É incrivel a arrogância humana, é incrível a minha própria
arrogância. Não é uma arrogância plena e muito menos é uma arrogância
consciente ou intencional. Não, é simples, é lógica, é simplista.
Vejo, hoje, que continuo a ser igualmente arrogante porque
arrogante é o nome que dão à minha forma de ver o mundo. Não acredito que não
precises da solidão quando queres pensar, a única forma de estar sempre junto
de movimento contínuo é necessitar de ruído constante. E se precisas de ruído
constante bem, então, empurras a tua própria voz para debaixo do pulmão ou não tens
voz alguma para empurrar. És oco. Mas eu
tenho e ouço-a, é a minha vivência e a minha sobrevivência, como posso escolher
não ouvir? Tenho de ter momentos em que o único ruído são as ondas do mar a
rebentarem na areia. E dizes: mas estás só. Como te explicar que não estou? Nunca
vais entender, porque não há ruido de fundo e não entendes que ruído não é
música. Não entendes que por mais que me digas o que fazer eu tenho as minha
própria vontade.
Mas como disse, é incrível a minha arrogância. É
absolutamente incrível porque não é arrogância, só quero ter uma vida para
viver como toda a gente. Só não a quero da mesma forma que toda a gente. Tenho
os meus gestos, as minhas ideias, as minhas paixões, as minhas paranoias, as
minhas qualidades, os meus sonhos e não as possibilidades dos outros, as manias
dos outros, os amores dos outros, as idiotices dos outros, as oportunidades dos
outros e as utopias dos outros. E não os consigo vestir.
Também não consegui vestir os teus embora tenha ficado com
algumas das tuas utopias. Espero viver e acarinha-las o suficiente para conseguir
antever como se abre a entrada para esse longo caminho.
Como já disse, é incrível a tua arrogância.
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