Há algo na tua voz que me faz sonhar um mundo melhor, onde a
tua sonoridade não seja tão triste (porque não tem de ser tão triste). Tive,
claro, as minhas guerras com o mundo, as desilusões de uma ideia que não
conseguiu desabrochar. Mas mantive, acima de tudo, uma tensão comigo, entre o
queria ser, o que era e o que desejava ser, o mundo, o mundo funcionava apenas
como reflexo do meu próprio espírito. A guerra contra o mundo sempre foi uma
batalha dentro de mim. Sobrevivi, como vês, porque fechei os olhos para ouvir a minha
própria voz, esquecida no turbilhão do ruído do mundo. Fechei os olhos para ver
melhor o nascimento da cor e, encontrei nesse instante, o som de onde brotou
todo o mundo. Há algo na tua voz que me lembra o meu ser, que ao defender uma perspectiva
vitalista, se esqueceu do drama inerente a uma existência vital. É a tristeza
da tua voz que me faz querer dar-te o Belo, porque é por sua mão que a
realidade ganha uma nova vida, destinada a ser vivida por um novo tempo.
Tiveste, claro, as tuas guerras, as tuas lutas contra um
mundo que não te guarda lugar. Nada guarda lugar nada, nada dá lugar a nada,
tudo é efémero, tudo anseia por algo que não sabe bem o que é. E, há algo na tua voz, que me relembra o
retorno ao uno, ao inicio, ao nascimento do tudo que é um pequeno e minúsculo
detalhe. E isso, isso faz-me sonhar um mundo melhor onde uma onda de azul te inunde
os olhos, demonstrando-te assim, que há sempre tempo se o tempo existir em ti.
Como sempre existiu em mim, não sou um díspar fragmento mundano (e por isso,
sou feliz).
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