É um estranho mundo, meu amigo, demasiado estranho para essa
tua existência, fundamentada por uma ideia diferente, procuras os teus, os que
partilham a tua ideia enquanto eles procuram diferenciar-se de tudo o que os
rodeia até serem únicos e especiais. E sós, indefinidamente sós, são tão únicos
e são tão especiais que por mais que falem, ninguém os compreende.
Tu não estás só, tens os teus, tens consciência (e eles não),
às tantas o teu coração é esvaziado de significado e o deles não, porque não têm
consciência. E esperam de ti o impossível, tens contigo o batimento cardíaco,
pegam-te na mão como se fosses um messias por despertar, como se pudesses
salva-los da desgraça que são, porque é de ti que vem o pulsar da vida. Mas não
os consegues segurar, instantes há em que simplesmente, simplesmente, tens de
descansar e fechar os olhos, tens também uma vida para esventrar o propósito.
E olham-te, depois, quase com rancor, como se fosses egoísta.
Porque, de tempos a tempos, evidencias numa luz clara a tua escolha : tu. Aquilo
que eles não têm. Não podes permitir-te
essa surdez e deixar de ouvir o som de uma folha quando cai num secreto lago,
no silêncio pacífico do teu ser.