Friday, November 28, 2008

Porto Negro

Conheci a cidade antes de te conhecer a ti e por isso o vento foi tão suave e quente como desconhecido. O negro do chão e o escuro dos monumentos definiam o meu amor oculto, a minha possibilidade de paixão inteira e honesta, mas como não existias afundou-se no vazio.
A cidade granítica define-nos, guarda-nos como adornos da sua estranha beleza nocturna, oferece-nos o seu manto de protecção gasto e rasgado.
Conheci-te e, só depois, relembrei a cidade negra com o rio negro e triste . O tempo falhou, nós falhámos, o negro ajeitou-se no coração e não te consigo olhar como dantes.
O vento avisou-me de ti, da tua chegada e da tua mudança no percurso do próprio rio. Mas não te deu nome e tu não existias, foi esquecida pela sua desconexão.
Agora é já tarde. O meu amor afunda-se contigo no rio negro que te corre nas veias. Calçada negra, céu baixo e escuro, rio cavado brilhante e nocturno, meu amor, estamos condenados a gastarmo-nos em segundos vazios e frios.
Inspirado em Adeus, de Eugénio de Andrade

Friday, November 14, 2008

It's all tears

Verdadeiramente, não importa a que nome respondes ou em que ruas deixas a tua marca nocturna. Deixaste a minha pele cicatrizada quando lhe tocaste suavemente com a ponta dos dedos. O sangue que jorrou do corte queimou a flor e guardaste-a na mesma gaveta em que manténs aprisionada a esperança.
Estás à espera que ceda e que os músculos se rasguem. Esperas que a minha revolução muda aconteça e dobre as ondas do mar por ti. Esperas, mas a espera é inconsciente e não vês que já aconteceu: afoguei-me na promessa de que me matarias gentilmente já que perdi o resto da esperança que trazia no sangue.
Perco suavemente o sorriso como uma melodia baixa que se arrasta num ritmo agradável. O amor é isto, o coração que já perdi, o sangue que ficou sem cor, a paixão que tento mortalmente ignorar. Enrola-me nos teus braços, resume-se tudo a lágrimas.

Saturday, November 01, 2008

Aviso

Admite que não existe tempo inútil, admite quem nem a tua gota de suor mais discreta é despediçável. És efémero, és frágil, és imperfeito e estás vivo. A tua única certeza é que a fracção de segundo que já passou é inalterável.
Não perguntes porquê, esquece a guerra vazia, abandona o exército que já está condenado. Não vale a pena (talvez a alma seja, afinal, pequena). Morrerás ainda nesta era e o vento dispersará as tuas cinzas; deserta da batalha, já não acreditas como antigamente, o brilho da constelação encaminhou-te para outro trilho, ganhaste outra crença.
O relógio é uma má metáfora do tempo quando fica preso a uma hora certa. Não existe segundos nem para pensares sobre a hesitação.
Não há lugar para o desperdício. Enquanto viveres.