Sentado na velha cadeira, olhava o mundo que ultrapassava as suas grades sem interesse , curiosidade ou mesmo esperança. Apesar do rosto ser jovem , o espírito era envelhecido e cheio de rugas , como um idoso. Não era capaz de identificar a altura em que tinha ficado velho e rugoso; tudo o que era capaz de lembrar era a sua desistência pela vida.
A cadeira balançou e chiou e ele próprio deixou escapar uma emoção ao ver um grupo de amigos ás gargalhadas. Recordou-se lentamente de quando era assim jovial, feliz, risonho, um pouco inconsciente …
Relembrou depois, muito convictamente, a sua vida com os avós (vivera com os avós porque os pais tinham morrido num acidente de carro por culpa de um bêbado qualquer), da morte do avô , da ida da avó para um lar e da rapariga que o abandonou por um norueguês; de como tinha perdido a confiança nos outros seres humanos e de como isso dera cabe de si.
Suspirou .E o seu suspiro foi tudo o que foi humano na figura jazida na cadeira de baloiço.
Perdera tudo… perdera a imaginação, a esperança, os seus ideais e as suas metas…até a capacidade de amar - o próximo ou a ele próprio.
Apesar da sua vida inteira ter sido um quadro cinzento, a grande culpa da morte era sua. O facto de não ter tido capacidade de sorrir quando tudo merecia uma lágrima fazia dele um suicida.
Que era feito do seu desespero? Já nem isso sentia… mas não estava perante o fim…estava perante o princípio do fim... não, já não era humano (há quanto tempo já não o era?)
Num impulso lamentou não ter lutado, não ter tentado sobreviver aos obstáculos da vida; lamentou não ter pintado a vida de azul…
Suspirou outra vez e deixou, de novo, o corpo cair na cadeira. Fechou os olhos e já nem o barulho que os jovens faziam lá fora o intimidava.Estava (agora tinha a certeza que estava)definitivamente morto, com os olhos encerrados para as pessoas, para o mundo e para si próprio. Tudo o que agora existia eram as grades feitas do vazio da sua alma.
Novembro 2005
3 comments:
Absolutamente arrepiante e triste. Infelizmente, absolutamente verdadeiro.
Beijos, prodígio ;)
Podes n acreditar mas quando o escrevi, pensei em ti.Nao por seres arrepiante e triste, mas por teres sensiblidade suficiente para saber quao dura as vezes e a vida.
Tambem tenho muito orgulho em ti Pan!=));)
Não podia estar mais de acordo com a Alice. Este post está lindo.. e bem real, infelizmente.
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