Suspender o tempo em horas histéricas, eis um sonho comum.
Controlar as batidas nervosas dos ponteiros de relógios alheios que sentimos no
peito, sorrir como se sorri normalmente, como se fosse comum caminhar e sorrir.
Como se fosse normal estar sempre bem disposto e não ter dias menos bons.
Conquistar a normalidade, garantido uma anormalidade. Suspender o tempo porque
a vida acha-se suspensa, embora os segundos se tornem minutos e um dia se
perca, nas suas infinitas horas inúteis que vimos, lentamente, passar.
Eis um erro comum.
E para nada interessam receitas de vida alheia que te
aconselham a fazer isto ou, então, antes aquilo. Dizem-te para seguires o teu
coração, sempre, que é aí que se esconde a verdade última, tapada por interesses
racionais. Mas não conhecem o teu coração, nem tão-pouco os seus infindáveis desejos
e, indubitavelmente, fica-me a pergunta se continuará a ser uma escolha
corajosa optar pelo medo, que tanto faz o coração bater mais depressa. Lugares
comuns, como vês, revestidos de algo que brilha como ouro, mas que está muito
longe de o ser. Oferecer essa hipótese, como sendo segura, o caminho do
coração, é garantir a existência de um manual alheio, que no fim permite-te pensar
que podes ser inocente na escolha que foi tua. Só seguiste o teu coração – como
te disseram – nada de mal pode vir dai. E, assim, assumes que o teu coração é
só mais um, igual a tantos outros. Talvez não devesses seguir o teu coração.
Eis uma ideia antagónica.
Não deverás seguir, talvez, coisa nenhuma. Deverás respirar
de alívio, de consagração, de mérito, de desastre, de desgraça, de humilhação,
de frustração, de degradação. Mas, para que o suspiro seja teu, não deverás
seguir manuais alheios. Talvez fazer uma antologia com ideias perdidas, colando
os retalhos com a tua própria interpretação, num abraço, tão perfeito quando
possível, da objectividade com a subjectividade. Deverás saber que, muito
provavelmente, estarás completamente só nesses dias, nessas épocas, em que a
vida está suspensa e à espreita, mas as horas continuam a passar. E que muito
além de ser bom ou mau, é, meramente, inevitável. Mas que terás os teus para celebrar
a derrota ou a vitória porque, no final, importa acima de tudo que a vida não possa ser desprezada enquanto houver mais sentido para procurar do que meramente cumprir
ordens baratas e alheias. A tua vida não deverá ser o cumprimento de um manual
alheio que leste na diagonal.
4 comments:
em primeiro eu sou uma pessoa arrogante e egocêntrica, logo tenho a mania da superioridade. Por isso presta bem aquilo que te vou dizer:
tu és muito particular e tenho a certeza que és a pessoa mais original deste mundo mas tens um defeito: o academicismo. Tens de o largar, de o rebentar, e tens de ser tu seja qual for a forma de expressão.
"When a person considers himself esthetically his soul is like soil out of which grow all sorts of herbs, all with equal claim to flourish; his self consists of this multiplicity, and he has no self that is higher than this(...)."
Either/Or, Kierkegaard
Que estupidez esse Kirreka coisas!!
É o que eu digo, tens de largar o academicismo!!!!
É como penso: prefiro o academismo a abrir as entranhas e partilhar com o mundo. Não me parece mais genuíno, parece-me mais estilo diário.
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