Mudaste. Tanto. E a tua mudança desiludiu-me.
Que há de errado na mudança? Nada... E mudaste para pior? Que bom que seria se soubesse responder!
A única coisa que sei é que mudaste para longe de mim, para longe de ti. E por isso, desiludiste-me : continuo aqui, imutável, e tu és um camaleão e vagueias por um sítio pequeno que denominas, ingenuamente, Mundo.
As nossas vidas tomaram rumos diferentes, no mesmo tempo e no mesmo espaço, tu seguiste pelo caminho oposto. O ego que partilhávamos separou-se. Dantes, tu eras eu, agora procuro-te incansavelmente na minha essência , mas já não existes . Já partiste. Já mudaste. De mais.
Um só ser originou dois? Ou sempre existiram dois? Se soubesse a resposta...
Mudaste... Para sempre? Não, já não quero saber. Ou talvez queira. Mas que interessa agora? Perdi-me no tempo indefinidamente. Talvez também não seja imutável. Talvez também não me tenhas desiludido, talvez tenha sido um acto inconsciente de te desculpar. Mas, sobretudo, de me desculpar.
A dor, que nunca chegou a existir, acabou. Saíste à procura do selvagem, da novidade e não compreendeste que o que tinhas de procurar eras tu. Não sabes quem és, não sabes o que queres. Eu perdite dentro de mim e tu perdeste-te porque avaliaste mal a situação. A tua balança estava estragada.
Por agora, já é muito tarde para te alertar, para me alertar... E sou assim , Imutável e Mutável. Mas não voltes, não repitas o erro de Orfeu: já é muito tarde para olhares para trás.