Tuesday, May 20, 2008

Orfeu Renascido

Julgo que costumava ser uma espécie de Orfeu. Não um Orfeu completo, não um dos verdadeiros. E também não era uma imitação barata, seja como for, era um reflexo de Orfeu, o primeiro.
Perdi-o em mim, algures no meio do meu medo de infertilidade emocional ou mental. Perdi-o e talvez no mundo, como se perde uma sombra, como se perde uma alma. Talvez nunca mais o encontre. Talvez nunca mais tenha habilidade para o visualizar.
Porém, quando a escuridão incide com um certo ângulo no espelho que não é plano, vejo um reflexo nítido de uma silhueta desfocada. Encontro-o em mim porque ele existe sempre que os meus nervos humanos o chamarem.
Julgo que costumava ser uma espécie de Orfeu, talvez seja, hoje um novo Orfeu já velho e renovado. Tão renascido das cinzas que nunca conheceu Eurídice e já não chora por ela, já não enfrenta o inferno e o deus terrível por ela. O amor já não lhe faz falta. Mas ainda é Orfeu porque, quando o vejo no espelho, ele ainda tem a sua lira e nos seus sonhos profundos vê Euridice.
Perdi o Orfeu que tinha em mim mas talvez seja só falta de esperança.

Wings C.


2 comments:

Alice in Wonderland said...

Há uma diferença fulcral entre um Orfeu que nunca conheceu Eurídice e um que já não chora por ela.
O primeiro nunca descerá ao Inferno. E nunca errará.
Ambos não têm lágrimas. Mas isso é tudo o que têm em comum.

Anonymous said...

Sim efectivamente tens razao a diferença é mais do que grande, é infinita.
Porem, ambos se afastam do primeiro Orfeu, ambos ja estao diferentes, ambos modificaram a historia: O orfeu que ja nao chora por eurídice é duro e resistente, dificilmente se abandona á morte; modificou a historia primeira.

A diferença entre eles é muita, mas num certo ponto do grafico da historia, tem as mesmas coordenadas: ja nao sao O Orfeu que aparece no Mito Original.