todas as tuas. Sentir-te-ei
tanto a falta que, qualquer instante de dissonância, é um instante de morte.
Por isso despeço-me, para que me perdoes e fiques. Mais um pouco e mais
pouco...
Mas já me despedi e tudo o que tinha para dizer já disse. Já
confessei o meu mais fundo afecto numa só palavra. Que é a única que pode ser
dita, a única com verdadeiro sentido. A única que sintetiza o tudo e o
harmoniza.
Tudo o resto, é porque não quero despedir-me, despedindo-me
todos os dias. Culpo-me sem nenhum acréscimo de culpa, só quero que continues
mais um pouco, mais um pouco, mais um pouco...