O dia foi perfeitamente normal. Agradável, até. Quase que me
dói gostar do hábito. Quase que me envergonho de me ter tornado neste ser, que
tem um trabalho. E que, de certa maneira, cresceu e que já não está contra o
mundo. Não é preciso haver sintonia e muito menos harmonia, apenas, talvez (quem
sabe?) apenas aceitação. De que eu sou como sou enquanto a vida é como é, tudo
é como é… E penso, como me posso habituar aquilo que tanto odiava? Como me
posso habituar aquilo de que tanto fugi?
Talvez fosse preciso tempo. Talvez tivesse de ler, uma outra
vez, o Principezinho, e mais uma, e
mais uma…
Mas ligo a televisão. E houve um atentado. Mais mortos do
que o balanço inicial. Mais crianças cadáveres do que os nossos corações
desejavam memorizar. E não conheço ninguém. Estou bem seguro, aqui, em minha
casa. Nunca me tinha apercebido disso. Mas tantos mortos, que nem conheço… mas tantos mortos, tão inocentes.
Tragédia, é certo. Muito para além de justiça ou injustiça.
E ligo a televisão e houve um atentado. Ouço a tua voz e sei
que todo o silêncio está quebrado embora não ouça som algum. E ligo a televisão
e houve um atentado.
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