Wednesday, September 10, 2008

Homenagem

Melancolia extrema a tua de mexer o braço mecanicamente sem o sentires. Dormes acordado sem cederes ao sono, sem encarares a realidade obscura que te afoga as lágrimas uma a uma, devagarinho e dolorosamente.
Vives assim, triste e só, apertas o vazio à espera que alguém te dê a mão. Cresces com o reflexo quebrado que vês no espelho oblíquo; cresces alienado dos outros, focado no teu eu difuso e coerente no universo, inimigo do agora civilizacional.
Nunca te confundes na multidão porque a cicatriz distingue-te, preferes que te odeiem para te temerem e não te incomodarem. No fundo, anseias apenas ficar a sós com a tua dor com o passar dos dias de sol e de sombra. Sabes quem és porque não és igual aos outros; és o azul aberto do céu, a tenebrosa violência do mar, o perfume afável de uma flor frágil e discreta, o arco-íris de uma só cor, a árvore banhada pela luz e pela sombra simetricamente.
Vives no meio do fogo sagrado e negro, vives iluminado pela Constelação. Mas estas só. A sós. E a melancolia de uma existência nómada e utópica caracterizam-te.

2 comments:

Alice in Wonderland said...

"Vives no meio do fogo sagrado e negro, vives iluminado pela Constelação"

E estou só. E estou a sós. A sós com essa constelação que caracteriza a minha natureza nómada.
********
Perdoa-me o abuso de interpretar o texto para mim. Não posso deixar de me identificar e identificar essa constelação.

Anonymous said...

Na verdade, é-me quase impossivel nao exagerar o perimetro do meu ego com esse teu comentario. No fundo, nao escrevo para mim ou por mim. Escrevo porque escrevo sim. Mas continuo a escrever porque eu identifico-me com os meus prórpios textos,alienada de mim. E outra pessoa que o faça faz-me sentir um virgilio Ferreira adolescente , ingenuo e com menos - muito menos- arte.

Obrigado!