Saturday, November 17, 2007

A Moeda

A moeda foi atirada ao ar. Desta vez, a face que ficou voltada para cima foi a mais sombria, a mais temida. A que caminha sempre a nosso lado, erguendo , por vezes, os braços no gesto de nos amparar quando escorregamos
Um grande erro é acreditar-se que a moeda está estavelmente voltada para cima e que, no instante último e biológico, ela roda trezentos e sessenta graus. A qualquer altura pode mexer-se, é semi-autónoma.
E, desta vez, foi o que aconteceu: na moeda apareceu Hades, ou então, o mais temível, não apareceu nada. O lugar vazio para onde nem o nada se dirige. O desconhecido mais radical, mais solitário. Confuso. O golpe mais duro na existência humana, na conquista humana. Nunca se é nada durante a vida e nunca, se é alguma coisa de concreto, quando a Natureza termina o nosso trabalho no mundo.
Sim, desta vez a face era assustadora. Tão terrível na sua grandeza, no seu poder , tão redutora do Homem emocional que é através dela que surgem todos os nossos maiores medos. E é, no entanto, a única certeza absoluta neste Universo Colectivo que se divide em vários eus; das únicas verdades Universais comuns à vida, seja ela qual for.
O Homem , verdadeiramente, não gosta de verdades irrefutáveis. E moedas são sempre, só, moedas. Fora isso, o Grande Juiz - imaginário ou não- já foi enfrentado...

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