Thursday, January 07, 2010

Inevitavel

Ele promete que se vai esforçar por endireitar as coisas. Não consegue evitar sentir a tua falta. Agora que lhe devolveram o coração, apercebe-se que os olhos se tornam mais meigos com a tua memoria; que o sorriso é aberto e doce. Agora que tem de novo o coração vivo no peito chorou a tua morte, sempre foste a sua Eurídice.
Ele não conseguiu evitar desculpar-te . Houve um dia em que se apercebeu que o amavas verdadeiramente, incondicionalmente. Houve um dia que ele compreendeu que o teu erro advinha disso, da tua profunda irracionalidade. E desculpou-se, ele era-te igualmente irracional.
Ele promete que vai tentar compor-te. Que se vai tentar compor a si próprio. Porque, quando lhe devolveram a consciência da emoção, ele não conseguiu evitar sentir a falta de si próprio. Da leveza com que vivia a sua existência, da facilidade com que alcançava o êxtase.
Ele promete que se vai esforçar por melhorar tudo. Se for demasiado tarde, é-lhe ironicamente indiferente. Ele amou-te, algures. E é certo que se desculpou, mas o Orfeu dele morreu com a tua Eurídice. É apenas a vibração estonteante de vencer o destino, é apenas a herança do êxtase que lhe deixaste.
Por favor, não chores. A vida é simplesmente isto. A oportunidade vivida uma e uma única vez. E, lá no fundo, ele está condenado a reviver a tua memoria indefinidamente, terás até ao fim um pedaço do coração dele .

No comments: