Monday, December 20, 2010

Noite Estrelada II

O calor de uma noite intensamente fria. Sem música, sem som. A ausencia de qualquer coisa é ainda mais tenebrosa que o esguio grito de uma noite estrelada. E aquela noite nunca mais se alongou no tempo, estagnou à espera que a alguem a puxasse do poço onde o esquecimento é maior que outra qualquer coisa. Não, aquela noite é um buraco no tempo, um corte no peito. Porque a vida era demasiado simples, demasiado leve e boémia para sobreviver. Ou para não morrer, estagnada no tempo.
Mas a noite é calorosamente fria, como se o gelo não trespassasse qualquer coisa e o silencio devolve-me uma paz muda que não rasga a pele. Ate o bater do coraçao é mudo, ia jurar que às vezes não bate. Porque está demasiado frio e a noite alcançou-me a essencia. E aquela noite, a outra, nunca mais se vai repetir. Aquele estado de não responsabilidade não poderia durar para sempre. Nada dura para sempre.
Ficou gravada na pele, a tua essencia, ate hoje. Daquela noite que nunca mais se alongou no tempo. Somos outros eus, tao iguais e tao diferentes. A evolução deixou-nos exactamente no mesmo ponto. Como naquela noite, em que nos despedimos; como naquela noite, que é um buraco no tempo porque o calor de Verão não aquecia um frio que se instalara. O fim nunca tem a sua metade de quente.
Mas esta é uma noite fria, calorosamente fria. Porque somos os mesmos eus, perdidos naquela noite que se alongou no tempo. Perdidos naquela noite que durou ate hoje. Ate esta noite, em que o amor assumiu a sua forma de coral. É muda , colorida e ternamente silenciosa.
Afinal, só eu é que morri. Naquela noite em que me sentei à tua espera rejeitando a esperança que tinha do meu regresso. Sim, só eu é que morri.

1 comment:

Professora Lu said...

Ando com minhas emoções a flor da pele, ler um texto desse me faz derramar boas lágrimas...
Beijos,
Lu