Saturday, September 26, 2009

Funeral

O rapaz sentou-se no canto da praia . Amava a arte, de uma forma solitária, só se entregava profundamente ás vezes.
E estava lá sentado, sozinho. Triste. Ignorava se estava acompanhado ou não, era a definição em pessoa do conceito de solidão.
Não que não fosse belo. Exótico. O cabelo vermelho-vivo deixava-se agitar violentamente pelo vento como uma mancha de sangue. Os olhos escuros fitavam o mar fixamente sem lhe prestar atençao, sem o ver. Ele próprio era a metáfora da praia no Inverno, a areia imaculada branca e o mar azul violento e duro. Estava em perfeita sintonia com a natureza envolvente. E era assustador, o seu conceito de belo, de arte em comparaçao com o tamanho da sua tristeza.
O rapaz sentou-se na praia. Só. E o cabelo ruivo agitava violentamente com o vento. Era sangue derramado, uma razao honesta para o cumprir de um luto interior e para o desabrochar de lágrimas cavadas e inexistentes.
Era o funeral dele.

1 comment:

Alice in Wonderland said...

Adorei este texto. De todos os que escreveste ultimamente este é o mais duro e o mais incomodativo e por isso mesmo, o melhor na minha opinião.

E chega a ser impressionista a forma como consigo ver uma mancha vermelha num canto de uma praia azul escura. Uma metáfora perfeita da verdadeira solidão, da tristeza de um funeral interior e de uma arte que de tão profunda só consegue existir por vezes.

Talvez este texto faça muito o meu género.Ou talvez tenhas um enorme talento =P