Não temos tempo, não temos tempo para nos sentarmos, quietos
e calmos, a ouvir tranquilamente a melodia dar luz às trevas. Não temos tempo
de ouvir a violência de uma trompa que rompe e se sobrepõe a tudo o resto. Não
temos tempo para ouvir e ouvimos durante todo o dia, conversas vazias, o ruídos
urbano. Ouvimos, ouvimos sem ouvir e propagamos a ideia de que ouvimos como se
bastasse apenas uma orelha programada com certas características biológicas
para ouvir. Não ouvimos, não temos tempo.
Nem nunca vamos ter, a efemeridade da vida humana inicia-se
na efemeridade com que o homem se trata a si mesmo. A hierarquização das
prioridades baseia-se na efemeridade, quase numa superficialidade, por isso não
ouvimos, mas gostamos de música e ela está em toda a parte. Não ouvimos mas não
sabemos viver sem musica, que mundo trágico seria esse , um mudo surdo!
Há sempre tempo para ouvir se nossa alma for isso, uma
animação de movimento de tempo, de contraste, de jogos temporais. Musica é
tempo – e, subitamente, não temos tempo para ela em todo o tempo que lhe
dedicamos.
Há sempre tempo para ouvir quando é uma questão de amor,
ouvimos contra vontade, ouvimos em resistência de salvaguarda de um eu que
deixa de importar. Ouvimos porque não conseguimos não ouvir. E, então, ficamos
quietos e calmos, a ouvir tranquilamente a melodia criar um espaço-tempo so
dela onde o impera o tempo musical, finito na infinitude.
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