Monday, October 10, 2011

Reminiscências de uma Morte

(La valse a mille temps) porque a vida é preciso vive-la, não deixaste de existir, não ainda. Não morreste em absoluto concreto, guio-me pela tua melodia que permanece aqui (que imagino eu). Não findaste tudo o que eras nem terminaste tudo o que gostavas de te não ter tornado. Não, não, deixaste algo por fazer, tenho eu as tuas memórias.
(La valse a mille temps), é a tua voz no mais profundo calcário do ser que tenho e que tento que se não perca do teu. É o teu conselho, o teu ensinamento, sempre fui discipulo teu. E ouço-te ainda, a recordar-me da minha juventude , a consciencializar-me de todo o prazer epicurista de viver e de querer ter mais do que uma qualquer existência, tão oferecida à minha essência volátil como foi a inevitabilidade da morte.(não, ensinaste-me a preciosidade metafórica concisa livre da vida) A tua advertência para eu aprender a ser eu, ser inteiro no trilho que escolhi como morte , que escolhi como final de tarde no azul salgado de um verão fresco e quente. A voz que se perdeu no tempo, que se misturou com o vento nocturno cheio de um som cheio de luz.
(La valse a mille temps, Pour que tu aies vingt ans et pour que j'aie vingt ans), no meio do ruído cavernoso da multidão de betão, só aqui estamos nós. A felicidade de viver prenche-me o espirito , sinto-me vivo, sinto-me Homem, quero viver, quero saber morrer. Quero ver o mar, sentir a espuma das ondas a salgar-me as ideias, quero que o sol me aqueça e ilumine a dor para ela não se sentir tão só. Quero imaginar que somos ambos jovens e fingir que tu ainda aqui estas e sentar-me a ouvir-te , quero que não importe que não seja real porque não deixa de ser verdadeiro honesto gesto.
(La valse a mille temps), e tu estás aqui e sinto-me feliz na infelicidade de já não existires, de te ver só quando não sei que te não posso ver. Mas estás aqui, importa pouco que não estejas, estás aqui e sinto-me feliz na miséria que é minha, na miséria que me torna mais Homem porque me define sem limitar o que é viver. Mas estás aqui e o mundo peganhento dúbio sujo de tanta mediocridade inócua a propósito de um enorme vazio humano enfadonho treme, treme à minha chegada porque só me vê a mim mas sou mais do que eu, estás aqui , tu, eternamente, ( la valse a mille temps) e nada pode a opaca negra lamentavel oca multidão com um rosto tão definido no nada que são contra nós. Contra ti. Nunca pode. (Une valse à cent ansune valse ça s'entend , a chaque carrefour)

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